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Chapter 8 - Descanso em Família.

Durante a semana de descanso — merecida, devo admitir — continuei dedicando-me aos estudos, mesmo longe da mansão de Margareth. Como ainda não dominava completamente a leitura deste mundo, minha mãe, que aparentemente sentia profundamente minha ausência cotidiana, tomou para si a tarefa de me ensinar as letras, palavras e regras de ortografia do idioma local.

— Nunca imaginei que ela fosse tão talentosa no ensino — refleti silenciosamente, observando sua paciência e método.

Contemplar o semblante radiante de felicidade que ela exibia ao me instruir provocava em mim um misto de alegria e melancolia, pois tornava-se evidente quanto tempo eu perdia ao passar a maior parte dos meus dias na residência da Mestra Margareth, privando-me da convivência familiar. Embora compreendesse que meus pais, assim como eu, desejavam que eu aprendesse a dominar as artes arcanas, era inegável que minha mãe ansiava por mais momentos comigo, com Vivian e com meu pai.

Enquanto a observava com atenção durante uma de nossas lições, uma curiosidade genuína surgiu em minha mente: como teria sido o encontro entre ela e meu pai? Então, assumindo a inocência própria da criança que meu corpo representava — ainda que minha consciência fosse muito além disso —, perguntei com naturalidade:

— Mãe, como a senhora conheceu o papai?

Curiosamente, mesmo em minha vida anterior, quando já contava com dezenove anos — antes do trágico fim que me trouxe a este mundo —, em diversos momentos em que me dirigia ao meu pai biológico, utilizava o termo afetuoso “papai”. Assim, não me soou estranho empregar a mesma expressão agora.

Ela interrompeu delicadamente a amamentação de Vivian — que, com apenas alguns meses de vida, ainda dependia inteiramente de seus cuidados —, acomodou-a com ternura em uma pequena cesta onde a bebê adormeceu quase instantaneamente, parecendo um pequeno ser celestial, e voltou-se para mim com um sorriso que transbordava reminiscências amorosas:

— Nos conhecemos quando eu tinha apenas doze anos, durante um baile organizado especialmente para famílias de cavaleiros — ela fez uma breve pausa reflexiva antes de prosseguir: — Nunca mencionamos para você que ambos descendemos de linhagens de cavaleiros, não é mesmo? Bem, na hierarquia nobiliárquica, eles ocupam uma posição inferior aos baronetes, o que explica por que raramente são convidados para os eventos da alta nobreza.

Ela enfatizou a palavra “nobres” fazendo um gesto de aspas com os dedos, revelando certo desdém pela rigidez das convenções sociais, antes de retornar ao tema principal de sua narrativa.

“Preciso indagar meu pai sobre essas questões hierárquicas mais tarde”, anotei mentalmente.

— Naquela ocasião específica, organizou-se uma espécie de competição entre os jovens presentes para determinar quem teria o privilégio de convidar as moças para um passeio. Foi precisamente nesse contexto que seu pai e eu trocamos olhares pela primeira vez. Ele já contava dezessete anos à época, idade em que normalmente já estaria comprometido com alguma pretendente — ela interrompeu momentaneamente sua narrativa, com expressão nostálgica e um sorriso discreto desenhado no canto dos lábios, antes de continuar:

— Foram apenas dois olhares significativos que trocamos. O primeiro ocorreu no instante em que ele adentrou o salão e nossos olhos se encontraram casualmente. Senti meu coração juvenil acelerar involuntariamente, pois ele possuía uma beleza notável. Seu pai apresentava uma compleição física robusta, com cabelos que alcançavam os ombros, embora os mantivesse disciplinadamente presos em um rabo de cavalo.

— O segundo olhar decisivo — prosseguiu ela, com um brilho especial iluminando seus olhos — aconteceu quando ele me avistou rindo descontraidamente com uma das outras jovens presentes. Foi nesse preciso momento que ele tomou a decisão de participar da competição.

Ela emitiu uma risada suave e contida, cobrindo os lábios com delicadeza, como se momentaneamente tivesse retornado àquela fase inocente de sua vida.

— Ele era visivelmente desajeitado, compreende? Nada tinha da galanteria refinada que caracterizava os filhos de duques ou condes. Entretanto, havia algo singular... algo especial que se manifestava através de seu olhar. Uma determinação inabalável. Embora tenha sido derrotado na competição, ele demonstrou coragem ao aproximar-se de mim posteriormente. Declarou que considerava inadequado disputar o direito de convidar alguém sem ao menos verificar se a pessoa em questão desejava ser convidada.

Ela inspirou profundamente, com o olhar perdido em memórias distantes.

— Aquela atitude me cativou completamente. Representou a primeira ocasião em que alguém demonstrou interesse genuíno por mim como pessoa, e não meramente pelo que eu simbolizava socialmente.

Aproximando-se com ternura, ela deslizou os dedos suavemente por meus cabelos e sorriu novamente, agora com aquela expressão maternal que me aquecia o coração.

— E bem... o restante da história seguiu seu curso natural. Mantivemos correspondência por vários anos. Ele conquistou legitimamente o título de cavaleiro e, quando completei quinze anos, formalizou seu pedido de casamento.

— E seus pais consentiram prontamente? — indaguei, genuinamente interessado.

Ela respondeu com uma risada espontânea, como se minha pergunta revelasse uma ingenuidade encantadora.

— Absolutamente não! Meu pai reagiu com indignação! Declarou categoricamente que jamais permitiria que um simples cavaleiro sem título nobiliárquico superior obtivesse minha mão. Contudo... o destino interveio quando a guerra contra o Reino de Alafia eclodiu inesperadamente. Seu avô paterno pereceu no conflito, e Lucius, por seus méritos, conquistou o respeitável título de Baronete Arcano, recebendo este feudo como recompensa por seus serviços. Diante dessa nova realidade, meu pai não encontrou mais argumentos para recusar, considerando que mesmo um Baronete Arcano ocupa posição hierárquica superior a uma casa de Cavaleiros tradicionais.

“Baronete Arcano... Preciso definitivamente questionar meu pai sobre esse título específico mais tarde”, registrei mentalmente.

Ela me dirigiu uma piscadela cúmplice, como quem compartilha uma confidência preciosa.

— Mas confesso um segredo: mesmo que ele não tivesse obtido o título nobiliárquico... eu teria fugido com ele sem hesitação. De olhos completamente fechados, confiando apenas em meu coração.

Prosseguimos nossa conversa por mais algum tempo, até que o momento do almoço se aproximou.

Lucius, que retornou à residência nesse horário, apresentava uma expressão visivelmente abatida. Percebendo sua inquietação, minha mãe questionou-o sobre seu bem-estar. Ele limitou-se a assentir brevemente com a cabeça, afirmando estar tudo em ordem.

“Posso discernir claramente que ele está ocultando algo, mas não há muito que eu possa fazer neste momento”, refleti internamente.

Na tentativa de amenizar a atmosfera tensa, sugeri que ele me conduzisse até a vila pertencente ao nosso feudo, local que eu ainda não tivera oportunidade de conhecer.

Ele me fitou brevemente e respondeu com um lacônico “sim” — notavelmente desprovido de entusiasmo.

Evidentemente, algum acontecimento preocupante ocorrera no feudo, e ele deliberadamente evitava compartilhá-lo para não transmitir sua inquietação à minha mãe.

★★★

Após concluirmos a refeição, nossa pequena família — eu, meu pai, minha mãe e minha irmã — dirigimo-nos à vila, que se localizava a aproximadamente quinhentos metros de nossa residência senhorial.

A propósito, a mansão da Mestra Margareth situa-se consideravelmente mais distante. E, para ser completamente franco, ainda não compreendo plenamente por qual razão ela possui uma propriedade tão imponente em terras que, tecnicamente, pertencem à jurisdição de nosso feudo.

Ao adentrarmos os limites da vila, a realidade da pobreza local tornou-se imediatamente evidente. Segundo minha estimativa aproximada, a população não deveria exceder quatrocentos habitantes.

As habitações eram construídas predominantemente com barro e madeira, e os telhados, em sua maioria, eram recobertos com palha seca. Diversos aromas permeavam o ambiente: o reconfortante cheiro de pão recém-assado, a fumaça das lareiras... e também o inconfundível odor de estrume equino.

No ponto central da vila erguia-se uma modesta igreja, ao redor da qual as residências se organizavam em círculos concêntricos. Alguns comerciantes locais ofereciam seus produtos diretamente nas vias públicas, enquanto, na periferia do povoado, fluía um rio de águas relativamente claras — fonte essencial para o abastecimento de água potável e higiene dos moradores.

“Exatamente como uma autêntica vila medieval”, observei mentalmente, estabelecendo paralelos com meus conhecimentos históricos da vida anterior.

Prosseguimos nossa caminhada até alcançarmos uma pequena padaria local. Meu pai indagou se eu desejava alguma iguaria. Declinei educadamente. Ele então estendeu a mesma cortesia à minha mãe, que aceitou um doce tradicional.

Pouco tempo depois, um homem de idade avançada aproximou-se para dialogar com meu pai. Sua aparência e indumentária eram visivelmente superiores às dos demais habitantes — seria ele um próspero comerciante? Ou talvez um proprietário de terras?

Como se houvesse percebido minha curiosidade silenciosa, meu pai esclareceu:

— Elian, apresento-lhe Omar, o respeitado líder desta vila.

Cumprimentei-o com a deferência apropriada.

Conforme mencionei anteriormente, Omar trajava vestimentas notavelmente mais cuidadas. Suas roupas apresentavam-se limpas e bem conservadas, em contraste com a aparência geral dos demais moradores. Estimei que tivesse aproximadamente sessenta anos, possivelmente mais.

Após retribuir minha saudação, ele voltou-se para meu pai com expressão preocupada:

— Senhor Lucius, conforme relatei esta manhã, enfrentamos um problema sanitário significativo. Nossos trabalhadores estão adoecendo em número crescente, e ainda não identificamos a causa precisa desta enfermidade.

Ah, então era esta a fonte da preocupação que meu pai demonstrara anteriormente.

Lucius observou-o com semblante grave e inquiriu:

— Esta situação pode comprometer nossas reservas alimentares para o período invernal?

— Dependerá da evolução do quadro. Se o número de enfermos continuar aumentando, certamente haverá impacto considerável.

Lucius passou a mão pelos cabelos num gesto característico de ansiedade — evidentemente, a situação o preocupava profundamente.

Neste momento, minha mãe interveio com uma pergunta pertinente:

— Quais sintomas estes trabalhadores estão manifestando, Lucius?

Ele dirigiu um olhar a Omar, solicitando silenciosamente que este fornecesse os detalhes específicos.

— Senhora Maria, os acometidos apresentam dores abdominais intensas, estados febris, episódios de êmese... encontram-se impossibilitados de alimentar-se adequadamente. Consequentemente, perdem a vitalidade necessária para as atividades agrícolas, para a construção das represas e demais trabalhos essenciais. Esta situação ameaça não apenas nossas reservas alimentares, mas também a arrecadação tributária prevista. — Omar suspirou pesadamente antes de prosseguir: — Nossa comunidade já sofre com a escassez de jovens, comparativamente ao passado. Se os membros mais idosos também começarem a manifestar os mesmos sintomas, as consequências poderão ser verdadeiramente graves.

Aquele conjunto de sintomas — dores gástricas, febre, vômitos, debilidade generalizada — era-me extremamente familiar de minha existência anterior. Seria possível tratar-se de uma infecção viral?

Após alguns instantes de reflexão, dirigi-me a meu pai:

— Pai, tive acesso a informações sobre esta condição em alguns livros médicos na biblioteca da Mestra Margareth. Acredito que esta enfermidade corresponda ao que denominamos virose.

Ele me fitou com evidente surpresa, o que me encorajou a prosseguir:

— Segundo os textos consultados, existem determinadas ervas medicinais que auxiliam significativamente no tratamento. Elas proporcionam alívio sintomático e podem acelerar o processo de recuperação.

— E quais seriam estas ervas específicas? — indagou Omar, demonstrando interesse imediato.

Voltei-me para ele e respondi com segurança:

— Gengibre, hortelã, camomila e limão possuem propriedades terapêuticas adequadas para este caso.

— Hortelã, camomila e limão são cultivados em nosso feudo... — murmurou Omar pensativamente. — E qual seria o método de preparo recomendado?

— Prepara-se uma infusão. É imperativo que seja servida quente, jamais fria — expliquei metodicamente. — Adicionalmente, como medida preventiva contra novas contaminações, é fundamental ferver a água antes do consumo. — Fiz uma breve pausa para enfatizar o próximo ponto: — Também é essencial que os enfermos observem um período mínimo de oito horas de sono diário e mantenham-se em repouso absoluto por cinco dias, abstendo-se de qualquer atividade laboral. O organismo necessita deste período de recuperação.

Omar assentiu com expressão de gratidão, agradeceu formalmente, despediu-se de meu pai e retirou-se, presumivelmente para implementar as medidas sugeridas com a maior brevidade possível.

Prosseguimos nosso passeio pela vila, explorando alguns outros setores, antes de empreendermos o retorno à nossa residência.

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