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Chapter 79 - Capítulo 79 – Agir com Fúria e Vigor, Isso Sim é Ser um Homem!

Os três sentiam certa inquietação no coração. Sha Popo e seus dois companheiros já sabiam que a Velha Montanha Negra viria matar Chen Shi, e por isso acompanhavam o caso de perto. Afinal, antes de descer ao submundo, Chen Yin havia confiado Chen Shi aos cuidados deles, e naturalmente, tinham o dever de protegê-lo.

Eles sabiam que Chen Shi jamais seria páreo para a Velha Montanha Negra, mas o corpo verdadeiro dela permanecia na Montanha Negra — o que havia na Vila de Luwei era apenas um corpo criado recentemente. Ela não poderia vir pessoalmente, apenas enviar sua projeção espiritual.

E enquanto fosse apenas uma projeção, eles teriam como interferir.

O homem barbudo e o Bode Azul eram espíritos malignos, e mais poderosos do que a Velha Montanha Negra. Ao interferirem na percepção dela, poderiam induzi-la a sonhar e, dentro do sonho, atacar Chen Shi. Assim, poderiam usar a própria Velha Montanha Negra para testar o nível do espírito maligno que habitava o corpo de Chen Shi.

No entanto, depois que ela entrou, nunca mais saiu.

“Desde que o velho Chen comentou que, após o Pequeno Shi matar alguém, a alma da vítima desaparecia, eu achei isso estranho.”

Sha Popo disse: “A Mão Fantasma Azul é de fato poderosa, mas quem devora as almas das vítimas não é ela. Quando tentamos arrebatar a alma de Chen Shi e lutamos com o dono da Mão Azul através dos mundos dos vivos e dos mortos, ele não demonstrou nenhuma habilidade de devorar almas.”

O homem barbudo e o Bode Azul assentiram.

Se o dono daquela mão tivesse mostrado tal poder naquela época, suas próprias almas já teriam sido devoradas.

Sha Popo continuou: “Se não foi a Mão Fantasma Azul que devorou as almas, então há outro ser responsável. Isso significa que dentro de Chen Shi, além da Mão Azul, existe algo mais.”

O homem barbudo balançou a cabeça: “Quando o salvamos, examinamos sua alma — não havia nada escondido nela. De onde veio esse espírito devorador de almas? Como entrou no corpo de Chen Shi? E quando ele se infiltrou?”

Ele não conseguia compreender.

Quando Chen Shi demonstrou a habilidade de devorar almas, seu avô Chen Yin ainda estava ao lado dele. Nenhum espírito maligno teria a chance de se aproximar.

O mais estranho era que esse ser não possuía o corpo dele, mas estava oculto dentro de seu mundo espiritual, aguardando o momento certo para devorar as almas das pessoas que Chen Shi matava — ou dos infelizes que entravam em seus sonhos.

Era um comportamento muito incomum.

Normalmente, um espírito que toma posse de alguém devora ou destrói a alma do hospedeiro no mesmo instante, tomando seu corpo e imitando seus gestos e hábitos, às vezes com tanta perfeição que nem mesmo a esposa ou o marido perceberiam. Durante esse tempo, buscaria oportunidades de devorar as pessoas ao redor.

Mas o espírito dentro de Chen Shi não fazia isso. Seu comportamento lembrava mais o de um parasita — vivia dentro do corpo do hospedeiro, deixando-o matar para obter o “alimento” de que precisava.

Bode Azul de repente disse: “A Velha Montanha Negra é fraca demais. O melhor seria entrarmos nós mesmos para investigar!”

O homem barbudo riu friamente: “Sem saber o nível dessa coisa, quer que a gente invada só pra servir de banquete?”

Sha Popo respondeu: “Temos apenas dois caminhos: ou forçamos o espírito a sair do corpo do Pequeno Shi, ou o matamos dentro de seu sonho. Bode Azul, pare de ser tão impetuoso. Encontraremos uma oportunidade e o arrancaremos de lá!”

Bode Azul zombou: “Vocês dois são uns covardes. Do jeito que vão, só vão encontrá-lo no fim dos tempos!”

E saiu furioso: “Vou continuar sendo um espírito maligno. Se precisarem de mim, me chamem!”

O homem barbudo observou-o se afastar e perguntou: “Popo, a Velha Montanha Negra deve estar morta, não é?”

Sha Popo tentou invocar sua alma e, após sentir algo, balançou a cabeça: “Ainda não morreu completamente. Aquela velha é astuta — deixou uma raiz de si mesma no templo da Montanha Negra. O que entrou no Pequeno Shi foi apenas uma projeção, e no templo ainda há um poder vasto e incomum. Não morrerá tão facilmente.”

O homem barbudo perguntou: “E quanto à segurança do Pequeno Shi…?”

Sha Popo sorriu: “Depois do que ela sofreu, você acha que ainda teria coragem de enfrentá-lo? Se fosse eu, fugiria ao vê-lo, sem ousar mostrar o rosto.”

O homem barbudo riu: “Uma mera entidade local ousando provocar o Pequeno Shi… coragem ela tem de sobra.”

Sha Popo também riu: “E ainda ousou entrar em seus sonhos para atormentá-lo! Eu mesma jamais ousaria isso!”

Na manhã seguinte, Chen Shi acordou e foi visitar sua madrinha na vila. Para seu espanto, onde antes estavam os braços da jovem, agora cresciam galhos finos como os de uma árvore.

A árvore sagrada da Vila de Huangpo também estava completamente nua — sem ramos, com apenas algumas folhas dispersas.

Ainda assim, ele percebeu novos brotos surgindo no tronco antigo, sinal de que logo ela voltaria a florescer.

Os aldeões, temerosos, ofereciam incenso e oferendas à árvore, receando perder sua proteção.

Chen Shi esperou algum tempo, mas a Velha Montanha Negra não apareceu para se vingar, o que o deixou intrigado. À tarde, ainda nenhum sinal dela — nem mesmo um rato.

“Talvez ela tenha esquecido o assunto, ou achado que não valia a pena me matar. Deve ter mandado alguns ratos só pra me assustar.”

Chen Shi relaxou. Ele apenas ajudara outras vilas a expulsar o mal e matara um rato comedor de gente — ofender a Velha Montanha Negra por isso era puro azar.

Mas os ratos se reproduziam rápido; talvez ela nem se importasse com a morte de um de seus “netos”.

Dois dias se passaram, e nada aconteceu. Nem mesmo rastros dos ratos cinzentos. Chen Shi ficou intrigado, mas logo deixou o assunto de lado — o exame de primavera se aproximava, e ele precisava revisar os Clássicos: Analectos, Poemas, Livros e outros textos, preparando-se para a prova escrita.

Quanto à prova marcial, ele estava confiante. A literária, nem tanto.

Embora estudasse com o erudito Zhu, só o fazia há dois anos, enquanto os outros estudantes passavam cinco ou seis anos nas escolas particulares.

Além disso, havia outra preocupação: ele já havia feito o exame de “xiucai” dez anos antes. Será que haveria algum problema em tentar novamente?

Para Chen Shi, tornar-se “xiucai” e depois “juren” era um sonho obstinado.

No campo, para ele, só havia dois caminhos de sobrevivência: tornar-se um mestre de talismãs ou passar nos exames imperiais. Ser xiucai não servia de muito, mas como juren… poderia ser chamado de “senhor”.

E, como senhor, teria autoridade para dominar o povo — legitimamente.

Mesmo que não se tornasse funcionário, poderia juntar-se a Jin Hongying e entrar para o Exército da Máquina Divina.

Esse era o futuro que ele conseguia imaginar.

Para uma criança de apenas onze anos, já era admirável ter um plano de vida tão claro.

Contudo, o senhor Ye da Vila Qiaowan, que administrava a escola, fora morto pela família Zhao, e a escola desmantelada. Ele havia prometido arrumar uma vaga para o exame distrital, mas agora isso era impossível. Chen Shi pensou e repensou — conhecia pouca gente, apenas Shao Jing, do Pavilhão Juxian, parecia ser alguém de influência.

“Talvez eu deva ir até a cidade e pedir a Shao Jing que me consiga uma vaga para o exame.”

Pensando, agiu. Preparou seu carro de madeira, chamou Hei Guo e seguiu para a cidade.

De longe, viu uma multidão fora dos portões — uma execução pública. No local, um altar havia sido erguido, e orações eram feitas para que o Verdadeiro Deus supervisionasse as decapitações.

Acima do altar tremulava a Bandeira das Dez Mil Almas, tesouro do governo, usada para capturar as almas dos condenados e fortalecê-la.

Havia também cultivadores com Pérolas Sanguinárias, absorvendo o sangue dos executados, e outros usando cabaças espirituais, talvez com propósitos similares.

O avô de Chen Shi já lhe contara que pessoas com permissão para usar tais artefatos em execuções tinham, certamente, ligações com o governo.

Chegando à multidão, subiu na carroça para ver melhor, mas havia gente demais.

“O que está acontecendo? Por que estão matando tanta gente?” perguntou a um homem ao lado.

“O que, não sabe? Deve ser do interior.”

O homem o olhou e, com paciência, explicou: “É execução. A família do antigo magistrado do condado. O novo magistrado está supervisionando. O antigo era o Senhor Zhao Ji, da família Zhao da capital provincial.”

Outro espectador exclamou animado: “Faz pouco tempo o velho mestre Zhao morreu! Ele era governador da província de Xinxiang, mas fez atrocidades — dizem que aquelas transformações demoníacas no interior foram obra da família Zhao. A capital ficou furiosa e ordenou a execução de toda a linhagem! Nem galinha nem cachorro sobraram! E olha só, o novo magistrado está supervisionando… nossa, que golpe rápido!”

Todos começaram a aplaudir o carrasco, elogiando sua lâmina.

Chen Shi olhou para o altar — o carrasco erguia sua espada espiritual e desferia um golpe luminoso, visível a olho nu.

“Estranho… não parece mais rápido que minha espada espiritual invisível.”

Ele murmurou: “Por que dizem que a lâmina dele é veloz?”

Depois de treinar a técnica Corte Meridiano de Expulsão do Mal, sua espada espiritual invisível era várias vezes mais rápida.

Quando a execução terminou, a Bandeira das Dez Mil Almas absorveu as almas, e outros recolheram o sangue e queimaram os corpos secos para evitar que se transformassem em mortos-vivos à luz do luar.

“Ei, garoto, tá doente? Quer um pão?” sussurrou o homem ao lado dele.

Chen Shi balançou a cabeça e seguiu adiante, entrando na cidade.

A família Zhao havia caído completamente.

As propriedades da família, os bordéis e cassinos — todos agora tinham novos donos.

Chen Shi ficou apreensivo: será que Shao Jing ainda estaria no Pavilhão Juxian? Quando chegou lá, perguntou a um atendente, que respondeu sorrindo: “Claro que o Senhor Shao ainda está. Espere um momento, vou chamá-lo.”

Chen Shi ficou surpreso: “Então Shao Jing é o gerente daqui? Tão jovem e já com tamanho negócio.”

O Pavilhão Juxian não era um restaurante, mas uma loja que vendia materiais de cultivo: ervas raras, frutas espirituais, gemas, ossos de rinoceronte e outros materiais preciosos.

Pouco depois, Shao Jing apareceu apressado, rindo: “Ora, se não é o irmão Chen Shi! Quanto tempo! A concha de bixie que você me vendeu me rendeu uma boa fortuna. Mal chegou à loja e já foi comprada por um comerciante de Lingnan.”

Os mercadores de Lingnan, famosos por viajarem por todo o país, falavam com sotaque peculiar e tinham faro apurado para negócios.

Chen Shi sorriu: “Parabéns, irmão Shao. Na verdade, vim à cidade pedir um favor.”

Depois de alguma hesitação, explicou o motivo.

Shao Jing ouviu e riu: “Ah, isso é fácil. Amanhã venha aqui de novo. Vou apresentar-lhe um professor de escola particular para colocar seu nome na lista do exame.”

Chen Shi ficou profundamente grato e agradeceu várias vezes.

Shao Jing sorriu: “Se tiver mais tesouros, venda primeiro pra mim. Isso já será agradecimento suficiente.”

Ao sair, Chen Shi lembrou-se de uma pequena pedra misteriosa guardada em seu baú e pensou: “Amanhã posso mostrar a ele.”

“Benfeitor! É o senhor mesmo!”

Enquanto caminhava pela rua, um homem o abordou. Olhando bem, era o marido da mulher grávida que ele salvara na Vila de Luwei.

O homem, emocionado, quis levá-lo para comer, mas Chen Shi recusou: “Já recebi o pagamento quando salvei sua esposa, não precisa me tratar assim. Mas o que faz na cidade?”

“Fugimos. Nossa madrinha foi morta pela Velha Montanha Negra. Ela tomou o vilarejo e nos mandou construir um palácio para ela, prometendo proteção. Mas anteontem, ao amanhecer, os homens-rato a carregaram embora. Sem madrinha, ficamos desprotegidos, e à noite os espíritos vêm devorar as pessoas. Tivemos que abandonar o vilarejo.”

Chen Shi ficou atônito: “O pequeno sacerdote… morreu?”

Uma onda de culpa o tomou.

Foi ele quem, ao ver os ratos devorando gente, dissera ao pequeno sacerdote: “A Velha Montanha Negra está roubando seu território e permitindo que ratos devorem seus fiéis.” O pequeno sacerdote então foi confrontá-la — e acabou morto. A Vila de Luwei desmoronou.

“Se eu não o tivesse incitado, talvez ele ainda estivesse vivo. E o vilarejo, intacto.”

Seu coração pesou. Os aldeões poderiam buscar abrigo em outras vilas, talvez com novas madrinhas protetoras — ou talvez acabassem mortos pelos espíritos.

“Ouvi dizer que a Velha Montanha Negra não ficou com nosso vilarejo porque está ferida e voltou ao templo dela para se curar”, disse o homem.

Chen Shi cerrou os punhos: “A Velha Montanha Negra fez tanto mal… isso não pode ficar assim! Como disse o Mestre: ‘Se ao amanhecer ouvirmos o Caminho, podemos morrer ao entardecer sem arrependimento.’”

A raiva subiu-lhe ao peito. “Vou descobrir o caminho até o templo dela e acabar com ela ainda hoje. Essa vingança não pode esperar até amanhã — seria uma ofensa à memória do pequeno sacerdote!”

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