— Com certeza, se ele tivesse pedido desculpas àquela hora, não estaríamos nesse tipo de situação constrangedora. — Afirmava Aida.
— Eu nunca lavei tanta louça na minha vida como agora... Estou depressiva, como as pessoas podem sujar tanto? — Dizia Mina, enquanto encarava suas mãos.
— Bem, a sorte é que eu já fazia serviço doméstico em casa, minha mãe é durona sabe? Até o meu pai fazia limpeza as vezes. — Mira riu quando lembrou desse momento, ela disse que seus pais eram a maior graça de sua vida.
— Eu também, mas falando desse lugar, eu preferia ficar só na cozinha. — Fui obrigada a experimentar essas roupas estranhas e andar com elas por aí... Deus, que coisa vergonhosa!
— Eu acho que todas aqui preferem o mesmo... O vermelho é realmente esquentado, não é?
Após perguntar, Mira olhou para mim, esperando algum pronunciamento: — Ele não costumava ser assim, acho que é um conjunto de coisas, talvez ele seja assim por natureza... Mas ele piorou depois que Zefren o derrotou nas Arenas de Admissão.
— Eu ouvi algo assim ser mencionado, parece que Zefren costumava ser mais fraco.
— Ele não era somente mais fraco do que todos nós, ele também costumava ser mais infantil, dependente de seus irmãos, me lembro de um tempo em que ele chorou como uma criança quando perdeu uma luta.
— Interessante, é como um livro, ele superou as adversidades, superou a todos através do puro esforço.
— Não diria que é só esforço, ele possui um nível de adaptabilidade muito maior do que todos nós, sem falar que ele utiliza de muitas técnicas desconhecidas, o estilo de luta dele é bem diferente, mas isso se deve aos irmãos.
— Os irmãos? Quem são eles? — Mira parecia curiosa em relação a isso.
— São pessoas incríveis... Gênios incomparáveis, bom, é o que todos dizem, eu pessoalmente vi muito pouco sobre eles, já que quando eu me interessei por Artes Marciais, eles já haviam se aposentado desse mundo.
— Nossa! Aposentaram mesmo sendo gênios? Hm, o que levou eles a fazerem isso?
— Honestamente, eu não sei, tudo o que sei é através de outras pessoas, meus irmãos, conhecidos... Tem o meu pai que sempre se recusava a mencionar qualquer coisa sobre eles.
— Hã? Por que?
— ... Ele dizia para mim e Red não se envolver com eles, nem mesmo com Zefren, o motivo eu não sei. — É cômico. — Olhando assim até parece que eles se odiavam... Mas não era assim, meu pai parecia respeitar eles, talvez por respeito ao seu irmão ou a linhagem principal da família.
— Uoh!... Espera aí, o vermelho me disse que vocês que são da linhagem principal.
— É uma longa história, os pais de Zefren eram os verdadeiros Senhores da Cidade, mas depois que ambos morreram, meu pai, o próximo na linha de sucessão o sucedeu, já que ele é o segundo irmão mais velho, e o antigo Senhor da Cidade, Allfrenz, irmão mais velho da família e o pai de Zefren pediu a ele para que cuidasse de seus filhos caso algo acontecesse, assim é o que meu pai diz.
— Uau, entendo, é um respeito aos filhos do irmão.
— É complexo... Não sei explicar.
— Por que?
— Ele dizia para não nos aproximarmos da família Allifest, ao mesmo tempo que ele prestava um enorme respeito a eles, tanto a ponto de defende-los com dentes e unhas. — Que ironia.
— Hm...
— Mas é certo dizer...
— O que?
— Meus irmãos mais velhos sempre diziam, "Eles são imprevisíveis, logo mais, estranhamente, parece que eles leem o seu pensamento, duelar, lutar contra eles é um caso perdido, você nunca vence".
Mira estava encantada com a história desses irmãos. Pessoas misteriosas e poderosas sempre escondiam segredos, é o que ela concluiu.
— Até mesmo meu irmão mais velho... Er.
— O que tem ele?
— ... E-Ele também disse a mesma coisa. — Não posso dizer que Aloise, alguém que cultiva o pico da Fase Diamante perdeu miseravelmente para um reles Fase de Ouro.
Ainda está fresco em minha mente, o que presenciei aquele dia, isso ao menos é possível? Todos afirmavam que ele era apenas um Estagnado, mas não é isso que realmente intriga... Um reles Fase de Ouro pode realmente derrotar alguém do Pico da Fase Diamante daquela forma?
— Do nada o clima ficou meio pesado. — Afirmou Mina.
— S-Sim, vamos trocar de assunto, sempre quando eu ouço falar daqueles irmãos, sinto um frio na pele.
— E a irmã? Você não falou dela. — Mira continua interessada nessa história.
— Ela é um pouco diferente dele, mais amável, mais educada, mas também possuía o mesmo dom que ele, um gênio incomparável, minha irmã sempre dizia que lidar com ela era a pior de todas as coisas, haha. — Um riso para alegrar, talvez afaste esse clima estranho.
— Isso é incrível... Bem, me desculpe o interesse excessivo, é que eu sou meio paranoica com histórias hihi.
— Deu pra ver. É hora de ir.
As semanas foram se passando, mais e mais me convencia de que o responsável por tudo isso era Red, ele precisava de um ensino, um ensino como nenhum outro.
Minha paciência chegou ao limite quando um homem bêbado veio cambaleando dizendo: — Eu me amarro em gostosas de cabelo curto e verde sabia? Hic... Com cabelos passando do ombro assim... Ainda mais HIC! São gostosas demais he,he,he hic!
Eu senti um imenso nojo, mas pior, senti medo, me lembrei daquele amargurado dia, uma raiva nasceu em mim, até esse dia, eu ainda estava sã, mesmo que tenha passado por isso, mas isso já é demais, nesse momento comecei a tremer, era uma mistura de raiva, medo, fúria, eu queria atacar esse homem, eu estava me segurando, mas foi a senhora do estabelecimento quem me salvou, expulsando o dito homem.
— Arf! É sempre assim minha filha, vezes ou outra aparece algum tarado bêbado por aqui para atazanar minhas empregadas, elas são atrativos apenas, não são opções para clientes.
Não sei se a elogio ou se digo que é uma tremenda de uma sem vergonha.
— Não me culpe, meus negócios iam mal a um tempo atrás, o que está me salvando é isso, belas garotas. — Ela pegou minha bochecha e apertou carinhosamente... Mas ainda assim é uma sem vergonha.
— Haha, acho que meu irmão vai receber o "karma" muito em breve.
— Karma? O que ele fez? — Perguntou a senhora.
— Muitas coisas... Muitas.
Quando o nosso castigo estava terminando, e a dita festa a qual fui convidada pelos meninos surgiu, tive uma excelente ideia.
Quando eu estava pondo meus pensamentos em ordem, já agradecendo que o fim estava chegando, meu irmão aparece na minha frente, eu estava pensando em como iria fazer ele vestir essa roupa. Isso facilitou muito. Vendo bem agora, combinou, hihi.
Dia da festa...
— Ei bixa, ta arrasando hein. — Mina estava curtindo o desenrolar dessa história, fico feliz por isso, ela também passou por aquilo assim como eu.
— Da uma giradinha pra mim vai, ui, que gata! — O mesmo para Aida, era engraçado em como elas estavam atazanando Red, espero que ele possa mudar com isso... Meu amado irmãozinho.
— De repente senti uns calafrios. — Disse Red.
Olho ao meu lado, e vejo Asgn, o envio um sorriso para alegrar, envergonhado, ele sorrir de volta, isso me lembrou o que ele disse aquele dia, foi um pouco engraçado.
A algumas semanas antes...
Asgn parecia estar desapontado, a princípio não entendi, mas ele deixou claro o que era.
— Eu fui um maldito fraco demais pra me levantar e te ajudar. — Aperta as mãos. — Naquele dia, eu fui dominado pelo medo, não pude mover um musculo sequer.
— Asgn... Você não tem culpa. — Tentei aliviar o seu peso, mas ele não permitiu.
— Sim, eu tenho! — Um silencio cobriu a conversa logo após, não me atrevi a falar, ele estava desapontado consigo mesmo, mesmo que eu o dissesse para esquecer isso, ele continuava a insistir.
— Eu nunca imaginei algo assim... Sempre pensava que poderia lidar com essas situações quando o momento chegasse, mas, não consegui, naquele dia eu conheci o que é o medo de enfrentar um ser humano até a morte. — Ele virou-se de costa e apoiou seus braços sobre o corrimão de pedra, estávamos em uma ponte que cruzava um pequeno riacho, e que ligava os 2 lados do bairro. — Eu tive um turbilhão de sentimentos, medo, raiva, me sentia incapaz, me odiei por isso, e acima de tudo... Senti na pele o que é o verdadeiro medo, perder alguém que ama, conhecer o sentimento da perda...
É óbvio, isso o faz lembrar de seu falecido irmão.
— Asgn. — Pego sua mão. — Somos jovens ainda, é comum que fiquemos apavorados com algo assim, Aloise sempre me dizia, se te derem 2 escolhas, onde a 1º é um corpo dotado de poder, mas a mente é fraca, e a 2º onde o corpo é fraco, mas a mente é forte, escolha a segunda.
— Zya...
— Ele quis dizer que uma mente forte pode fazer acontecer milagres com um corpo fraco, e uma mente fraca, mas dotado de poder não fará nada além do que o seu conforto ditar.
— Sim, eu já ouvi isso...
— Eu tenho muito o que aprender, passando por algo assim, pude perceber o quão insignificante eu sou para o mundo, mas podemos mudar, melhorar e se adaptar. — De repente, Zefren me veio à mente, ele soa como um bom exemplo de alguém que se adapta fácil.
Asgn preferiu um momento de silêncio, ele pegou a minha mão e apertou forte, e então pude ver lágrimas escorrerem pelo seu rosto, observar isso me deu um aperto no coração.
— Eu te amo Zya. — Hein?! — Naquele dia eu fiquei paralisado de medo não por mim, eu conheci... Não, eu lembrei o que é o verdadeiro medo, o sentimento de que podemos perder alguém que amamos, e a perda em si...
— Asgn... Dizer que me ama é um pouco... — Fiquei surpresa com sua afirmação, dizer algo assim abertamente... Mas me desculpe Asgn.
— Sim, eu te amo! Te amo como um homem ama uma mulher...
Senti medo... Eu poderia devolver esse amor? Eu não... O vejo assim.
— E sei que não me ver assim.
— Hã? — Por um momento soou como se estivesse lendo meu pensamento.
— Mas o que importa? Só quero te ver feliz, como sempre foi, como sempre era, e pra isso... Eu faço um juramento aqui, para você.
— E-Ei Asgn, juramento não...
Sorrir. — Juro que irei te proteger até o fim da minha vida, mesmo que não me ame, eu estarei lá, para ti, eu irei mudar, aprimorar e me adaptar, irei além! Juro que não serei dominado pelo medo como aquela vez, mesmo que minha carne se rompa, mesmo que meus ossos se destrocem, mesmo que não haja mais folego, eu vou me arrastar, não quero mais ter aquele sentimento de incapacidade, de ver algo que eu amo e respeito ser tratado daquela maneira nunca mais! Nunca mais! Nunca...
Eu não pude mais conter as lágrimas, vê-lo chorar enquanto jurava com a sua vida me proteger, porque me ama? E a esse ponto? De Jurar me proteger... Asgn...
— Asgn, você é um idiota...
