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Chapter 3 - A ESPADA ESPANHOLA

— Ora, ora! — pensou Alberto ao voltar para casa naquela tarde. — Minha imaginação está indo longe demais. Tudo isso não passa de uma coincidência. Apenas uma coincidência...

Mesmo assim, ele havia prometido a si mesmo que esclareceria a morte do irmão. Por isso, mantinha frequentes encontros com o Inspetor Pimentel, embora tivesse decidido não mencionar o estranho besouro com chifres na testa. Para quê? O policial, certamente, só iria rir dele.

Até então, nada havia mudado. Nenhuma impressão digital for a encontrada em lugar algum. Os criados, ao que tudo indicava, estavam realmente dormindo na hora do crime, e... como provar o contrário? As suspeitas sobre eles ainda não estavam completamente afastadas, mas também não havia evidências contra ninguém.

As investigações logo tomaram outro rumo: e se o criminoso fosse um louco? Consultaram vários psiquiatras para saber se, entre seus pacientes, haveria algum com tendências homicidas. Foi em vão. Os que sofriam de psicose grave estavam internados em sanatórios e, quanto aos outros... esses andavam soltos pela cidade, cada um com suas peculiaridades, mas todos inofensivos.

— Senhor Alberto — disse a copeira, batendo na porta —, o telefone está chamando.

Ele saiu de seus devaneios e atendeu. Era o Inspetor Pimentel, com notícias frescas. O Inspetor tinha ido ao museu da cidade, mas não encontrara nada sobre a origem da espada espanhola. Aquele objeto jamais havia feito parte da coleção de armas antigas da casa. Decidiram que, no dia seguinte, visitariam alguns antiquários em busca de pistas. Pimentel achou melhor investigar "in loco" do que chamar os lojistas para a delegacia.

Combinaram levar a espada para tentar identificá-la. Talvez tivesse sido comprada em alguma loja de antiguidades. Alberto sentia repulsa ao tocar na arma que tirara a vida de seu irmão, então o Inspetor assumiu a tarefa de carregá-la.

Depois de visitarem alguns estabelecimentos sem sucesso, chegaram ao antiquário de Jairo Saturnino, o mais famoso da cidade. O lugar era uma mescla de estilos: velhos quadros misturados a lustres de cristal e potiches de porcelana chinesa repousavam sobre mesas do mais puro estilo D. João V.

— Em que posso ajudá-los? — perguntou uma moça, aproximando-se com um sorriso. Tinha cabelos longos e ruivos, que caíam em ondas, e olhos verdes, enviesados como os de uma gata. Ao notar Alberto, fixou o olhar felino nele, mantendo-o assim por um bom tempo.

Pouco depois, Jairo Saturnino apareceu e segurou o braço da jovem, apresentando-a com um ar orgulhoso.

— Minha filha, Rachel.

O Inspetor Pimentel era um velho conhecido de Jairo, que logo perguntou o motivo da visita.

Ao saber, prontificou-se a ajudar:

— Eu já suspeitava que a espada fosse a mesma que trouxe da Europa — disse Jairo.

— Como? — o Inspetor arregalou os olhos, interessado.

— Essa espada foi sua? — questionou Alberto, sem conter a ansiedade.

Jairo explicou que vendera a arma quatro meses antes.

— E quem a comprou? — perguntaram os dois homens ao mesmo tempo.

— Infelizmente, não sei dizer... — hesitou o antiquário. — Meu sócio a vendeu quando eu estava ausente.

— E onde está seu sócio agora?

— Desfizemos a sociedade há alguns dias, e ele se mudou para uma fazenda que comprou.

— Pode nos dar o endereço? — insistiu o Inspetor.

— Posso, mas talvez seja melhor procurarem o irmão dele, que mora aqui perto. Ele poderá dar mais informações.

Os dois agradeceram e saíram.

— Que bela moça a filha do homem, não acha? — comentou Alberto, após saírem do antiquário.

— E ela não tirava os olhos de você — disse o Inspetor, divertido.

— Que culpa tenho eu de ser simpático? — respondeu Alberto, sorrindo, fingindo-se convencido.

— Pelo que vejo, teremos um romance em breve.

— Nada disso. Há algo nela que me incomoda — admitiu Alberto, franzindo a testa. — Um ar de arrogância, talvez de crueldade.

— Por que tanta implicância com a moça? — questionou o Inspetor. — Talvez ela não seja nada disso.

— Meu sexto sentido raramente me engana. Quando alguém tem um traço muito marcado — bondade, inveja, ou sensualidade, por exemplo —, isso transparece na fisionomia. É como uma "emanação" da personalidade, algo que os sensíveis percebem de imediato.

Continuaram caminhando pela calçada, conversando sobre outro assunto para disfarçar a ansiedade. Em breve, saberiam mais sobre o homem que possuía a chave para o mistério.

O número 307 ficava no meio da rua. Tocaram a campainha, e, minutos depois, um homem de meia-idade, com aparência desleixada, os atendeu. Ao saber do motivo da visita, ele abaixou o olhar, visivelmente abalado.

— Meu irmão faleceu na fazenda há uma semana, senhores. Morreu de pneumonia. Sinto muito, mas temo que não possa ajudá-los.

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