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Chapter 4 - O Nascimento e Despertar.

Após aquele fatídico dia, em que as memórias da morte de minha irmã me dilaceraram por dentro como adagas envenenadas, alguns meses se passaram em uma sucessão de dias que pareciam se arrastar e voar simultaneamente.

A propósito, ouvi meus pais falarem sobre artes arcanas e não mágicas como eu esperei que fosse... bom, isso não me decepcionou em nada. Mas voltando ao que eu estava falando.

A barriga de Maria continuava a crescer, dia após dia, semana após semana, e junto com ela, cresciam também os sentimentos e emoções que preenchiam cada canto de nossa modesta casa. Ansiedade palpável nas noites insones, medo sussurrado em conversas ao pé da lareira, felicidade nos pequenos preparativos, amor nos gestos cotidianos, esperança nos olhares trocados entre meus pais... e, acima de tudo, minha própria determinação ferrenha em proteger minha nova família — especialmente, aquela que ainda não havia chegado, minha futura irmã.

Sim, eu sei que é cedo demais para tais preocupações, que meu medo talvez seja irracional, fruto de traumas do passado que ainda se agarram em mim como raízes secas em solo árido, recusando-se a morrer mesmo após a travessia entre mundos. Mas como eu poderia simplesmente ignorá-los? Como poderia fingir que não carrego essas cicatrizes invisíveis? Nesses quase dois anos de nova vida, a família que me acolheu sem saber quem realmente sou se tornou parte indissociável do que sou agora, e tudo que desejo, com cada fibra deste pequeno corpo, é evitar que a história trágica de minha vida anterior se repita nesta nova chance que recebi.

Lucius, meu novo pai, também carregava seus próprios temores, embora tentasse escondê-los sob uma máscara de confiança. Eu podia ver isso refletido em seu rosto quando pensava que ninguém estava observando — as rugas de preocupação que se formavam em sua testa, o olhar distante durante as refeições, as noites em que o encontrava sentado sozinho, contemplando o fogo quase extinto. Durante toda a primavera e verão, ele trabalhou exaustivamente, do amanhecer ao anoitecer, para juntar dinheiro — o suficiente para garantir que, dessa vez, uma parteira experiente estivesse ao lado de minha mãe no momento do parto, afastando o fantasma da tragédia que quase nos atingiu em meu nascimento.

Aliás, “curandeira” é como chamam as parteiras com habilidades nas artes arcanas nesse mundo. Foi assim que descobri que a anciã Margareth não era apenas uma simples parteira, mas uma curandeira de certo renome na região, respeitada até mesmo pela nobreza local. Parece que neste mundo, como nas antigas hierarquias dos templos que conheci na vida anterior, há graus e níveis de habilidade também, uma estrutura rígida que determina o respeito e o valor de cada praticante das artes arcanas.

Com muito sacrifício, vendendo parte de nossa já escassa colheita e trabalhando em terras alheias nos dias de folga, Lucius conseguiu levantar o dinheiro necessário. Em conversas noturnas que ouvi sem querer, escondido atrás da porta entreaberta, entendi que minha chegada ao mundo custou caro à família — e que a anciã Margareth, embora competente e respeitada, era conhecida por cobrar bem pelo seu serviço, especialmente de nobres, mesmo os empobrecidos como nós. Ainda assim, meu pai não hesitou em endividar-se novamente, hipotecando parte de nossas terras, pelo bem de minha mãe e da criança que estava por vir.

Eu juro, pelos deuses deste e de qualquer outro mundo, que um dia irei retribuir cada moeda que eles gastaram comigo e com minha irmã. Cada sacrifício será recompensado mil vezes.

Mas voltando ao presente: o tão aguardado momento finalmente se aproximava, trazendo consigo uma mistura de expectativa e apreensão que pairava sobre nossa casa como uma névoa densa — tão densa quanto o Cinza Nebuloso que, segundo dizem, envolve aqueles no nível Bruma, o primeiro estágio das artes arcanas.

Hoje eu tenho exatos dois anos e dois meses. Um dia desses, me peguei encarando meu reflexo no pequeno espelho de bronze polido que minha mãe guarda como um tesouro. Não que eu fosse feio, pelo contrário — herdei os traços delicados e harmoniosos de minha mãe, uma beleza quase etérea que parece fora de lugar neste mundo rústico. Cabelos loiros como o trigo maduro sob o sol do meio-dia, olhos de um dourado incomum, quase tão brilhantes quanto o Ouro Estelar, e um nariz fino e levemente arrebitado que confere ao meu rosto infantil uma certa nobreza natural. Lembro de ter lido, em minha vida passada, em alguma revista de psicologia ou antropologia, que esse tipo de nariz era considerado o mais atraente em homens na cultura ocidental. Espero que essa regra estética valha por aqui também, embora aparência seja a menor das minhas preocupações no momento.

Mas aparência agora pouco importa. O foco é outro, muito mais vital e imediato.

Dois dias depois da chegada da anciã Margareth em nossa casa, trazendo consigo uma bolsa de couro desgastado cheia de ervas, o esperado finalmente aconteceu: minha mãe entrou em trabalho de parto nas primeiras horas da manhã, quando o orvalho ainda cobria a grama do jardim.

Não posso dizer que foi um processo tranquilo ou silencioso. Não me deixaram ficar no quarto, naturalmente — Lucius me levou para a sala e tentou me distrair com histórias e jogos simples — mas os gritos de dor que atravessavam as paredes finas de nossa casa e os longos, agonizantes minutos de silêncio entre eles foram o bastante para me deixar em estado de alerta máximo, com o coração batendo tão forte que parecia querer escapar do peito. Por fim, depois de quase duas horas que pareceram uma eternidade, o som mais puro e simples que já ouvi em qualquer uma de minhas vidas preencheu a casa como uma bênção: o choro agudo e vigoroso de uma nova vida anunciando sua chegada ao mundo.

Vinte minutos depois, quando tudo já estava mais calmo e organizado, meu pai me levou até o quarto, seus olhos brilhando com lágrimas contidas de alívio e felicidade.

Quando entrei, encontrei Maria recostada em travesseiros, exausta, com o rosto ainda pálido e úmido de suor, mas brilhando com uma felicidade tão intensa que parecia iluminar o quarto inteiro. Seus olhos azuis, normalmente claros como o céu de verão, estavam fixos com adoração naquele pequeno ser em seus braços, que ainda choramingava suavemente, envolto em panos grossos e limpos.

— Elian, venha aqui — disse minha mãe, com a voz cansada, mas doce como mel. — Essa é sua irmã. Venha conhecê-la.

Me aproximei devagar, quase em reverência, sentindo o peso daquele momento em cada passo. Olhei com curiosidade e um carinho instintivo para o rostinho vermelho e enrugado da recém-nascida, tão pequeno e perfeito em sua fragilidade. E então, como se por alguma força arcana antiga e inexplicável, no exato instante em que nossos olhos se encontraram — os meus dourados, os dela ainda de um azul indefinido — o choro cessou completamente, substituído por um silêncio quase solene.

— Parece que ela já reconhece o irmão mais velho — disse minha mãe, sorrindo com ternura, acariciando os poucos fios dourados na cabeça da bebê.

Uma onda quente e estranha invadiu meu peito, espalhando-se por todo meu corpo como um rio transbordante. Era... felicidade em sua forma mais pura. Saudade de algo que perdi. Amor instantâneo e incondicional. E uma dor sutil, agridoce, que ainda carregava da lembrança de minha antiga irmã, Luana, cujo sorriso jamais esquecerei. Quando senti o nó na garganta se formar e as lágrimas ameaçarem cair, fiz um esforço consciente para empurrar essas emoções conflitantes para o fundo da mente, focando apenas naquele instante precioso que o destino me concedia.

— Minha irmã... minha nova irmã... — pensei, as palavras ecoando em minha mente como um mantra sagrado.

Meus olhos se encheram de lágrimas que não consegui conter, mas desta vez eram lágrimas de alegria pura, não de dor ou perda. Meu pai, percebendo minha emoção, se aproximou silenciosamente e me ergueu com cuidado, colocando-me ao lado de minha mãe na cama, para que pudesse ver melhor o pequeno milagre que havia chegado à nossa família.

— Quer segurar ela? — perguntou ele, sua voz traindo a própria emoção contida.

Assenti em silêncio, incapaz de formar palavras naquele momento transcendental.

Com cuidado infinito, como se manuseasse o mais precioso dos tesouros, minha mãe transferiu o pequeno embrulho para meus braços inexperientes, ajudando-me a posicionar corretamente as mãos para apoiar a cabeça frágil. Quando a segurei nos braços, sentindo seu peso quase imperceptível, sua fragilidade absoluta, uma promessa silenciosa nasceu dentro de mim, gravada a ferro e fogo em minha alma: eu vou protegê-la de tudo e de todos, custe o que custar. Nenhum mal tocará um fio de cabelo desta criança enquanto eu viver.

E então, algo completamente inesperado aconteceu, algo que mudaria o curso de minha nova vida para sempre.

Uma sensação estranha, como nada que já havia experimentado antes, começou a se espalhar pela minha mão esquerda. Primeiro um leve formigamento, como quando um membro adormece, depois uma coceira insuportável que parecia vir de dentro para fora, das próprias células. Comecei a esfregar desesperadamente a mão contra a roupa, tentando aliviar aquela sensação perturbadora, mas algo incomum e inexplicável se formava ali, sob minha pele, como se uma força invisível estivesse desenhando em minha carne.

Meus pais e a anciã Margareth, que permanecia discretamente no canto do quarto observando a cena familiar, subitamente me observavam com expressões paralisadas, uma mistura de surpresa, reverência e algo que parecia quase... medo? Não, não era medo exatamente, mas uma espécie de assombro respeitoso.

Quando finalmente tive coragem de olhar para minha mão, quase deixei minha irmã cair de susto. Um símbolo agora estava gravado ali, nas costas da minha mão esquerda, brilhando suavemente com uma luz âmbar brilhante que pulsava no ritmo de meu coração acelerado. Uma estrela perfeita de seis pontas — o símbolo da Centelha, o segundo nível das artes arcanas — intrincada e bela em sua simetria sobrenatural.

Foi então que Margareth, com a voz baixa e reverente, mas clara o bastante para ecoar na mente de todos os presentes como se tivesse sido amplificada por alguma força misteriosa, murmurou palavras que mudariam meu destino:

— A Centelha... ele despertou com a Centelha. O lampejo interior que revela o que vibra além da carne.

Meus pais voltaram seus olhos para ela simultaneamente, buscando por respostas, confusos e maravilhados ao mesmo tempo, como devotos diante de um milagre inesperado.

Lucius, ainda perplexo, foi o primeiro a romper o silêncio carregado que havia se instalado no quarto:

— O que isso significa exatamente, Margareth? O que está acontecendo com nosso filho?

Margareth os encarou com uma expressão enigmática, quase como se a resposta fosse óbvia demais para ser explicada a leigos, mas ao mesmo tempo complexa demais para ser completamente compreendida.

— Como vocês podem ver, seu filho despertou para as artes arcanas três anos antes do normal. A maioria das crianças permanece no nível Bruma até os cinco anos, envolta no Cinza Nebuloso da alma adormecida. Isso, por si só, já seria extraordinário.

Com um movimento lento e deliberado, ela removeu a luva de couro que sempre usava na mão esquerda, revelando um símbolo nas costas da mão esquerda: dois triângulos sobrepostos, formando o símbolo da Ascensão, o sexto nível das artes arcanas, que brilhava com uma luz branca incandescente, mais suave que a minha, mas igualmente hipnotizante.

— Eu mesma despertei aos quatro anos, logo após perder minha mãe para a peste negra. Vocês dois provavelmente despertaram aos cinco ou seis anos, o que é mais comum para aqueles com alguma aptidão para as artes arcanas, mas nunca passaram do nível Bruma, o primeiro estágio onde a alma ainda está adormecida.

Meus pais assentiram silenciosamente, confirmando sua suposição.

— Elian despertou aos dois anos, pulando completamente o nível Bruma e manifestando diretamente a Centelha. Isso é extremamente raro, quase sem precedentes nos registros modernos. Talvez tenha sido desencadeado por uma emoção muito forte? Ninguém sabe explicar com certeza o que determina o momento exato do despertar. Isso não é comum, nem mesmo entre famílias com linhagens arcanas antigas.

Ela fez uma pausa significativa, observando-me atentamente, seus olhos verdes estudando cada detalhe do símbolo em minha mão como se tentasse decifrar um texto em língua esquecida.

— Como eu disse, perdi minha mãe quando despertei minha aptidão. Não é raro que grandes emoções, especialmente as traumáticas, influenciem o despertar... mas não é uma regra absoluta. Muitas crianças vivem situações terríveis e nunca despertam qualquer habilidade arcana. E, além disso, despertar cedo não significa necessariamente talento excepcional. Há muitos fatores envolvidos.

Eu, ainda segurando minha irmã com um braço e olhando fascinado para o símbolo em minha mão, inclinei a cabeça, curioso e confuso, tentando compreender o que tudo aquilo significava para meu futuro neste mundo estranho.

Margareth deu um sorriso amargo, como quem carrega memórias dolorosas, e continuou sua explicação:

— Talvez Elian seja verdadeiramente diferente. Lembram-se do que eu disse quando ele nasceu? Que ele era um verdadeiro milagre, uma criança que retornou da própria morte. Talvez isso tenha alguma relação com seu despertar precoce.

Minha mãe, ainda mais pálida que antes, estendeu a mão trêmula e tocou meu rosto com reverência, como se eu fosse uma relíquia sagrada, e murmurou:

— Ele... já despertou diretamente com a Centelha. Normalmente o despertar acontece no nível Bruma, o mais básico... Olhem para o brilho âmbar que emana de sua mão. É o anúncio de um potencial que ainda carece de direção.

Ela parou por um instante, como se buscasse palavras para expressar o extraordinário, e então acrescentou, sua voz quase um sussurro:

— Margareth... se bem me lembro dos ensinamentos, você também despertou com a Centelha diretamente, não foi? Pulando o nível Bruma?

Margareth confirmou com um aceno solene de cabeça, seus olhos nunca deixando os meus.

— E hoje seu nível é Ascensão, o sexto nível, certo? Onde a alma transcende a carne e o poder molda a realidade ao redor?

Outro aceno confirmativo, agora acompanhado de um sorriso discreto que parecia esconder segredos antigos e poderosos.

— Seu símbolo... os dois triângulos sobrepostos... e aquela luz branca incandescente que emana dele... — murmurou minha mãe, quase em transe.

Meu pai então interveio, sua voz agora séria e formal, como raramente o via falar:

— Isso quer dizer que nosso Elian tem talento excepcional para as artes arcanas? Que ele pode se tornar um arcanista poderoso, talvez até alcançar o nível Chama ou além?

Margareth sorriu, desta vez com mais leveza, como uma professora diante de um aluno promissor.

— Pode-se dizer que sim, ele tem potencial raro. A Centelha decide: acende-se ou apaga-se. No caso de Elian, parece que já se acendeu com força incomum. Mas talento natural, por maior que seja, não garante nada sem esforço constante, disciplina férrea e treinamento adequado. Muitos prodígios se perdem no caminho por falta de orientação apropriada, nunca chegando a alimentar sua Centelha até virar Chama.

Foi então que Lucius, para minha completa surpresa, se ajoelhou diante dela em um movimento fluido, um gesto de submissão raríssimo vindo de um nobre, mesmo um empobrecido como ele, e disse com voz firme:

— Anciã Margareth, por favor, aceite meu filho como seu discípulo . Estou disposto a pagar qualquer preço pelo treinamento dele, mesmo que isso signifique sacrifícios ainda maiores para nossa família.

Eu também fiquei paralisado com a cena inesperada, mas ele prosseguiu, sua voz agora carregada de uma emoção que raramente demonstrava:

— Por favor, arquimaga Margareth. Não deixe que este dom se perca.

“Arquimaga?” — pensei, atônito com a revelação. Eu jamais imaginaria que aquela mulher de aparência simples e modos discretos fosse uma arquimaga. Subitamente, toda sua presença parecia diferente aos meus olhos, como se uma máscara tivesse caído.

Minha mãe, ainda fraca pelo parto recente, para meu horror, se forçou a se levantar com dificuldade da cama e se ajoelhou ao lado de meu pai, fazendo o mesmo pedido, lágrimas silenciosas escorrendo por seu rosto exausto.

Margareth, visivelmente surpresa e até um pouco constrangida com o gesto extremo, imediatamente pediu que ela se levantasse e voltasse para a cama.

— Por favor, Maria, você acabou de dar à luz. Não se ajoelhe diante de mim ou de qualquer pessoa neste estado.

Depois de ajudar minha mãe a se acomodar novamente, ela se voltou para meus pais com expressão grave:

— Vocês sabem que isso não será barato, certo? Treinar um aprendiz nas artes arcanas exige tempo, recursos e dedicação exclusiva. Especialmente um que já despertou com a Centelha, pulando o estágio Bruma.

Meus pais assentiram simultaneamente, determinação gravada em seus rostos.

— Estão dispostos a sacrificar o futuro confortável da filha recém-nascida... talvez até o do próprio feudo e suas terras? Pois é isso que poderá acontecer se investirem todos os recursos na educação arcana de Elian, na esperança de que ele um dia alcance a Chama, o Rugido, ou quem sabe até a Tempestade.

A pergunta caiu como uma pedra em águas paradas, criando ondas de tensão que se espalharam pelo quarto, e só então eu compreendi completamente o peso do pedido que meus pais faziam. Eles estavam dispostos a sacrificar tudo — absolutamente tudo — pelo meu futuro, mesmo que isso significasse dificuldades para minha irmã recém-nascida.

Antes que eles pudessem responder e potencialmente condenar minha irmãzinha a uma vida de privações, tomei coragem e, para surpresa de todos, falei com uma clareza e articulação que ninguém esperaria de uma criança de dois anos:

— Anciã Margareth... sei que sou apenas uma criança aos olhos de todos, mas prometo solenemente que, se a senhora me aceitar como discípulo, nunca lhe trarei desonra ou decepção. Em nome dos deuses, juro que pagarei cada centavo investido em mim, seja hoje ou no futuro. Minha irmã não sofrerá por minha causa. E um dia, farei com que o âmbar brilhante da minha Centelha se transforme no vermelho víbora da Chama, e além.

Um silêncio atônito seguiu minhas palavras. Margareth me fitou por longos segundos, seus olhos verdes penetrando os meus como se pudessem enxergar além do corpo infantil, talvez vislumbrando a alma antiga que o habitava. Finalmente, ela sorriu, um sorriso que misturava admiração e curiosidade científica.

— Muito bem, Elian. Suas palavras são surpreendentes para alguém tão jovem, ainda mais para alguém que acabou de despertar. Aceitarei você como meu aprendiz nas artes arcanas. Mas com duas condições inegociáveis.

Ela fez uma pausa dramática, garantindo que todos estavam atentos.

— A primeira: você estudará todos os dias em minha casa, do nascer ao pôr do sol, voltando para sua família apenas ao anoitecer. Não haverá dias de folga, exceto nos festivais sagrados. O caminho da Centelha para a Chama é árduo e exige dedicação absoluta. Você só terá descanso quando eu decidir que merece.

— A segunda: quando chegar o momento de sua apresentação formal na corte Real, deverá demonstrar seu valor e progresso perante todos os presentes. Se falhar, nossa associação estará terminada.

Meus pais aceitaram as condições sem hesitar, como se fossem as mais razoáveis do mundo, alívio visível em seus rostos por terem garantido meu futuro.

Margareth então se virou para mim e, com um olhar que mesclava severidade e algo que parecia quase diversão sádica, disse em tom que não admitia réplica:

— A partir de amanhã ao amanhecer, sua vida como a conhece se tornará um inferno de treinamento, estudo e disciplina. Espero que esteja preparado, pequeno milagre. Pois o caminho da Centelha é apenas o início. Veremos se você tem o que é preciso para transformá-la em Chama, onde a alma alimenta seu poder até virar fogo.

E foi assim, segurando minha irmã recém-nascida nos braços enquanto contemplava o símbolo arcano em minha mão e o brilho âmbar que dele emanava, que anos de sofrimento, aprendizado e transformação começaram. Anos que moldariam não apenas meus poderes nas artes arcanas, mas minha própria alma, em uma jornada que nem mesmo eu, com toda minha experiência de uma vida anterior, poderia prever. Uma jornada que, se eu fosse bem-sucedido, me levaria da Centelha à Chama, e talvez além, através dos nove níveis das artes arcanas.

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