Acordei com o som do trovão.
Mas o céu estava limpo.
Levantei de sobressalto. O campo estava estranho — mais escuro, como se algo estivesse sufocando a luz do amanhecer. Até o vento parecia se mover ao contrário.
Velka surgiu ao meu lado, já armada. Ryujin observava o horizonte, imóvel.
— O que está acontecendo? — perguntei.
— Um presságio — respondeu Ryujin. — Um sussurro da névoa.
A névoa avançava, lenta e densa, engolindo as árvores. No meio dela, vultos. Muitos. Mas não atacavam — apenas cercavam, esperando.
— Eles estão nos cercando?
— Não. Estão assistindo.
E então veio o som. Uma espécie de cântico distorcido, impossível de entender. Como se falassem com a própria realidade. As sombras começaram a se fundir.
E o céu escureceu.
Um símbolo brilhou no céu: o mesmo que vi nos olhos de Caos.
— Eles estão invocando algo... — Velka murmurou.
Ryujin se virou para mim, sério.
— Não temos tempo. Seu poder precisa despertar agora. A próxima etapa do treinamento começa hoje.
— Mas—
— Entre na câmara.
Ele apontou para uma fenda entre as pedras, selada por símbolos antigos. Um lugar que ele havia proibido de tocar até agora.
— O que tem lá?
— Sua alma. Ou o que sobrou dela.
Desci. As pedras se fecharam atrás de mim. Tudo ficou escuro.
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A câmara parecia viva. O chão pulsava. As paredes respiravam.
E no centro, uma espada enterrada em espinhos.
Hoshikage e Getsuryuu começaram a vibrar nas minhas mãos. O ar pesava. Vozes sussurravam meu nome.
Aproximei-me da espada. Meus olhos arderam.
Uma força me puxava. Para dentro. Para o fundo.
Toquei o cabo.
E tudo explodiu.
Memórias que não eram minhas. Gritos. Um trono manchado de sangue. O riso de Caos.
E então… o silêncio.
Quando voltei a mim, estava no chão da câmara. As espadas haviam mudado. Mais pesadas. Mais afiadas. Como se tivessem... aceitado algo dentro de mim.
Subi com passos trêmulos. A névoa recuava.
Velka me viu. E correu até mim.
— Você... está diferente.
— Estou mais forte.
— Isso é bom?
— Não sei.
Ela segurou meu rosto entre as mãos.
— Não importa. Enquanto você ainda for você...
Beijei-a.
Foi breve. Quente. Real.
Depois do que vi... depois do que senti...
Eu precisava lembrar que ainda era humano.
E ela era minha âncora.
— Quando tudo acabar... — comecei.
— A gente decide o que começa — ela respondeu.