EPISÓDIO 11 – Quando o Passado Bate à Porta
Narrado por Ju-kyung
Era a terceira reunião do nosso grupo de projeto na faculdade, e eu já sentia a tensão acumulada no ar como se fosse estática prestes a explodir.
— Precisamos de um roteiro mais pessoal — insisti. — Algo que fale sobre as inseguranças reais das mulheres. Não dá pra ser tão genérico.
— Mas se for pessoal demais, vamos afastar o público — retrucou Soo-jin, com a voz controlada, porém firme. — O objetivo é que qualquer mulher se identifique. Você está levando isso para um lado muito... emocional.
Revirei os olhos, tentando manter a calma. Estávamos sentadas numa das salas de estudo da biblioteca. Min-seo e Da-eun observavam em silêncio, desconfortáveis. Até elas perceberam que aquela "discussão profissional" escondia feridas mais profundas.
— Justamente por isso! — rebati. — Se a gente falar com o coração, vai alcançar mais gente. Não é só sobre estética, é sobre sentimentos!
Soo-jin cruzou os braços.
— Não é porque você tem um canal de maquiagem que entende tudo de comunicação emocional.
Foi como um soco. Fiquei em silêncio por alguns segundos. Aquilo não era só sobre o projeto.
— E não é porque você estudou relações públicas que entende tudo sobre sentimentos — respondi, com a voz mais fria do que gostaria.
Min-seo tentou amenizar:
— Talvez a gente possa equilibrar os dois lados? Um roteiro com base emocional, mas estruturado com elementos mais objetivos?
— Concordo — disse Da-eun, nervosa. — Não precisa ser uma batalha.
Mas naquele momento, eu e Soo-jin já estávamos travadas em uma guerra invisível, muito maior que um trabalho da faculdade. Era sobre orgulho, sobre tudo que não dissemos no colégio, sobre o tempo que perdemos tentando fingir que não nos importávamos uma com a outra.
Na saída da reunião, esbarrei com Seo-jun no corredor. Ele estava de fones, cantando baixinho. Ao me ver, tirou-os de imediato.
— Nossa, você tá com uma cara péssima — disse, sem cerimônia.
— Obrigada pela sinceridade — resmunguei.
— Soo-jin de novo?
Assenti, cansada.
— A gente tenta se entender, mas... sempre voltamos pro mesmo ponto.
Seo-jun suspirou e encostou na parede.
— Eu sei que vocês têm mágoas. Mas talvez... vocês duas só tenham medo de se ferir de novo.
Ele tinha razão. E eu odiava quando ele tinha razão.
Mais tarde, naquele mesmo dia, recebi uma ligação de Hee-kyung. Ela queria saber sobre o projeto, sobre o canal, sobre tudo. Como sempre.
— Só digo uma coisa — disse ela. — Se até eu e o Jae-pil conseguimos trabalhar juntos no restaurante sem matar um ao outro, você e Soo-jin também conseguem. Vocês só precisam... se escutar de verdade.
Suspirei. Talvez fosse isso que faltava.
Na manhã seguinte, fui mais cedo pra faculdade. Esperei por Soo-jin na sala vazia do grupo. Quando ela entrou, parecia surpresa por me ver ali sozinha.
— Podemos conversar? — perguntei, antes que ela dissesse qualquer coisa.
Ela assentiu, fechando a porta atrás de si.
— Eu... fiquei pensando no que você disse — comecei. — E eu entendo sua preocupação. Mas também quero que você entenda a minha. Eu vivi anos escondida atrás de maquiagem porque não aguentava me olhar no espelho. Isso não é só um projeto pra mim.
Ela me encarou, sem pressa.
— Eu também passei por coisas difíceis. Comparações. Pressões. Mas nunca falei disso porque achei que ninguém se importava.
— Eu me importava — disse, sentindo um nó na garganta. — Sempre me importei.
Ela hesitou, depois sorriu de leve.
— Então vamos fazer esse projeto funcionar... do nosso jeito.
Foi um momento simples, mas significava muito. Talvez não voltássemos a ser melhores amigas de uma hora pra outra, mas estávamos tentando.
Naquela tarde, o grupo começou a trabalhar com mais harmonia. Da-eun sugeriu um roteiro com narração em off e entrevistas reais. Min-seo cuidaria da parte visual. E Soo-jin se ofereceu para fazer a edição, algo que ninguém esperava.
— Eu posso editar — disse ela. — Mas só se a Ju-kyung narrar.
— Sério? — perguntei, surpresa.
— Sua voz tem emoção. É disso que o projeto precisa.
Sorri. Era um recomeço.
À noite, de volta ao meu quarto, abri meu caderno do canal. O número de inscritos crescia aos poucos. Algumas marcas começaram a curtir meus vídeos. E, talvez o mais importante... eu estava me sentindo feliz fazendo isso.
Recebi uma mensagem de Suho:
📩 Suho:
Vi seu último vídeo. Você tá incrível. Um dia me ensina a esconder minhas olheiras? 😴
Ri. Estávamos nos falando mais desde o casamento da minha irmã. Ainda não sabíamos o que éramos, mas algo nos unia. E não era só maquiagem.
Talvez o amor — assim como a amizade — também precisasse de tempo e paciência.
Fim do Episódio 11