A Torre Negra não parecia uma construção.
Era como se o tempo tivesse derretido uma montanha e deixado só o vazio.
Seus degraus afundavam no chão como dentes, e o ar ao redor era feito de vapor frio e sussurros.
Velka e eu não dissemos nada enquanto entrávamos.
A porta se fechou atrás de nós por vontade própria.
O interior era escuro, mas não por falta de luz. Era como se a própria torre quisesse que não víssemos nada além do que ela mostrasse.
— Estamos separados — ouvi a voz de Velka desaparecer à distância. — Akira?!
Tentei correr, mas meus pés afundaram. O chão virou líquido. Um espelho.
Então eu vi.
Minha mãe.
Viva.
Estava ajoelhada, suja, chorando... segurando o corpo ensanguentado de alguém. Um homem.
Meu pai.
— Isso... não é real.
Mas era.
A torre me mostrava o que mais queria esquecer.
— Você nos deixou morrer — disse a ilusão com a voz da minha mãe. — E agora carrega o sangue daquele que destruiu tudo.
A cena se quebrou.
Cacos de vidro caíram do teto e formaram outra imagem.
Caos.
Sentado no trono de espinhos, olhando diretamente para mim.
— Você está me sentindo, não está?
— Saia da minha cabeça.
— Eu sou sua cabeça.
Avancei. Tentei cortar a imagem. Mas cada golpe abria mais cenas.
Eu, criança, gritando por ajuda.
Velka, em uma cela, sendo marcada.
Um campo em chamas.
Pessoas que eu matei.
Pessoas que me amaram e eu não salvei.
Comecei a gritar. As vozes não paravam.
Até que senti.
Uma mão.
Real.
— Akira. Ei... olha pra mim.
Velka.
— Como...?
— Eu te ouvi gritar. Segui sua dor. — Ela me segurou forte. — Você não está sozinho nisso.
— Eu vi tudo. Minha mãe. Meu pai. Caos... ele tá dentro de mim.
— E eu também estou. Não vou te deixar ser engolido por ele.
Ela me puxou para perto. Nossos corpos colidiram como fogo e tempestade. Não nos beijamos. Não precisávamos. O toque, o calor, o choro dela contra meu ombro... era amor.
Cru, quebrado, imperfeito.
Mas real.
— Se eu me perder — sussurrei — me mata.
— Não. Eu vou te encontrar. Mesmo que tenha que atravessar mil infernos.
A torre começou a tremer.
Os espelhos se despedaçaram.
No centro da sala, um selo de pedra brilhou em vermelho — rachando.
Primeira corrente... quebrada.
Mas nós ainda estávamos de pé.
Juntos.