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Chapter 37 - Ecos da Força Vital.

A escuridão me envolvia como um manto pesado. Eu flutuava em um vazio sem forma, sem peso, sem tempo. Então, de repente, chamas surgiram ao meu redor – não o fogo alaranjado e familiar que eu conhecia, mas labaredas azuis, elétricas, que dançavam e se contorciam como se tivessem vida própria. Elas não queimavam, mas pulsavam no mesmo ritmo do meu coração.

“Elian...”

Uma voz sussurrou meu nome, distante e próxima ao mesmo tempo. Tentei me virar, procurar sua origem, mas não conseguia me mover.

“Elian Freimann...”

As chamas azuis começaram a se condensar, formando uma silhueta vaga. Uma mulher, talvez? Não conseguia distinguir seu rosto, mas havia algo enrolado em seu pescoço, como uma cobra ou um lenço que se movia por vontade própria. Ela estendeu a mão em minha direção, e as chamas azuis responderam, esticando-se como dedos que quase tocavam meu peito.

“Seu sangue... sua herança...”

Tentei falar, perguntar quem era ela, o que queria, mas minha voz estava presa na garganta. A figura começou a se aproximar, as chamas azuis ficando mais intensas, mais brilhantes, até que tudo o que eu podia ver era aquela luz cegante e—

Acordei com um sobressalto, meu corpo inteiro tremendo. Minha respiração estava rápida e superficial, e minha pele coberta por uma fina camada de suor frio. Por um momento, não reconheci onde estava. Então, lentamente, os contornos familiares do meu quarto começaram a tomar forma na penumbra.

Tentei me sentar, mas uma onda de tontura me atingiu, forçando-me a deitar novamente. Meus músculos protestaram com o movimento, como se eu tivesse passado dias carregando pedras. Cada respiração parecia exigir um esforço consciente.

A porta do quarto se abriu silenciosamente, e minha mãe entrou, carregando uma pequena lamparina. Seu rosto se iluminou ao me ver acordado.

— Elian! — Ela se apressou até minha cama, colocando a lamparina na mesa de cabeceira. — Como se sente?

— Como se um Vermiscarro tivesse dançado em cima de mim — respondi, tentando sorrir, mas conseguindo apenas uma careta.

Minha mãe não retribuiu o sorriso. Em vez disso, seus olhos se encheram de preocupação enquanto ela colocava a mão em minha testa.

— Ainda está frio — murmurou ela, mais para si mesma do que para mim. — Vou buscar mais um cobertor.

— Quanto tempo... — minha voz falhou, e tive que engolir antes de continuar. — Quanto tempo estive dormindo?

— Quase dois dias — respondeu ela, ajustando os cobertores ao meu redor. — Você... nos assustou, Elian.

Dois dias. A informação demorou a fazer sentido em minha mente nebulosa. Lembranças do confronto com o Vermiscarro voltaram em flashes desconexos: o rugido da criatura, a espada de meu pai cortando o ar, o raio azul surgindo do chão...

— Pai? — perguntei, subitamente preocupado.

— Está bem — assegurou minha mãe. — O corte no braço não era profundo. Ele está lá embaixo, com sua avó Margareth.

Ao ouvir o nome de minha bisavó, senti um aperto no estômago. Margareth estava aqui. E eu podia imaginar exatamente o que ela pensava sobre meu uso imprudente da Fulmínea da Ira Ígnea.

Como se invocada por meus pensamentos, ouvi passos firmes no corredor. A porta se abriu novamente, e Margareth Lindemberg entrou, seguida por meu pai. O contraste entre eles não poderia ser maior – meu pai com seu semblante preocupado, mas aliviado ao me ver acordado, e minha bisavó com uma expressão severa que parecia esculpida em pedra.

— Deixe-nos — disse Margareth para meus pais, seu tom não admitindo discussão.

Meu pai hesitou, mas minha mãe colocou a mão em seu braço e assentiu. Eles saíram, fechando a porta silenciosamente atrás de si.

Margareth se aproximou da cama, seus olhos penetrantes examinando cada centímetro do meu ser. Sem dizer uma palavra, ela estendeu a mão e a colocou sobre meu peito. Senti um formigamento estranho, como se algo dentro de mim respondesse ao seu toque.

— Idiota — disse ela finalmente, sua voz baixa e controlada, mas carregada de emoção. — Você quase se matou.

Tentei me defender, explicar que não havia escolha, que meu pai estava em perigo, mas ela ergueu a mão, silenciando-me.

— Seu fluxo de Força Vital está completamente irregular. — Seus dedos traçaram padrões invisíveis sobre meu peito. — Você canalizou energia demais, de uma só vez, sem preparação adequada. É um milagre que ainda esteja vivo.

A dureza de suas palavras me atingiu como um golpe físico. Mas por trás da severidade, percebi algo mais – uma preocupação genuína, quase... medo?

— Eu não sabia... — comecei, minha voz ainda fraca.

— Exatamente! — Ela quase gritou, mas então se controlou, baixando o tom novamente. — Você não sabia. E esse é o problema, Elian. Você tem poder, mais do que a maioria dos Arcanistas sonha em ter. Mas poder sem conhecimento, sem controle... — Ela balançou a cabeça. — É um caminho direto para o túmulo.

Ela se afastou, caminhando até a janela. A luz do entardecer desenhava sua silhueta contra o vidro.

— Em minha juventude, Elian — disse ela, sua voz distante, carregada pelo peso de muitas décadas —, eu também cometi imprudências. Achava que meu poder era ilimitado, que podia dobrar os elementos à minha vontade, sem consequências. A arrogância da juventude é uma armadilha perigosa.

Ela se virou para mim, e pela primeira vez, vi algo em seus olhos que nunca havia notado antes: uma vulnerabilidade antiga, quase imperceptível sob camadas de força e tempo.

— Eu quase perdi tudo, bisneto. Usei tanta Força Vital em um único feitiço que meu coração parou por quase um minuto. — Ela tocou inconscientemente o próprio peito, uma memória dolorosa gravada em sua alma. — Levei meses para me recuperar completamente. E anos para reconstruir a confiança em meu próprio poder, para usá-lo com a sabedoria que só o tempo e os erros ensinam.

Fiquei em silêncio, absorvendo suas palavras. Era difícil imaginar minha bisavó, Margareth Lindemberg, a lendária Arquiduquesa do Norte, como alguém que já havia sido tão imprudente.

— Vejo muito de mim, de como eu era, em você, Elian — continuou ela, retornando à beira da cama, seu olhar fixo no meu. — E isso me aterroriza. Porque sei o que acontece quando jovens talentosos, com sangue poderoso correndo nas veias, se queimam cedo demais.

Ela retirou um pequeno frasco de cristal de dentro de suas vestes. O líquido em seu interior brilhava com uma luz própria, dourada e cintilante.

— Vitae Essentia — explicou ela. — Elixir de Força Vital. Extremamente raro e difícil de produzir. — Ela removeu a tampa do frasco. — Isso ajudará sua recuperação, mas não é uma solução permanente. Entendeu? Isso não pode se tornar rotina.

Assenti, e ela inclinou o frasco contra meus lábios. O líquido tinha um gosto estranho – doce e amargo ao mesmo tempo, como mel misturado com cinzas. Assim que o engoli, senti um calor se espalhando pelo meu corpo, como se cada célula estivesse despertando de um longo sono.

— Descanse mais um pouco — ordenou Margareth, recolocando a tampa no frasco agora vazio. — Amanhã começaremos seu novo regime de treinamento. E acredite, Elian Freimann, você vai me odiar antes que terminemos.

Com essas palavras, ela saiu, deixando-me sozinho com meus pensamentos e o calor crescente do elixir percorrendo minhas veias.

Algumas horas depois, senti-me forte o suficiente para tentar levantar. O elixir havia feito maravilhas – a tontura havia desaparecido, e meus músculos, embora ainda doloridos, respondiam aos meus comandos. Coloquei os pés no chão e me levantei lentamente.

Minha confiança durou exatamente três passos. No quarto, minhas pernas cederam, e eu teria caído se não houvesse me agarrado à cômoda próxima. A sala girou ao meu redor, e senti uma náusea crescente.

— O que pensa que está fazendo?

Minha mãe estava à porta, seu rosto uma mistura de surpresa e desaprovação. Ela correu até mim, segurando-me pelos ombros e guiando-me de volta à cama.

— Eu só queria... — comecei, mas ela me interrompeu.

— Você quase morreu, Elian. — Sua voz tremeu ligeiramente. — Sua bisavó disse que você usou tanta Força Vital que poderia ter... — Ela não conseguiu terminar a frase, mas não precisava. O medo em seus olhos dizia tudo.

— Desculpe — murmurei, sentindo-me culpado por preocupá-la.

Ela se sentou na beira da cama, pegando minhas mãos entre as suas. Estavam quentes contra minha pele ainda fria.

— Eu sei que você está destinado a grandes coisas, meu filho. — Seus olhos buscaram os meus. — Mas por favor, imploro... cuide-se. Não posso suportar a ideia de perdê-lo.

Algo em sua voz, na intensidade de seu olhar, me fez perceber o quanto minha imprudência havia afetado não apenas a mim, mas a todos ao meu redor. Assenti, apertando suas mãos.

— Prometo ser mais cuidadoso — disse, e realmente pretendia cumprir.

Ela sorriu, embora seus olhos ainda estivessem úmidos.

— Vivian fez algo para você. — Ela se levantou e foi até a mesa, pegando alguns papéis. — Ela tem estado muito preocupada.

Olhei para os desenhos que minha mãe me entregou. Eram feitos com o traço desajeitado de uma criança, mas o conteúdo era inconfundível: eu, com os braços estendidos, raios azuis saindo do chão ao meu redor. Em outro, eu estava lutando contra o que parecia ser o Vermiscarro, embora na interpretação de Vivian, a criatura parecesse mais um urso com chifres.

— Ela ficou fascinada com a história — explicou minha mãe. — Seu pai tentou suavizá-la, é claro, mas... bem, você conhece sua irmã. Ela tem feito perguntas sobre artes arcanas o dia todo.

Sorri, imaginando Vivian bombardeando nosso pai com perguntas sobre feitiços e monstros.

— Ela tem potencial — comentei. — Talvez um dia...

— Um dia, talvez — concordou minha mãe, mas havia uma sombra em seu olhar. — Mas por enquanto, deixe-a ser apenas uma criança.

Ela se levantou, ajeitando os cobertores ao meu redor.

— Descanse mais um pouco. Trarei algo para você comer em breve.

Depois que ela saiu, fiquei olhando para os desenhos de Vivian. Havia algo tocante em sua representação inocente de eventos que, para mim, haviam sido aterrorizantes. Em seu mundo, eu era um herói invencível, não um garoto que quase havia esgotado sua própria vida por imprudência.

Fechei os olhos, sentindo o cansaço me dominar novamente. Mas antes de adormecer, ouvi vozes vindas do corredor – meu pai e outra pessoa que não reconheci imediatamente.

— ...não era natural, senhor. A criatura estava... alterada.

— Alterada como? — A voz de meu pai era baixa, mas tensa.

— Como se algo a tivesse corrompido. Nunca vi nada assim antes, e olhe que caço nessas florestas há trinta anos.

Lutei contra o sono, tentando ouvir mais, mas as vozes se afastaram, e a escuridão me envolveu novamente.

Quando acordei na manhã seguinte, senti-me consideravelmente melhor. A fraqueza ainda estava lá, mas mais como um eco distante do que a paralisia debilitante dos dias anteriores. Consegui me levantar e vestir sem ajuda, embora cada movimento ainda exigisse concentração.

Ao descer as escadas, ouvi vozes vindas da sala de estudos. Reconheci imediatamente o tom autoritário de Margareth, mas havia outras vozes que não me eram familiares. Aproximei-me silenciosamente, parando junto à porta entreaberta.

— ...símbolos antigos, sem dúvida — dizia um homem de voz grave. — Queimados no solo, como se tivessem sido gravados com fogo.

— Pode identificá-los, Druida Thorne? — perguntou meu pai.

— Alguns, sim. São marcas de uma seita antiga, que adorava entidades das sombras. Pensei que haviam desaparecido há séculos.

Empurrei a porta levemente, espiando para dentro. Meu pai estava de pé junto à lareira, com Margareth ao seu lado. Diante deles, três homens – dois vestidos com os uniformes verde-escuros dos guardas florestais, e um terceiro usando vestes marrons simples, mas com um medalhão de carvalho pendurado no pescoço. Este último, presumivelmente o Druida Thorne, era um homem idoso com uma barba branca que chegava quase à cintura.

— O mais estranho — continuou o druida — é que o Vermiscarro parecia estar fugindo de algo.

— Fugindo? — Margareth franziu o cenho. — Essas criaturas não fogem. Elas protegem seu território até a morte.

— Exatamente. — O druida assentiu gravemente. — O que quer que o tenha assustado... — Ele deixou a frase no ar, seu significado pairando pesadamente na sala.

Foi então que notaram minha presença. Meu pai se virou primeiro, surpresa e preocupação cruzando seu rosto.

— Elian! Você deveria estar descansando.

— Estou melhor — assegurei, entrando na sala. — O elixir ajudou.

Margareth me estudou com olhos críticos, mas não comentou. O druida, por outro lado, me observava com um interesse que me deixou desconfortável.

— Então este é o jovem Arcanista — disse ele, sua voz subitamente mais suave. — Ouvi dizer que você enfrentou o Vermiscarro com uma arte arcana notável.

Antes que eu pudesse responder, um dos guardas florestais se adiantou.

— Senhor Baronete, precisamos informar que... este não foi um incidente isolado.

Meu pai se virou bruscamente.

— O que quer dizer?

— Houve outros relatos. Animais agindo de forma estranha, alguns atacando vilas sem provocação. E... — Ele hesitou, olhando brevemente para mim antes de continuar. — Três caçadores desapareceram na floresta oeste, perto da fronteira com o feudo Von Stein.

Um silêncio pesado caiu sobre a sala. Finalmente, Margareth falou.

— A floresta está avisando. — Seu olhar encontrou o do druida, que assentiu lentamente.

— Sim, Arquiduquesa. Algo está perturbando o equilíbrio natural. Algo... perigoso.

Meu pai caminhou até a janela, olhando para a floresta que se estendia além dos campos.

— Enviei uma mensagem para a capital ontem — disse ele. — Com o selo de urgência máxima. A viagem levará cerca de cinco dias, mas espero uma resposta rápida.

Como se invocada por suas palavras, a porta se abriu, e um dos servos entrou, carregando uma carta em uma bandeja de prata. O selo real, vermelho e dourado, era inconfundível.

— Acaba de chegar, senhor — disse o servo, entregando a carta a meu pai.

Todos observamos em silêncio enquanto ele quebrava o selo e lia o conteúdo. Sua expressão ficou cada vez mais grave a cada linha.

— O Rei está ciente da situação — disse ele finalmente, dobrando a carta. — Aparentemente, houve incidentes semelhantes em outras partes do reino. Ele está convocando uma reunião de emergência do Conselho Arcano.

Margareth franziu o cenho, uma expressão que eu raramente via em seu rosto normalmente impassível.

— Isso é... inesperado — murmurou ela. — O Conselho não se reúne em sessão de emergência há décadas.

Meu pai assentiu, seu olhar encontrando o dela em um entendimento silencioso que não consegui decifrar.

— Druida Thorne, agradeço sua assistência — disse meu pai, voltando-se para o idoso. — Por favor, continue sua investigação. Qualquer descoberta, não importa quão pequena, deve ser relatada imediatamente.

O druida fez uma reverência respeitosa.

— Como desejar, Baronete Freimann. — Ele se virou para sair, mas parou ao meu lado. — Jovem Arcanista, cuide-se. A floresta lembra daqueles que a defendem... e daqueles que a ameaçam.

Com essas palavras enigmáticas, ele saiu, seguido pelos guardas florestais. Quando a porta se fechou, Margareth se virou para mim.

— Você deveria estar descansando — disse ela, mas sem a dureza habitual em sua voz.

— Estou bem o suficiente para ficar de pé — insisti. — E preciso saber o que está acontecendo.

Meu pai e Margareth trocaram olhares, e finalmente meu pai suspirou.

— Sente-se, pelo menos — disse ele, indicando uma poltrona próxima.

Obedeci, grato pelo apoio, embora relutante em admitir o quanto o simples ato de ficar de pé havia me cansado.

— O que está acontecendo? — perguntei, olhando de um para o outro.

— Não sabemos ao certo — admitiu meu pai. — Mas algo está perturbando o equilíbrio natural das florestas. Não apenas aqui, mas em todo o reino, aparentemente.

— E o Conselho Arcano? — perguntei. — Por que é tão significativo que estejam se reunindo?

— Porque — respondeu Margareth, seu tom grave — o Conselho só se reúne em emergência quando há uma ameaça arcana significativa ao reino. A última vez foi durante a Praga Sombria, há quase cinquenta anos.

Senti um arrepio percorrer minha espinha. A Praga Sombria era uma lenda sombria, uma época em que criaturas das sombras haviam invadido o reino, deixando morte e destruição por onde passavam.

— Você acha que... — comecei, mas Margareth ergueu a mão.

— Não tiremos conclusões precipitadas. — Ela olhou para meu pai. — Lucius, você deve partir para a capital imediatamente. Como Baronete Arcano, sua presença será requisitada.

Meu pai assentiu, embora pudesse ver a relutância em seus olhos.

— E quanto a você, bisavó? — perguntei a Margareth. — Como Arquiduquesa do Norte...

— Minha presença também será requisitada — confirmou ela. — Mas não partirei até ter certeza de que você está completamente recuperado e... preparado.

Havia algo em seu tom que me deixou alerta.

— Preparado para quê?

— Para o que está por vir — respondeu ela simplesmente. — Seu treinamento precisa mudar, Elian. O que aconteceu com o Vermiscarro mostrou tanto seu potencial quanto sua vulnerabilidade.

Ela se aproximou, seus olhos penetrantes fixos nos meus.

— A partir de amanhã, começaremos um novo regime. Você aprenderá a controlar não apenas os elementos, mas sua própria Força Vital. A canalizar energia de forma eficiente, sem se esgotar.

— Como? — perguntei, genuinamente curioso.

Em resposta, ela retirou algo de dentro de suas vestes – um pequeno cristal azul, do tamanho de uma noz, preso a uma corrente de prata.

— Com isto. — Ela segurou o cristal diante de meus olhos. — Um Cristal de Fluxo. Ele pulsa no ritmo da Força Vital de seu portador. — Ela o colocou em minha mão. — Você aprenderá a sincronizar seus feitiços com o cristal, a manter um fluxo constante e controlado, em vez de explosões imprudentes de poder.

O cristal era surpreendentemente quente ao toque, e enquanto o segurava, percebi que ele pulsava suavemente, como um segundo coração.

— Também introduzirei um novo exercício — continuou ela. — O Caminho do Fôlego Silente. Você manterá um feitiço ativo por longos períodos, mas em potência baixa e constante. Isso fortalecerá sua resistência e controle.

Assenti, compreendendo a lógica por trás do treinamento.

— E por último — disse ela, seu tom ficando mais severo — vou criar um selo temporário em você. Um limite arcano que impedirá que você gaste mais de sessenta por cento de sua Força Vital em combate.

— O quê? — Protestei imediatamente. — Mas isso limitará meu poder!

— Exatamente. — Seus olhos não demonstravam compaixão. — É uma trava de segurança, Elian. Para impedir que você se mate por imprudência. Quando aprender controle adequado, o selo será removido.

Quis argumentar mais, mas o olhar em seu rosto deixava claro que não havia espaço para discussão. Além disso, uma parte de mim sabia que ela estava certa. Eu havia chegado perigosamente perto da morte, e apenas por sorte ou destino havia sobrevivido.

Eu nem havia elevado minha runa para a hierarquia da chama, e já estava me matando completamente ao usar a arte divergente que eu criei.

— Há mais uma coisa — acrescentou ela, seu tom suavizando ligeiramente. — Quero que você mantenha um diário arcano. Registre suas sensações, seus limites, as flutuações em sua energia. É uma forma de autoconhecimento mágico que poucos Arcanistas praticam, mas que pode ser inestimável.

Meu pai, que havia permanecido em silêncio durante toda a explicação, finalmente falou.

— Bom. Agora, volte para a cama. Você ainda precisa descansar. Amanhã começaremos cedo.

Levantei-me, sentindo uma onda de tontura que tentei disfarçar. Antes de sair, porém, meu pai me chamou.

— Elian. — Sua voz me fez parar à porta. — Podemos conversar esta noite? Há... coisas que preciso lhe dizer antes de partir para a capital.

Assenti, intrigado pelo tom solene em sua voz.

— É claro, pai.

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