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Chapter 54 - Capítulo 54 — Moral? Eu Não Tenho

Li Jindou ficou surpreso e feliz ao mesmo tempo:

"Você sabe onde está o Eremita Qianyang?"

Xiao Wangsun não respondeu. Apenas fechou os olhos e começou a tratar de seus ferimentos.

Vendo isso, Li Jindou também se apressou em conter o próprio sangramento.

Eles chegaram a um vale nas montanhas e, ao lado de um riacho, havia uma velha senhora caída de costas na água, de braços e pernas abertas, sem que se soubesse se estava viva ou morta — mas ainda segurava firmemente a Lâmpada Espiritual de Chifre de Carneiro.

"Velha senhora, se ainda estiver viva, suba. Eu a levarei para ver o Mestre Chen." — disse Xiao Wangsun.

A velha se moveu fracamente, com a respiração fraca como um fio de seda:

"Xiao Wangsun... você não vai ajudar esta velha a se levantar?"

"Estou ferido. Suba sozinha." — respondeu ele, seco como sempre.

A velha, irritada, se esforçou muito para sair da água. Mesmo cambaleando, não quis largar a lâmpada. Deu apenas dois passos antes de cair de novo, mas ainda assim não a soltou — rastejou e empurrou-se com os pés até chegar à carruagem.

Li Jindou, vendo-a tão miserável quanto ele, finalmente se sentiu melhor.

Afinal, ao menos não sou o único nessa situação.

A velha subiu na carroça, puxando a pesada lâmpada com toda sua força. Quando finalmente conseguiu colocá-la dentro, suspirou de alívio:

"Onde está Jin Hongying?"

Xiao Wangsun balançou a cabeça:

"Deixe-a. Corre mais rápido que um coelho."

A velha nada mais perguntou.

A carruagem voltou a se mover. À medida que avançavam pela estrada da montanha, a velha começou a reconhecer o caminho — e seu coração se encheu de espanto.

A estrada para o Templo do Senhor da Montanha!

Pouco depois, chegaram ao grande tronco oco onde vivia a Velha Zhuang. Dentro dele havia uma multidão de aldeões. Embora pálidos, ainda não haviam se transformado em porcelana. A Velha Zhuang, com um rosto bondoso e sorriso sem dentes, sentava-se em sua cama de madeira, serena.

Ela era o segundo espírito mais poderoso do Monte Qianyang — cem vezes mais forte que as madrinhas espirituais das vilas. Por isso, conseguia prolongar a vida dos aldeões por mais tempo.

A carruagem passou direto pelo tronco e continuou subindo.

A estrada ficava cada vez mais íngreme, mas o cocheiro conduzia suavemente, como se andasse em terreno plano.

Eles chegaram ao Monte da Serpente Negra. Um imenso ofídio negro estava enroscado no cume, e havia pessoas por toda parte — até sobre o corpo da cobra, que permanecia imóvel, servindo de abrigo.

— O povo da montanha tem sua própria sabedoria.

Seus espíritos guardiões não eram poderosos, mas a Serpente Negra e a Velha Zhuang eram fortes o bastante para retardar o processo de "porcelanização".

A velha achava que seguiriam até o Templo do Senhor da Montanha, mas a carruagem mudou de direção — subiu rumo ao cume onde a serpente repousava.

Quando pararam, Xiao Wangsun desceu tremendo. Um movimento bastou para abrir seus ferimentos, tingindo a túnica de vermelho.

Li Jindou, vendo aquilo, sentiu-se um pouco melhor.

"Então é por isso que ele não se mexia. Está ferido como eu!"

Tentou descer, mas as mãos falharam, e ele caiu de cara no chão.

A velha também desceu, deixando a lâmpada na carruagem. As pernas trêmulas, acompanhou Xiao Wangsun.

Li Jindou cerrou os dentes e começou a rastejar:

"Não posso ficar na carruagem esperando o Eremita Qianyang vir até mim. Que cara eu teria? Nenhuma. Tenho que ir até ele, mesmo que arrastando meu corpo ferido."

Os três chegaram diante da cabeça da serpente. Ali havia uma clareira, com uma mesa e dois bancos de pedra.

Chen Yindu estava jogando go com um jovem vestido de preto — o espírito da Serpente Negra.

Eram velhos conhecidos.

"Por que o Mestre Chen ainda não agiu?" — perguntou Xiao Wangsun.

Chen Yindu segurava uma peça preta e observava o tabuleiro, indeciso.

"Pratico a Arte do Refinamento de Água e Fogo. Com ela, tornei meu corpo imortal. Mas o destino da minha vida não pode ser mudado. Já se passaram setenta e três dias desde a minha morte." — disse, colocando a peça.

O jovem de preto, jogando uma peça branca, respondeu:

"Absorvendo a luz da lua por setenta e três dias e ainda mantendo a razão... já é notável, Dudu."

Chamava-o de "Dudu", como se o conhecesse desde pequeno.

Chen Yindu franziu o cenho — o lance do oponente o incomodava.

"O Maldito Bodisatva é um demônio. Seu domínio se estende por cem li. Ele afeta mortais e espíritos igualmente."

Ele hesitou antes de continuar:

"Eu me refugiei aqui sob a proteção de Xuan Shan para evitar a influência do demônio. Se eu sair, minha mente será corrompida. Eu poderia derrotá-lo, sim... mas perderia o controle e me tornaria uma aberração ainda pior."

A velha, quase sem forças, disse com raiva:

"Velho Chen, nós já estamos arruinados, incapazes de lutar! Só você pode enfrentá-lo. Se não agir, todos nesta região morrerão!"

"E o que isso tem a ver comigo?" — Chen Yindu sorriu. — "Acha que eu me importo?"

A velha ficou furiosa e quis pegar a lâmpada para esmagá-lo.

Li Jindou sentiu seu respeito se despedaçar:

"Se... se todos morrerem, você e seu neto também morrerão! Não se importa com isso?"

Chen Yindu sorriu com desdém:

"Eu já estou morto. Morrer de novo, e daí? Meu neto tem a marca da Mão Fantasma no peito — vive com o coração nas mãos de outro. Se eu morrer, ele também morrerá. Avô e neto, morremos juntos. No submundo, teremos companhia. E ainda com um milhão de pessoas de oferenda! Nem o funeral de um imperador seria tão grandioso. Um verdadeiro orgulho para a linhagem Chen!"

Li Jindou ficou sem palavras.

Ele próprio só lutara contra o Bodisatva para tentar salvar o neto e a si mesmo — mas ouvir aquilo o fez encolher de vergonha.

A velha gritou:

"Você e seu neto talvez nem alcancem o submundo! Quando a transformação demoníaca completar cem dias, os deuses olharão para este mundo — e tudo, tudo será reduzido a cinzas! Até suas almas serão queimadas! Sonha com prazeres no além? Ridículo!"

Chen Yindu riu:

"Então morreremos um dia antes e aproveitaremos o submundo enquanto ainda existe. Não tente me pregar moral, velha. Eu não tenho."

A velha tentou erguer a lâmpada para matá-lo, mas mal conseguiu levantá-la. O peso de trezentas libras a prensou no chão.

Xiao Wangsun o observava em silêncio. Por fim, disse friamente:

"Mestre Chen, diga suas condições."

Chen Yindu largou a peça, ficando sério:

"Tenho um último desejo. Não pude ver meu pequeno Shi crescer em segurança. Ele precisa de um protetor forte o bastante para suprimir a Mão Fantasma que habita seu peito."

Ao ouvir isso, o rosto de Xiao Wangsun empalideceu.

A velha parou de lutar, atônita.

Li Jindou, confuso, se apressou em dizer:

"Minha família é poderosa, cheia de especialistas. Se seu neto for até nós, curaremos a doença dele!"

Chen Yindu o ignorou, olhando apenas para Xiao Wangsun.

Este suspirou:

"Irmão Jindou, você manda na sua família?"

"Eu..." — Li Jindou ficou mudo.

"Eu gostaria de aceitar, Mestre Chen. Pelo dever e pela gratidão que lhe devo. Mas não posso." — disse Xiao Wangsun, balançando a cabeça.

"Mesmo se eu me curar e recuperar toda minha força, derrotar o Bodisatva será quase impossível. Preciso de ajuda."

Ele contou sobre a vez em que enfrentou um demônio na Floresta das Três Províncias — uma batalha em que quase todos morreram, e apenas ele sobreviveu.

"Comparado àquele demônio, o Bodisatva é ainda mais forte. E atrás dele há algo pior — uma calamidade."

A velha suspirou pesadamente.

O demônio dentro do corpo do neto de Chen Yindu... era, no mínimo, de nível calamitoso. Talvez até um Desastre em forma pura.

Li Jindou empalideceu e ficou em silêncio.

Chen Yindu, despreocupado, continuou jogando. Seu jogo ficou afiado — tão feroz que fez o espírito da montanha suar.

Xiao Wangsun não disse mais nada e se virou para partir.

Li Jindou rastejou de volta à carruagem.

A velha também conseguiu se soltar e subiu.

A carruagem partiu.

De longe, viram Chen Yindu rindo com o espírito da montanha, que agora queria voltar atrás no jogo.

"Velho miserável, ainda tem humor pra isso!" — bufou a velha.

Quarto dia da Transformação Demoníaca.

Na estrada da montanha, Chen Shi e Li Tianqing caminhavam de mãos vazias. O cachorro preto corria à frente — nada haviam conseguido caçar.

As feras da região haviam virado porcelana ou se escondido. Restava pouco a encontrar.

"Engraçado... por que o Cachorro Preto ainda não virou porcelana?" — murmurou Li Tianqing.

O animal parecia imune à corrupção do Bodisatva. Corria alegremente, até mais leve que eles.

"Xiao Shi, onde seu avô encontrou esse cachorro? Será que dá pra arrumar um igual pra mim?" — perguntou Li Tianqing.

"Ele nunca contou." — respondeu Chen Shi. — "Mas se quer um, é fácil: ache uma cadela, deixe cruzar — nasce uma ninhada inteira."

Os olhos de Li Tianqing brilharam:

"Podemos vender os filhotes!"

Ao ouvir "vender", os olhos de Chen Shi também se iluminaram. Olhou para o cachorro com carinho — como quem vê um tesouro.

O animal estremeceu, virando-se para eles com um olhar de puro ressentimento.

De repente, ouviram vozes à frente — risadas e conversas animadas.

Ambos se enrijeceram. Invocaram seus santuários espirituais, e o cachorro correu para trás deles.

O de Chen Shi, porém, era apenas aparência — sem um espírito guardião de verdade. Mesmo assim, servia para intimidar.

Ultimamente haviam encontrado cadáveres de cultivadores mortos em lutas por comida. O alimento se tornara o bem mais precioso — digno de matar e morrer.

Eles encostaram-se à parede rochosa de uma trilha larga.

Logo apareceu um grupo de mais de dez pessoas — a maioria servas, acompanhando um jovem elegante vestido como um erudito.

Quatro delas carregavam santuários acesos, irradiando luz como lanternas, protegendo o grupo.

Era uma formação de três turnos: doze pessoas, quatro por grupo, revezando-se para manter o brilho constante e a defesa sempre ativa.

Em tempos como esse, apenas cultivadores bem preparados ainda vagavam vivos pelas montanhas.

As servas avistaram os dois garotos e a cadela preta.

"Jovem mestre, são apenas duas crianças... e um cachorro." — sussurrou uma delas.

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