Na manhã seguinte, o sol entrou suave pelas cortinas do quarto, dançando na parede enquanto o despertador digital de Aerin piscava 06:12. Ele já estava acordado. Não porque o som o despertou, mas porque o leve peso de um dos gêmeos sobre seu braço o manteve acordado quase a noite toda.
Miran dormia com o rosto colado ao peito dele, os dedinhos agarrados na blusa de Aerin como se tivesse medo que ele fosse sumir no meio da noite. E Minjae estava enroscado do outro lado, com a perna jogada por cima da barriga dele, respirando alto e babando no lençol.
Aerin olhou pros dois e soltou um suspiro longo, baixo.
— Vocês são impossíveis…
Mesmo cansado, ele não conseguia deixar de sorrir.
Ele se levantou com cuidado, tentando não acordar nenhum dos dois, mas quando seus pés tocaram o chão, Miran resmungou sonolento:
— Appa…?
Aerin parou, se virou e tocou o cabelo bagunçado do pequeno.
— Shhh… só vou fazer o café da manhã.
Mas agora os dois estavam de pé, esfregando os olhos, andando atrás dele com passos tortos e tropeçados.
Na cozinha, enquanto Aerin esquentava água para o chá e preparava torradinhas com pasta de frutas, os gêmeos sentaram no chão da cozinha, abraçando um ao outro e observando em silêncio.
— Appa… vai trabalhar hoje? — perguntou Minjae, meio resmungando.
— Não — disse Aerin, sorrindo. — Hoje é sábado. O Appa de vocês, o verdadeiro… o Kang Jihan, não trabalha nos fins de semana?
— Ele… sempre no computador… — disse Miran, cabisbaixo.
— Mas ele ama vocês — Aerin respondeu automaticamente, nem sabia bem de onde aquelas palavras tinham vindo. — Só não sabe demonstrar direito.
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🧾 Na sala, mais tarde…
Enquanto os gêmeos assistiam ao episódio do "Pinguim Ninja", Aerin decidiu dar uma olhada no contrato de trabalho que havia assinado com Kang Jihan. Ele pegou a pasta preta do armário e a abriu com cuidado.
As letras frias e formais estavam ali: "Função: Cuidador temporário com possibilidade de extensão. Proibido apego emocional. Proibido envolvimento pessoal. O cuidador deve manter o distanciamento adequado da figura paterna."
Aerin riu sem humor.
— Distanciamento adequado? Eles me chamam de Appa a cada cinco minutos.
Ele olhou em direção aos dois meninos, que agora estavam deitados no tapete, rindo de um pinguim escorregando de bunda no gelo.
A verdade era: aquele contrato já tinha sido quebrado desde o primeiro dia.
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📦 No mesmo instante, no escritório de Kang Jihan…
Jihan estava no escritório de casa – um cômodo moderno, silencioso, com uma estante cheia de livros sobre administração, leis e contratos.
Ele também tinha a pasta com o contrato de Aerin nas mãos. Mas seus olhos não conseguiam mais se fixar nas cláusulas.
Seu foco estava em outra coisa.
Na tela do celular, um vídeo curto de Minjae segurando Aerin pela mão e dizendo:
— Appa, olha! Eu desenhei a gente!
O desenho era infantil, rabiscado com lápis de cor. Dois bonecos com braços grandes, segurando dois menores no meio. Em cima, escrito com letras tortas: "Appa Aerin e Minjae e Miran."
Jihan suspirou, passando a mão pelo rosto.
Aquilo estava começando a sair do controle.
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🛝 No fim da tarde, no quintal do prédio…
Aerin levou os gêmeos para brincar no espaço infantil do prédio. Eles jogaram bola, andaram no escorrega e inventaram uma nova brincadeira chamada "dinossauro com medo de banana".
— RAAAAAWR! Eu sou um T-rex! — gritou Miran.
— E eu sou a banana gigante!!! — gritou Minjae, correndo atrás do irmão com uma meia na cabeça.
Aerin se deitou na grama, cansado, mas rindo. Era bobo, era caótico, mas era leve.
Um som de passos no asfalto fez ele se sentar. Quando olhou pra entrada do quintal, viu Kang Jihan parado ali, de camisa branca dobrada nas mangas, com um pacote na mão.
Os gêmeos correram na mesma hora.
— APPAAAAA!!! — gritaram os dois, pulando nele.
Jihan segurou um em cada braço, meio sem jeito.
— Trouxe algo pra vocês — ele disse, abaixando o pacote.
Eram dois chapéus de pinguim, com olhos bordados e um biquinho na frente. Os gêmeos gritaram como se tivessem ganhado o presente mais caro do mundo.
— Pinguim!!! — eles gritaram juntos.
Aerin se levantou, limpando a grama da roupa.
Jihan o olhou por cima dos ombros dos filhos.
— Posso conversar com você, Aerin?
Aerin assentiu.
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💬 A conversa
Os dois entraram no salão de festas vazio do prédio. Aerin ficou de braços cruzados, esperando Jihan começar.
— Você... está se saindo melhor do que imaginei — Jihan disse, sem rodeios.
— Eu gosto deles — Aerin respondeu. — Eles são fáceis de amar.
— Mas esse não era o combinado.
— Jihan… você realmente acha que uma criança entende o que é um contrato?
Jihan apertou os olhos.
— Eu só não quero que eles se apeguem a alguém que vai desaparecer.
Aerin o encarou firme.
— Então não me faça desaparecer.
Silêncio.
Era a primeira vez que Aerin via Kang Jihan sem controle total. Havia um quê de dúvida, medo… e talvez até esperança nos olhos dele.
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🧸 De volta ao apartamento
A noite chegou tranquila. Os gêmeos estavam deitados no sofá com os chapéus de pinguim, um em cada lado de Aerin, que contava uma história inventada sobre um pinguim astronauta que tinha medo de queijo.
Kang Jihan ficou em pé na porta da sala, observando.
Aerin parou de falar quando percebeu o olhar dele.
— Você quer contar a história agora? — ele perguntou, oferecendo espaço.
Jihan hesitou, depois se aproximou devagar e se sentou no chão, diante dos filhos.
— Eu… posso tentar.
Os meninos sorriram e chegaram mais perto.
E pela primeira vez, Aerin percebeu que Jihan estava tentando.
Talvez não fosse mais só um contrato.
Talvez, só talvez… fosse o início de algo de verdade.