A técnica Três Luzeiros da Energia Justa possuía passos de cultivo extremamente ordenados: primeiro refinava-se o qi dos três luzeiros, depois o corpo sagrado, em seguida realizava-se o refinamento das Sete Estrelas do Norte, e por fim as Nove Transformações do Núcleo Dourado.
Os estágios correspondentes eram: Refinamento do Qi, Refinamento Corporal, Estabelecimento da Fundação e Núcleo Dourado — quatro níveis ao todo.
Já o sistema tradicional de cultivo compreendia cinco estágios: Refinamento do Qi, Estabelecimento da Fundação, Santuário Divino, Embrião Divino e Núcleo Dourado.
Havia, claramente, um problema aí.
O semblante de Chen Shi se tornou sério.
Um grande problema!
Embora a Três Luzeiros da Energia Justa acrescentasse o Refinamento Corporal, ela omitia o Santuário Divino e o Embrião Divino, o que, sem dúvida, a tornava inferior à senda tradicional em termos de força mágica.
“Além disso, depois de atingir o estágio do Núcleo Dourado, pode-se usar o próprio núcleo para temperar o corpo — o refinamento corporal já está incluído na via tradicional, apenas não separado como um estágio próprio. Então, quando se chega ao Núcleo Dourado, o método tradicional é, sem dúvida, muito, muito mais poderoso que o Três Luzeiros da Energia Justa!”
Ele pensou consigo mesmo:
‘O fato de a tumba do Verdadeiro Rei ter essas técnicas esculpidas do lado de fora só pode significar uma coisa: uma armadilha. O objetivo é fazer com que os saqueadores, ao encontrarem as inscrições, comecem a praticar e acabem arruinando suas próprias fundações espirituais. Mas…’
Ele suspirou.
Não era um saqueador, mas sem o Embrião Divino, não tinha outro caminho. Estava encurralado — só lhe restava cultivar essa técnica, mesmo sabendo que poderia ser uma armadilha.
O melhor local para cultivar o Núcleo Dourado era o Templo do Senhor da Montanha.
Chen Shi arrumou suas coisas, levou algum mantimento e disse ao cão Panela Preta, que mastigava um rato:
“Panela Preta, vou ao templo cultivar por um dia. Se algo acontecer, use o talismã de cavalo de madeira para me avisar. Deixei dois quilos de carne de fera pendurados na parede — coma se sentir fome. Se quiser cozida, acenda o fogo sozinho.”
Panela Preta balançou a cabeça.
Seu pequeno mestre realmente não o tratava como um cão — queria até que ele acendesse fogo e cozinhasse.
‘O que vem depois, quer que eu faça alguns pratos também?’ pensou o cão, mordendo o rato.
Chen Shi chegou ao Templo do Senhor da Montanha e pousou sua caixa de livros.
Já fazia algum tempo desde sua última visita; agora o templo estava mergulhado em sombras, sem nenhum raio de sol.
Ele ativou a técnica Três Luzeiros da Energia Justa, pisando sobre o padrão das Sete Estrelas do Norte. Um a um, os símbolos das estrelas explodiram sob seus pés, refinando seu corpo, enquanto o sangue e a energia vital dentro dele se agitavam e convergiam para o dantian.
O chamado “Núcleo Dourado” era o grande elixir interno do corpo humano, não algo buscado fora — mas refinado a partir da própria essência, energia e espírito.
Para formá-lo, era necessário passar pelas Nove Fornalhas, também chamadas Nove Palácios.
O Primeiro Palácio era o Palácio da Origem do Elixir — o núcleo ali formado era azul.
O Segundo, o Palácio Vermelho — o núcleo se tornava rubro.
O Terceiro, o Palácio da Orquídea — o núcleo se tornava branco.
O Quarto, o Palácio Celeste — o núcleo se tornava negro.
O Quinto, o Palácio do Centro Amarelo — o núcleo se tornava dourado.
O Sexto, o Palácio do Talismã Espiritual — o núcleo se tornava púrpura.
O Sétimo, o Palácio dos Registros — o núcleo se tornava verde.
O Oitavo, o Palácio de Jade — o núcleo se tornava azul-esmeralda.
O Nono, o Palácio Escarlate — o núcleo se tornava cor de ocre.
(Segundo o Tratado do Elixir Dourado das Nove Transformações do Dao Shu, o “Núcleo Dourado” aqui se refere ao elixir taoísta, não ao das novelas tradicionais de imortais.)
Sem perceber, Chen Shi já havia adentrado essa senda. O sangue dentro dele fervia, e ele começou a condensar o Núcleo Dourado — usando o espírito como ingrediente, o dantian como fornalha.
Mesmo sem Embrião Divino, seu progresso foi surpreendentemente fluido. Logo o primeiro palácio se completou. Dentro do dantian parecia haver um oceano de fogo; sua essência, energia e espírito se fundiram, condensando-se em um núcleo perfeito.
Era algo sem forma nem fronteira — natural, espontâneo.
Essência, energia e espírito fundiam-se em algo inominável, indescritível.
Enquanto estava imerso nesse estado, completamente alheio ao mundo, um leve som soou dentro da caixa de livros — um estalo suave. Uma tênue luz azul começou a irradiar dali.
A luz vinha do selo de jade, e uma resposta surgiu da caixa de pedra ao lado — ela também começou a brilhar.
Logo, outro clique — como se uma trava interna fosse destrancada. Depois, mais e mais sons — incontáveis fechos sendo abertos por uma força misteriosa!
De repente, a caixa desapareceu — restou apenas um pequeno bloco de pedra, perfeitamente quadrado, repousando em silêncio dentro da caixa de livros.
Uma coluna de luz azul irrompeu do baú, subiu aos céus e se dissipou sem som, fundindo-se à energia antiga e densa do templo — e então desapareceu sem deixar vestígios.
Luz solar inundou o templo.
Acima, surgiu um céu azul profundo — o mesmo da antiga terra de Huaxia.
“Finalmente… a semente deixada pôde ser libertada. Meu poder, enfim, pode se completar.”
Uma voz suspirou suavemente no templo — havia alegria em seu tom.
“Agora posso formar minha verdadeira manifestação e aguardar a mudança celestial!”
Chen Shi, porém, nada percebeu.
Continuava focado em seu cultivo. As duas luzes — do sol e da lua de Huaxia — tornaram-se cada vez mais fortes dentro dele, transformando-se em qi e sangue vigorosos, que fluíam através das Sete Refinarias do Norte, fortalecendo seu corpo e nutrindo sua essência, energia e espírito.
Dentro do dantian, a fornalha interna ardia cada vez mais intensamente; o núcleo que se formava assumia uma cor azul pura.
Depois de doze horas inteiras, ele finalmente abriu os olhos.
A luz dentro do templo era tão intensa que quase rompia portas e janelas.
Chen Shi correu para fora, olhou o céu — não havia meteoros. Respirou aliviado.
“Se os verdadeiros deuses do além notassem essa luz solar aqui, mandariam um meteoro para destruir o Templo do Senhor da Montanha junto com toda esta serra.”
De volta ao templo, comeu um pouco de mantimento e foi arrumar suas coisas. Mas então notou: a caixa de pedra havia desaparecido. Procurou-a em pânico — até encontrar apenas uma pedrinha quadrada, do tamanho da unha do polegar, idêntica à antiga caixa, só que cem vezes menor.
“Como a caixa encolheu?”
Surpreso, levantou-a. Parecia uma pedra comum, mas suas minúsculas linhas mostravam que era algo extraordinário.
Por que ela encolheu?
E como?
Ele saiu do templo, observando-o com cuidado. Algo parecia diferente, mas não sabia dizer o quê.
“Normalmente, o Núcleo Dourado é mantido dentro do santuário, aquecido pelo Embrião Divino. Por que o meu está dentro de uma fornalha?”
Sacudiu a cabeça. Seu núcleo ainda estava apenas na primeira transformação — um “núcleo interno”, não o verdadeiro Núcleo Dourado.
Circulou sua energia conforme a técnica. Um santuário ilusório apareceu atrás de sua cabeça. Ele tentou mover o núcleo para dentro dele — o núcleo subiu do dantian até a garganta, mas parou ali.
Sentiu o sangue e a energia se acumularem no pescoço — que inchou tanto que ficou mais grosso que a cintura!
Se o núcleo subisse mais, sua cabeça certamente explodiria!
“O cultivo do Núcleo Dourado não se completa de uma vez. É preciso passar pelos Sete Retornos, Oito Transmutações e Nove Restaurações.”
Enquanto caminhava, recordava o que lera na pedra.
Os Sete Retornos: o retorno das veias, do qi, do sangue, da essência, dos ossos, da forma e do espírito.
O núcleo retroalimenta o corpo, fortalecendo tudo — canais, energia, sangue, ossos e alma.
As Oito Transmutações: veias se detêm, qi se condensa, o sangue torna-se leite branco, a essência cristaliza como jade, os ossos se tornam rubros, a medula vira geada escura, o corpo torna-se translúcido e o espírito ilimitado.
As Nove Restaurações: restaurar rins, coração, fígado, pulmões, baço, câmara do elixir, portal do qi, salão da essência e aposento do espírito.
Quando se chega ao ponto de restaurar a essência e iluminar o aposento espiritual, o Núcleo Dourado pode ascender à cabeça, romper o topo do crânio e sair do corpo.
“Estranho… aquele jovem mestre Zhao que matei — o Núcleo Dourado dele não era mais forte que o meu, no máximo na quinta transformação — e ainda assim ele conseguia fazer o núcleo sair do corpo.”
Chen Shi franziu o cenho, confuso.
Referia-se a Zhao Ziyu, o filho mais velho da Mansão Xuan Ying. O núcleo de Zhao Ziyu ficava na boca de seu Embrião Divino; bastava o embrião abrir a boca e o núcleo voava para fora, matando inimigos com facilidade.
Mas Chen Shi o matou com um único golpe. O corpo de Zhao Ziyu não era forte o suficiente para suportar a saída do núcleo.
Se tentasse forçar o processo, o impacto do qi e do sangue teria feito sua cabeça explodir.
E, mesmo assim, ele o fez!
“Talvez seja porque eles cultivavam o método verdadeiro, enquanto eu cultivo uma versão incompleta.”
Caminhando pela montanha, Chen Shi continuou a praticar os Sete Retornos, as Oito Transmutações e as Nove Restaurações. Por muito tempo, o santuário atrás de sua cabeça não se dissipou.
Na verdade, nem o qi dentro dele se dispersava.
Parou, atônito.
Sem Embrião Divino, como o santuário podia permanecer?
Sem Embrião Divino, como o qi podia não se dissipar?
Isso contrariava todo o senso comum!
Ele ficou parado, como atingido por um trovão, a mente zunindo.
“Errado… tudo errado. Sem Embrião Divino, é impossível reter o qi. O santuário deveria colapsar…”
“Algo está errado!”
“Ou o mundo inteiro está errado… ou o Verdadeiro Rei está errado… ou…”
Seus olhos se arregalaram.
Olhou para o céu.
‘Ou talvez…’
‘…os próprios deuses estejam errados!’
Mas, comparado aos deuses e ao mundo, preferia acreditar que o Verdadeiro Rei estava errado.
Milhares de anos de cultivadores seguindo esse caminho — como poderia estar errado?
E se estivesse, como ninguém teria percebido?
Como os deuses poderiam ensinar algo incorreto?
Não — o erro só podia estar no Verdadeiro Rei. Ou em si mesmo.
Nesse momento, um vento frio soprou.
Dentro dele, uma voz chamou:
“Xiao Shi… Xiao Shi…”
Chen Shi virou-se, atordoado. Duas mãos invisíveis se estenderam do nada, tentando quebrar seu pescoço.
Instintivamente, o núcleo subiu à garganta — seu pescoço inchou novamente, brilhando em dourado. A entidade nas sombras gritou de dor, as mãos se dissolvendo em fumaça, fugindo apressada pelo vento.
“Ha… hahaha!”
Chen Shi começou a rir — alto, um tanto constrangido.
“Sou apenas um camponês. Quem sou eu para questionar o mundo? Para questionar os deuses? Sou só um sobrevivente, forçado pela Vovó Montanha Negra a cultivar a técnica do Verdadeiro Rei.”
Logo, a vergonha desapareceu, dando lugar a uma risada livre e poderosa.
Seguir o caminho do Núcleo Dourado era sua única opção — não havia retorno.
E já que estava nele, seguiria até o fim, sem se importar com o certo ou errado!
Na pequena cidade de Luwei.
O Festival da Lua já havia passado.
Embora não fosse dia de feira, as ruas estavam animadas, cheias de vida.
Após o desastre recente, todos tentavam recomeçar. O governo local trocara de oficiais — era dia de cobrar impostos, mas ninguém apareceu, e o povo se sentia aliviado.
Então, de repente, todos pararam o que faziam e olharam na mesma direção.
Algumas crianças corriam pela rua com cataventos, brincando ao redor de um vendedor ambulante — até que o vento cessou.
No fim da rua, nuvens negras cobriram o sol.
Sob elas, fileiras de ratos vestidos com túnicas cinzentas — maiores que homens — marchavam em duas colunas.
As crianças arregalaram os olhos.
O vento soprou novamente, fazendo os cataventos girarem enlouquecidos.
Atrás da procissão, oito ratos carregavam uma grande liteira florida.
O vento levantou a cortina, revelando, por um instante, uma estátua completamente negra sentada lá dentro.
“De hoje em diante,” anunciou um dos ratos do telhado, com voz aguda,
“A Vovó Montanha Negra será a madrinha protetora da Cidade Luwei! Nos três primeiros dias de cada mês, haverá um grande festival! E todo primeiro mês do ano, meninos e meninas serão oferecidos em sacrifício para a Vovó! Ela garantirá boas colheitas e paz eterna!”
