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Chapter 40 - Sombras do Passado, Tempestades do Futuro.

Um entardecer tempestuoso envolvia o feudo Freimann quando a carruagem de Lucius, Baronete Arcano, finalmente cruzou os portões. Dois meses. Dois longos e árduos meses haviam se passado desde sua partida para a capital, Velunor. A viagem de volta fora igualmente tensa, sob um céu que parecia refletir a escuridão que se avolumava sobre o reino. Seu rosto, antes marcado apenas pela preocupação de um líder, agora carregava um vinco mais profundo, um endurecimento nos traços que falava de conselhos tensos e verdades amargas. As mãos que seguravam as rédeas imaginárias, mesmo dentro da carruagem, pareciam mais calosas, e seus olhos, sempre atentos, agora possuíam uma vigilância ainda mais aguçada.

Ao seu lado, desmontando de um cavalo robusto com a agilidade de uma guerreira experiente, estava uma figura que poucos no feudo Freimann reconheceriam. Alta, com cabelos escuros trançados firmemente e olhos penetrantes da cor do gelo antigo, ela se apresentou como Iria Talvek. Sua armadura leve de couro batido e a espada embainhada em suas costas não deixavam dúvidas sobre sua capacidade, mas era a aura de poder arcano controlado que emanava dela que realmente chamava a atenção. Enviada pela Torre Branca, a mais alta instituição de estudos arcanos do reino, sua missão oficial era investigar os incidentes com bestas alteradas e as misteriosas runas desconhecidas que haviam surgido. Contudo, em uma conversa particular com Lucius durante a viagem, ela mencionara ter aceitado um pedido paralelo do Diretor da Academia Arcana Real: observar discretamente o jovem Elian Freimann, cujos registros e potencial haviam intrigado profundamente os mestres arcanos.

A reunião familiar que se seguiu ao desembarque de Lucius foi reservada, realizada no estudo particular do Baronete, longe de ouvidos curiosos. Maria o abraçou com força, um alívio palpável em seu toque, mas a preocupação não deixou seus olhos. Margareth Lindemberg, observava com sua postura régia, aguardando o relatório.

Lucius não mediu palavras. As notícias da capital eram preocupantes. O Conselho Arcano estava dividido, facções se formando em meio ao medo e à incerteza. Estranhos movimentos militares eram relatados nas fronteiras do reino, especialmente em regiões antes consideradas pacíficas e estáveis. A corrupção arcana não era um fenômeno isolado; espalhava-se como uma praga silenciosa.

Então, Lucius colocou sobre a mesa um pequeno pacote envolto em couro oleado. Com cuidado, desembrulhou seu conteúdo, revelando dois itens que fizeram Margareth e Iria se inclinarem para observar mais de perto. O primeiro era um fragmento de mapa antigo, desenhado em um tipo de pergaminho quebradiço, com inscrições em uma língua morta que Margareth reconheceu como pertencente a uma seita extremista desaparecida há séculos – a Ordo Umbrae. O segundo era um pedaço de cristal escurecido, quase negro, que pulsava com uma energia fria e maligna. Lucius explicou que o encontrara em um mercado clandestino na capital, vendido como uma “curiosidade exótica”, mas sua intuição arcana lhe dizia que era algo muito mais sinistro.

— A Ordo Umbrae… — murmurou Margareth, seus olhos fixos no mapa. — Pensei que tivessem sido erradicados. Seus rituais eram profanos, buscavam poder através da corrupção da própria essência da vida.

Iria Talvek pegou o fragmento de cristal com a ponta dos dedos, uma luva fina protegendo sua pele. Seus olhos se estreitaram.

— Este cristal… a energia que emana dele é semelhante à que encontramos nos locais onde as bestas foram alteradas — disse ela, sua voz calma, mas firme. — Parece ser um catalisador, ou talvez um resquício de um ritual de corrupção em larga escala.

O ar no estudo ficou pesado. As peças do quebra-cabeça começavam a se encaixar, formando uma imagem aterradora.

Quatro anos. Quatro longos anos haviam se passado desde o retorno de meu pai da capital e o início formal de meu treinamento intensivo com minha bisavó Margareth. Eu tinha agora dez anos, e embora meu corpo ainda fosse franzino comparado aos outros garotos de minha idade, carregava uma firmeza e um vigor que surpreendiam até mesmo minha implacável mestra. Os dois primeiros anos após a partida de meu pai para a capital foram relativamente tranquilos no que diz respeito a incidentes com bestas alteradas em nosso feudo. Houve alguns casos isolados, distantes, mas nada que se comparasse ao ataque do Vermiscarro. Foi um tempo de paz precária, uma calmaria antes da tempestade que todos sentíamos que se aproximava.

Durante esses quatro anos, mergulhei de cabeça no treinamento. O Cristal de Fluxo, antes meu algoz, tornara-se uma extensão de minha vontade. Aprendi a intercalar feitiços com um gasto mínimo de energia e, crucialmente, de Força Vital. A dor e a exaustão ainda eram companheiras constantes, mas agora eu as entendia, sabia como navegar por elas.

O marco mais significativo desse período foi, sem dúvida, a elevação de minha Runa. De Centelha para Chama. Minha bisavó me avisara que seria um processo intenso, mas nada poderia ter me preparado para a realidade. Aconteceu durante uma meditação profunda, enquanto eu tentava purificar e expandir meu núcleo arcano. Senti como se algo em meu esterno, onde a Runa residia, estivesse se quebrando, estilhaçando-se em mil pedaços, apenas para ser reconstruído à força, em uma forma nova e mais poderosa, e então quebrar novamente. A dor era excruciante, uma agonia que parecia queimar minha alma. Durou apenas cinco minutos, segundo minha bisavó, mas para mim, pareceu uma eternidade suspensa no sofrimento. Todos os arcanistas passavam por isso em algum grau ao elevarem suas Runas, mas minha bisavó e meus pais concordaram que minha experiência fora particularmente violenta. A preocupação em seus olhos era evidente, especialmente nos de Margareth, que me observava com uma intensidade que misturava orgulho e um temor sombrio.

Superar essa provação, contudo, trouxe recompensas. Com a Runa de Chama pulsando na minha mão esquerda, senti um aumento significativo em meu poder e controle. O refino de minha energia e o aprendizado sobre o uso consciente da Força Vital me permitiram explorar minhas afinidades de maneiras novas e mais complexas.

O “Arcus Ignis”, meu arco de fogo, tornou-se uma arma formidável. Agora, eu conseguia infundi-lo com minha afinidade com o ar, criando um vórtex de vento ao redor da flecha flamejante. O resultado era uma seta de fogo acelerada pela pressão do ar, capaz de penetrar defesas com uma força e velocidade surpreendentes, um efeito devastador que combinava a fúria do fogo com a precisão cortante do vento.

Também dominei o uso rápido e estratégico do “Tumulus Terrae”, erguendo barreiras de terra ou prendendo os pés de oponentes com um simples gesto. O “Murum Ignis” se tornou uma barreira defensiva confiável, capaz de repelir ataques físicos e arcanos de baixo nível. E minhas “Lancea Ignis” e “Lancea Petrae” eram agora projéteis velozes e precisos, que eu podia conjurar em rápida sucessão. Meu treinamento com a espada, sob a tutela de meu pai e dos instrutores de nossa guarda, também continuou, buscando a fluidez entre o combate físico e a manifestação arcana.

Em um fim de semana festivo, marcado pela celebração da colheita, recebemos a visita da família Stein. Era sempre uma alegria tê-los conosco, e a amizade entre nossas famílias parecia se fortalecer a cada encontro. O Conde Albert e a Condessa Elisabeth discutiam longamente com meus pais sobre a segurança dos feudos e as notícias preocupantes que chegavam de todas as partes do reino. Mas para mim, o ponto alto da visita era a presença de Belle.

Com doze anos agora, Belle havia se transformado. A timidez de antes dera lugar a uma determinação feroz que brilhava em seus olhos âmbar. Sua espada curta, um presente de seu pai, raramente deixava sua cintura, e ela se movia com a confiança de quem já conhecia o peso do aço e o calor da batalha. Seu cabelo vermelho, antes preso em tranças infantis, agora caía livre sobre seus ombros, conferindo-lhe um ar quase selvagem.

Assim que chegou, Belle me puxou para o pátio de treinamento.

— Elian! Ouvi dizer que você ficou muito mais forte! — disse ela, com um sorriso desafiador. — Que tal uma “batalha de demonstração”? Nossos pais podem supervisionar!

Eu ri. A energia de Belle era contagiante.

— Você não perde tempo, não é? Mas aceito o desafio.

Sob o olhar atento de nossos pais e de minha bisavó, cruzamos lâminas. Belle era incrivelmente rápida e ágil. Sua afinidade com o fogo, uma herança de sua linhagem, manifestava-se em cortes flamejantes e pequenas explosões de raio – a arte divergente do fogo que os Stein dominavam. Ela havia aprimorado muito seu Corpus Fulminis, e as ondas de choque elétrico que ela liberava eram potentes o suficiente para me fazer recuar várias vezes. Eu, por minha vez, usei minha espada em conjunto com meus feitiços, bloqueando seus ataques com escudos de terra, desviando com lufadas de vento e contra-atacando com lanças de fogo e pedra. Dei trabalho a ela, mas sua ferocidade e a imprevisibilidade de seus raios eram um desafio constante. No final, após uma troca particularmente intensa de golpes e feitiços, nossos pais declararam um empate, para nosso mútuo desapontamento e orgulho.

Vivian, que agora tinha oito anos, observava tudo com olhos arregalados, agarrada à saia de nossa mãe. Ela admirava a espada de Belle e os clarões de nossa pequena batalha, mas permanecia uma observadora discreta, sua curiosidade ainda velada por uma natureza mais reservada. Seus poderes da Runa Bruma haviam se manifestado algumas vezes desde o incidente no lago, pequenas névoas que surgiam quando ela estava assustada ou muito concentrada, mas minha bisavó a orientava com gentileza, sem pressioná-la.

Mais tarde, enquanto os adultos conversavam na biblioteca, Belle me encontrou no jardim.

— Elian — começou ela, em voz baixa, olhando ao redor para se certificar de que estávamos sozinhos. — Ouvi alguns viajantes comentando na estalagem do vilarejo. Falaram sobre ruídos estranhos vindo da velha capela abandonada na floresta, perto da estrada principal. Dizem que são como... sussurros e arranhões.

Senti um arrepio. A velha capela era um lugar que evitávamos, considerado mal assombrado por alguns.

— E o que você está pensando? — perguntei, embora já suspeitasse da resposta.

Seus olhos ambar brilharam com excitação.

— Estou pensando que deveríamos investigar. O que você acha? Uma pequena aventura, como nos velhos tempos, antes de todo esse treinamento sério.

Hesitei por um momento. Sabia que era arriscado e que nossos pais jamais permitiriam. Mas a ideia de uma aventura com Belle, a chance de testar minhas habilidades em uma situação real, sem a supervisão constante de minha bisavó, era tentadora.

— Tudo bem — concordei, com um sorriso cúmplice. — Mas não vamos contar a ninguém.

Naquela mesma noite, enquanto o vilarejo central do feudo se preparava para dormir sob a luz bruxuleante das tochas e o brilho prateado da lua, a terra tremeu. Não foi um tremor forte, mas o suficiente para sacudir as janelas e fazer os cães latirem em alerta. Segundos depois, um grito rasgou o silêncio da noite, seguido por outros, uma cacofonia de pânico e terror.

Eu e Belle, que havíamos escapulido da mansão com a desculpa de observar as estrelas, estávamos nos aproximando da velha capela abandonada quando ouvimos os gritos vindos da direção do vilarejo. Trocamos um olhar alarmado e, sem hesitar, corremos em direção ao caos.

Ao chegarmos à praça principal, a cena era aterradora. Criaturas deformadas, diferentes de tudo que eu já vira, emergiam das sombras entre as casas. Eram humanoides, mas suas peles pareciam rachadas e doentes, com espinhos de osso negro projetando-se de suas costas e ombros. Seus olhos brilhavam com uma luz vermelha maligna, e suas bocas gotejantes revelavam dentes afiados como navalhas.

Meu pai e o Conde Albert já estavam lá, posicionados na linha de frente, protegendo os aldeões que corriam para se abrigar. Meu pai, Lucius, empunhava sua espada longa, a lâmina envolta em chamas crepitantes. Com um grito de guerra, ele ativou seu feitiço de aprimoramento físico, “Corporalis Elevatio”. Senti a onda de poder emanar dele, seus músculos parecendo inchar sob a armadura leve, seus movimentos tornando-se incrivelmente rápidos e precisos. Cada golpe de sua espada flamejante emitia um clarão intenso, afastando as criaturas.

Ao seu lado, o Conde Albert fincou sua própria lâmina no solo. Uma aura elétrica crepitou ao seu redor enquanto ele conjurava o “Corpus Fulminis”. Raios serpenteantes de pura energia amarela percorreram o chão em ziguezagues, atingindo múltiplas criaturas simultaneamente, fazendo-as uivar de dor e recuar.

— Pai! Conde Albert! — gritei, enquanto eu e Belle nos aproximávamos correndo.

— Elian! Belle! O que estão fazendo aqui? Recuem! — ordenou meu pai, sem tirar os olhos das criaturas.

Mas não havia tempo para recuar. Uma das bestas, maior e mais grotesca que as outras, estava prestes a atingir uma criança que tropeçara e caíra. Agi por instinto. Com um movimento rápido das mãos, conjurei “Tumulus Terrae”. O chão sob as patas da criatura se ergueu abruptamente, prendendo-a e desequilibrando-a por um instante crucial. Em seguida, ergui um “Murum Ignis” ao redor de um grupo de aldeões feridos que estavam encurralados perto da fonte da praça, criando uma barreira de fogo protetora.

— Belle, cubra meu flanco! — gritei, enquanto preparava meu “Arcus Ignis”.

Concentrei o vento ao redor da flecha de fogo, como minha bisavó me ensinara. O projétil flamejante disparou com uma velocidade incrível, assobiando pelo ar antes de atingir uma das criaturas menores no peito, atravessando sua carapaça quitinosa e fazendo-a explodir em uma chuva de faíscas negras.

Belle era uma visão em movimento. Sua espada, envolta em chamas e eletricidade, dançava ao seu redor enquanto ela girava com uma agilidade impressionante. Ela alternava entre cortes rápidos que deixavam rastros de fogo e ondas de impacto elétrico que mantinham as criaturas à distância, protegendo os aldeões que tentavam fugir.

Observei meu pai e o Conde Albert lutando lado a lado, suas artes arcanas se complementando. Vi como eles infundiam suas espadas com seus respectivos elementos, tornando cada golpe uma extensão de seu poder arcano. E, pela primeira vez, uma ideia ousada surgiu em minha mente. E se eu pudesse fazer o mesmo? E se eu pudesse carregar minha própria lâmina com um vestígio da “Fulmínea da Ira Ígnea”?

Concentrei-me, puxando a energia de minhas três afinidades, tentando canalizá-la para a espada que eu empunhava. A lâmina começou a chiar, um brilho azulado e instável percorrendo o metal. Senti a pressão imensa, a energia querendo escapar, descontrolada. Por um instante, a espada brilhou com uma intensidade assustadora, mas o feitiço se dissipou antes que eu pudesse estabilizá-lo, deixando-me ofegante e com a mão formigando.

Foi nesse momento que minha bisavó Margareth e Iria Talvek chegaram, suas presenças imponentes mudando a dinâmica da batalha. Margareth, com um único gesto, congelou várias criaturas em pleno movimento, seus feitiços de gelo formando esculturas macabras. Iria, desembainhando sua espada, moveu-se com uma velocidade e precisão letais, cada golpe encontrando um ponto vital, seus movimentos fluidos e econômicos. Juntas, elas completaram o cerco às bestas restantes, e em pouco tempo, a praça estava silenciosa, exceto pelos gemidos dos feridos e o crepitar das últimas chamas.

Após o combate, o vilarejo mergulhou em uma atividade febril. Os feridos foram rapidamente atendidos por minha mãe que usava uma arte de cura e outras mulheres com conhecimento em ervas curativas, enquanto Iria Talvek, com uma calma surpreendente, aplicava bandagens e usava pequenos feitiços de cura para estancar sangramentos mais graves. Minha bisavó Margareth supervisionava a criação de barreiras rúnicas temporárias ao redor do vilarejo, suas mãos traçando símbolos de proteção no ar que se fixavam nas paredes das casas e nos portões com um brilho azulado.

Quando a situação imediata foi controlada, meu pai e o Conde Albert se viraram para mim e para Belle. Seus rostos estavam sujos de fuligem e sangue de criatura, mas seus olhos eram severos.

— Elian. Belle — começou meu pai, sua voz baixa, mas carregada de uma autoridade que não admitia réplica. — O que vocês dois pensavam que estavam fazendo aqui? Desobedeceram ordens diretas e se colocaram em perigo mortal. E colocaram outros em risco.

Belle abaixou a cabeça, seus ombros curvados. Eu também senti o peso da repreensão.

— Nós só queríamos ajudar — murmurei, mas sabia que não era desculpa suficiente.

— Ajudar? — interveio o Conde Albert, sua voz igualmente dura. — Vocês são crianças! Talentosas, sem dúvida, mas ainda crianças. Esta não é uma brincadeira, nem uma demonstração de habilidades. Pessoas poderiam ter morrido por causa da impulsividade de vocês.

Minha bisavó se aproximou, seus olhos fixos em mim.

— A coragem não é negar o medo, menino — disse ela, sua voz mais calma, mas não menos incisiva. — É saber quando usá-lo como freio. Você tem poder, Elian, mas ainda lhe falta o discernimento para usá-lo com sabedoria em momentos de crise. Aprenda essa lição, ou ela lhe custará caro um dia.

Apesar da bronca severa, eu sabia que havia um fundo de verdade em suas palavras. E, no fundo, senti um pequeno brilho de orgulho ao ver o respeito relutante nos olhos de meu pai e do Conde Albert. Tínhamos sido imprudentes, sim, mas também havíamos lutado, havíamos protegido inocentes. Era inegável o valor que ambos, eu e Belle, havíamos demonstrado no calor da batalha.

Iria Talvek, que observara toda a interação em silêncio, anotava detalhes em um pequeno caderno de couro, seus olhos azuis percorrendo de mim para Belle, e depois para as criaturas caídas. Ela não disse nada, mas eu tive a sensação de que suas impressões seriam registradas em um relatório muito mais detalhado, enviado diretamente para a Torre Branca e, talvez, para o Diretor da Academia.

Enquanto os guardas começavam a remover os corpos das criaturas, uma delas, a maior, aquela que eu havia prendido com o “Tumulus Terrae”, chamou a atenção de Iria. Ela se ajoelhou ao lado do cadáver e, com a ponta de uma adaga, raspou algo de sua pele quitinosa enegrecida. Era uma marca, um símbolo gravado ou queimado na criatura. Um círculo com três linhas curvas em seu interior, irradiando de um ponto central.

Iria mostrou a marca para meu pai e para minha bisavó. Vi o reconhecimento imediato nos olhos deles.

— É idêntica — disse meu pai, sua voz sombria. — Idêntica à insígnia que estava no mapa antigo. A marca da Ordo Umbrae.

A confirmação pairou no ar, pesada e sinistra. A antiga seita não estava apenas ressurgindo; estava ativa, marcando suas criações profanas.

Naquela mesma noite, meu pai convocou uma reunião de emergência com os líderes do vilarejo e os capitães de nossa guarda. Sua expressão era grave, seus olhos refletindo a chama bruxuleante das tochas.

— Eles não estão mais apenas sondando as bordas de nosso território — disse ele, sua voz ecoando pela sala do conselho da mansão. — Eles não estão mais apenas realizando experimentos isolados nas profundezas da floresta. Eles estão testando nossas defesas. Estão testando nossa resolução. E nós, o feudo Freimann, parecemos ser o primeiro campo de prova.

A guerra silenciosa, que antes se manifestava em sussurros e sombras, havia chegado à nossa porta.

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