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Chapter 25 - Capítulo 25 – Usando o Próprio Corpo como Isca

Chen Shi hesitou por um momento antes de dizer a verdade:

"Perto da nossa vila, surgiu de repente uma montanha desolada, e havia um templo no topo. Quando cultivava lá, meu progresso era muito rápido. Mas uma pedra caída do céu destruiu o templo, então pretendo encontrar outro lugar semelhante."

"Cultivar em um templo antigo?"

A velha Sha olhou para ele, surpresa, e o advertiu:

"Xiao Shi, você já não tem mais um Feto Divino. Sabe o que isso significa?"

Chen Shi respondeu com um sorriso cheio de esperança:

"Eu sei, vovó. Mas quero encontrar um lugar que me ajude a cultivar mais rápido, assim posso participar novamente do exame do condado e formar outro Feto Divino. Quando eu for aprovado como erudito..."

A velha Sha o interrompeu:

"Sem o Feto Divino, você nunca poderá gerar energia verdadeira. Isso significa que já se tornou um inútil!"

O sorriso de Chen Shi se congelou, e suas palavras saíram trêmulas:

"Se eu... se eu for aprovado no exame, posso conseguir um bom cargo. Assim meu avô não precisará mais trabalhar nessa idade. Eu só..."

"Você nunca mais formará um Feto Divino!"

A expressão da velha Sha se tornou grave:

"O Feto Divino é um presente concedido pelos Deuses Verdadeiros do além. Ele não pode ser cultivado — é uma bênção única na vida. Nenhum homem recebe essa dádiva duas vezes! Xiao Shi, pare de sonhar acordado."

O rosto de Chen Shi empalideceu. Seu corpo vacilou, quase perdendo o equilíbrio.

"Vovó, eu posso, sim, reconstruir meu Santuário Divino! Se o Deus Verdadeiro lá do alto vir como eu sou esforçado e dedicado, talvez me abençoe novamente..."

A velha Sha balançou a cabeça friamente:

"Isso é impossível. Esqueça essa ilusão. Xiao Shi, viver como uma pessoa comum também não é tão ruim. Volte para casa."

Totalmente desanimado, Chen Shi abaixou a cabeça e saiu em silêncio.

A velha Sha suspirou, murmurando para si:

"Pobre criança... ainda acha que pode restaurar seu Feto Divino..."

Ela suspirou fundo. O Chen Shi de antes havia deslumbrado o mundo — mas aquele Chen Shi teve seu Feto Divino roubado.

Agora, ele era apenas um homem comum, incapaz de cultivar.

Algum tempo depois, a velha Sha saiu do pátio e parou surpresa.

Chen Shi ainda estava sentado nos degraus de pedra em frente à sua casa, sem ir embora.

"Xiao Shi, por que ainda não foi para casa?" perguntou ela.

"Vovó, quero crescer depressa... não quero que o vovô se preocupe comigo."

Com a cabeça baixa, olhando para o chão, Chen Shi murmurou:

"Não quero que o vovô, nessa idade, continue trabalhando sem parar. Não quero vê-lo se desgastar por minha causa. Só quero ter algum talento, cuidar dele, e fazê-lo descansar... quero que o vovô possa desfrutar a velhice em paz."

Ao ouvir isso, a velha Sha se comoveu.

"Se quer saber onde fica esse lugar, posso lhe contar — mas antes tem que me ajudar com uma coisa."

Os olhos de Chen Shi se iluminaram. Ele rapidamente enxugou as lágrimas e sorriu:

"Pode pedir, vovó!"

A velha Sha sorriu:

"Muitos anos atrás, perdi algo no Rio Wangchuan. Essa é uma das minhas relíquias mais queridas. Desde então, vivo atormentada por não tê-la recuperado. Se você conseguir pegá-la para mim, direi onde fica aquele templo."

Chen Shi hesitou.

A velha Sha zombou:

"Está com medo? Se estiver, volte e viva como um homem comum!"

Chen Shi cerrou os dentes e levantou o rosto decidido:

"Eu farei isso!"

Ele esticou o pescoço, expondo a garganta:

"Pode me matar agora, vovó. Assim vou até o Rio Wangchuan e trago o que você perdeu. Só... só tente ser rápida, tenho medo de doer."

A velha Sha ficou entre irritada e divertida, mas também emocionada.

"Achei que ele tivesse recuado de medo, mas na verdade hesitou porque achava que precisaria morrer para ir ao Rio Wangchuan. Enfrentar a morte por seu caminho espiritual... que coração firme. Poucos no mundo têm tamanha determinação. Talvez, no futuro, ele realmente alcance algo grandioso."

Ela então riu:

"Quem disse que precisa morrer para ir até o Rio Wangchuan? Se fosse assim, não mancharia eu o nome da velha Sha? Fique tranquilo — você não precisa morrer."

Chen Shi ficou surpreso e aliviado.

Ele realmente havia travado uma luta interior antes de aceitar a morte, e agora, ao descobrir que poderia viver, sentiu-se renascer.

A velha Sha entrou em casa e voltou com uma corrente de ferro pesando mais de quinze quilos, amarrando-a ao corpo de Chen Shi.

Nos últimos tempos, o corpo dele ficara muito mais forte, então o peso não o incomodou.

"Chegar ao Rio Wangchuan não é simples," explicou ela. "Esse rio pertence ao mundo dos mortos. Quando alguém morre, os mensageiros do submundo vêm à Terra buscar as almas e as levam num barco através do Rio Wangchuan até o além."

Ela então trouxe uma longa corda de cânhamo, de várias dezenas de metros, com um enorme anzol preso na ponta — afiado e reluzente, como se pudesse rasgar aço.

Chen Shi, acostumado a pescar, arregalou os olhos:

"Com um anzol desse tamanho... que tipo de peixe pretende pescar, vovó? E uma isca desse tamanho — não seria algo muito grande?"

A velha Sha, levando o anzol e a corda, caminhou em direção ao rio. Chen Shi a seguiu rapidamente.

Apesar da idade avançada, ela se movia com leveza impressionante, e ele teve de correr para acompanhá-la.

Depois de andar mais de dez quilômetros, chegaram à foz do Rio Yudai, onde suas águas se encontravam com o Rio Dejiang. A corrente era violenta, as ondas rugiam, e seguindo seu curso por duzentos quilômetros, ele desaguava no mar.

"Todas as águas do mundo acabam ligadas ao Rio Wangchuan," disse ela. "Então, é por essas correntes que se pode chegar até ele."

A velha Sha amarrou a corda em uma grande árvore à beira do rio:

"Deixar uma alma entrar no Rio Wangchuan é fácil, mas levar um vivo exige um pouco de habilidade."

Ela ergueu o anzol, e seus olhos enrugados brilharam com astúcia:

"Nessas águas há um tipo de peixe capaz de transitar entre os mundos dos vivos e dos mortos — o Kun. Ele adora carne humana. Quando o Kun devora uma pessoa e engole o anzol, a dor o faz mergulhar direto no submundo, atravessando para o Rio Wangchuan."

O coração de Chen Shi gelou.

"Vovó... esse anzol vai ser enfiado pela minha boca e sair pelo queixo?"

Ele entendeu: ele seria a isca.

A velha Sha balançou a cabeça.

"Pelo estômago, então?" perguntou ele, pálido.

Ela riu, passando o anzol pelas correntes de ferro presas ao seu corpo:

"Você acha que eu vou te enfiar num anzol como uma minhoca? Se fizesse isso, seu avô viria me matar!"

Chen Shi respirou aliviado.

"Vovó, o que exatamente você perdeu no Rio Wangchuan?"

"Uma lamparina de bronze com uma pequena alça. A luz dela é fraca, mas pode ser vista de longe."

"Quando a perdeu?"

"Há nove anos."

"Nove anos? E nunca foi procurá-la antes?"

A velha Sha desviou o olhar e respondeu bruscamente:

"Chega de perguntas! Vai ou não vai?"

"Vou! Claro que vou!"

Chen Shi hesitou e perguntou:

"E quando o peixe me engolir, como saio de dentro dele?"

"Como vou saber? Nunca fui engolida por um peixe," resmungou ela, cada vez mais nervosa.

"Mas não se preocupe. Quando encontrar a lamparina, puxe a corda com força. Eu sentirei e o trarei de volta. Nada vai acontecer!"

Chen Shi insistiu:

"Vovó, já tentou esse método antes?"

"Claro!" disse ela com um sorriso forçado. "Agora vá logo! Quanto antes voltar, menos seu avô se preocupará."

Com cuidado, Chen Shi entrou na água. Não era covardia — apenas sentia que servir de isca para pescar um peixe capaz de atravessar os mundos e então procurar um tesouro no rio parecia... um plano pouco confiável.

A corrente do Dejiang era feroz. A água o empurrava como se dezenas de mãos o arrastassem.

Olhando ao redor, via redemoinhos por toda parte, girando como bocas famintas.

"Mais fundo!" gritou a velha Sha da margem.

"Vovó, se eu não encontrar, ainda vai me contar onde é o templo, certo?"

"Claro!" respondeu ela depressa.

Carregado de correntes e anzol, Chen Shi avançou para a parte mais funda, temendo afundar de vez.

"Mesmo se eu morrer, a vovó pode chamar minha alma de volta. Não há com o que me preocupar!"

Criando coragem, mergulhou mais fundo.

A velha Sha o observava, o coração apertado.

"Os livros antigos falam sobre isso — usar um humano como isca para capturar o Kun, que transita entre vida e morte. Mas não dizem como a pessoa sai viva da boca do peixe..."

Ela se sentia inquieta. Essa também era sua primeira vez tentando.

De repente, Chen Shi perdeu o chão e afundou. O coração da velha Sha saltou!

Mas logo ele emergiu, nadando firme.

Seu corpo estava mais forte do que nunca — antes, aquele peso o teria arrastado para o fundo. Agora, movia-se com facilidade.

A velha Sha respirou aliviada — mas então, um estrondo sacudiu o rio!

Uma cauda gigantesca surgiu das águas, reluzindo ao sol como ferro polido, erguendo ondas de vários metros!

"É enorme!" exclamou ela, pasma.

Chen Shi também ouviu o som, mas só viu a água espumando — não conseguiu distinguir o que se movia lá embaixo.

"Eu vi um Kun! Vá mais fundo e atraia-o até você!" gritou a velha Sha.

"Mas onde ele está, vovó? Eu não o vejo!"

Ela espiou as ondas revoltas e, sob a superfície, vislumbrou um monstro colossal — uma cabeça maior que uma casa, e uma boca aberta cheia de dentes de aço afiados.

Seu coração gelou.

Aquele Kun é muito maior do que eu imaginava!

E com dentes assim... Chen Shi seria mastigado antes mesmo de ser engolido!

"A corda não vai aguentar. Um puxão e ela se rompe! Mesmo que não, ele pode cortá-la com os dentes..."

Aterrorizada, ela agarrou a corda e começou a puxar com toda a força.

Chen Shi também sentiu algo gigantesco se aproximando por baixo e começou a nadar desesperadamente em direção à margem.

CRACK!

Um estrondo ecoou, e Chen Shi olhou para trás — uma montanha viva saltava da água, cobrindo o sol com sua sombra. A boca abissal do Kun se abriu, vindo direto para ele!

BOOM!

A criatura caiu de volta no rio. A velha Sha sentiu um puxão violento na corda — forte o bastante para arrastá-la para dentro d'água!

A árvore onde a corda estava presa balançou e se inclinou perigosamente até quase cair no rio.

Ela puxou com toda a força... e então — SNAP! — a corda arrebentou, chicoteando a margem.

Atônita, a velha Sha viu a água se agitar, e um lampejo azul atravessar as profundezas — o Kun desapareceu.

"Acabou... acabou..."

O suor frio escorria por sua testa enquanto recolhia a corda tremendo. A ponta rompida estava lisa — cortada limpidamente pelos dentes do monstro.

"Xiao Shi provavelmente foi despedaçado... Mesmo que eu chame sua alma, não poderei trazê-lo de volta... O que direi ao velho Chen agora?"

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