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Chapter 9 - capitulo 9

O treinamento continuava, mas algo havia mudado.

Desde o desafio no desfiladeiro de Hvarin, Therys e Rhaziel começaram a ser tratados com mais respeito — não apenas pelos mestres, mas também pelos outros aprendizes. Mesmo assim, ainda havia distância entre os irmãos.

Rhaziel, cada vez mais impulsivo, treinava com os mestres da chama, buscando limites que ainda não conhecia. Passava horas correndo pelas muralhas externas do templo, cavalgando um cavalo preto que domara sozinho, um animal arredio e forte como ele.

Therys, por outro lado, se recolhia. Passava tardes na biblioteca subterrânea, lendo pergaminhos sobre as antigas guerras elementares, estudando as linhagens mágicas e o mistério da chamada Magia da Graça — um poder raro, ligado à alma, que só despertava em poucos escolhidos.

— Você devia sair mais, irmão — disse Rhaziel, certo dia, ao vê-lo debruçado sobre os livros.

— E você devia pensar mais, antes de se jogar em cima do perigo — retrucou Therys, sem levantar os olhos.

Apesar das farpas, havia admiração mútua. Eles sabiam disso. Mas também sabiam que estavam se tornando diferentes.

Foi nessa época que o Mestre Vhaen os levou ao Círculo das Tempestades, uma caverna natural onde os cinco elementos — fogo, água, terra, ar e gelo — colidiam em correntes instáveis. Era um lugar onde qualquer erro podia custar a vida.

— Hoje, vocês não treinarão juntos — disse Vhaen. — Cada um enfrentará seu reflexo.

Primeiro, Rhaziel entrou. A caverna o envolveu em calor e escuridão. Vozes sussurravam ao redor, provocando-o.

— Você só sabe destruir… só sabe queimar… um dia, queimará até o que ama…

Ele gritou, criando um círculo de fogo à sua volta. Mas, no centro das chamas, surgiu uma imagem: Therys, congelado, imóvel, com os olhos vazios. Rhaziel tentou apagar a visão, mas o fogo reagiu com violência, crescendo fora de controle. Foi aí que percebeu: seu medo era perder o irmão por sua impulsividade.

Quando saiu, estava suado, mas calmo. Pela primeira vez, não havia orgulho em seu rosto — apenas compreensão.

Therys entrou em seguida. A caverna o envolveu em frio absoluto. As paredes espelhavam seu rosto, centenas de vezes. Em cada reflexo, ele via versões de si mesmo — calado, distante, incapaz de agir.

Uma voz o acusava.— Você espera demais. Um dia, será tarde… e quem você ama pagará por sua indecisão…

A imagem de Rhaziel, ferido, apareceu no chão congelado. Therys tentou correr, mas o gelo o prendia pelos pés. Gritou, mas sua voz era abafada pelo silêncio.

Ele caiu de joelhos. Foi então que compreendeu: o equilíbrio não era conter tudo, mas saber quando agir.

Quando emergiu, os olhos de ambos se cruzaram. Nenhuma palavra foi dita. Mas algo havia amadurecido entre eles.

Naquela noite, as energias em seus corpos mudaram novamente. A aura de Therys assumiu um prateado frio, quase etéreo. E a de Rhaziel, um vermelho rubro com veios dourados, como brasas vivas sob metal.

O Mestre Vhaen, ao vê-los, apenas murmurou:

— Os caminhos estão se abrindo. Que eles estejam prontos para o que virá.

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