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Chapter 3 - Capítulo 3 – A Escolha de Uma Rosa

Capítulo 3 – A Escolha de Uma Rosa

A noite havia se instalado suavemente sobre a propriedade dos Antonelli. O céu, salpicado de estrelas, refletia-se nas janelas amplas da mansão. O perfume de jasmim e lavanda invadia os corredores, misturando-se ao som das cigarras e ao murmúrio abafado de uma conversa séria na biblioteca.

Elena Antonelli, de pé diante da lareira acesa, mantinha os olhos fixos nas chamas. Seu semblante era duro, mas sua voz — ainda que doce — carregava uma firmeza cortante.

— Está com medo do imperador... ou da mulher empoderada que nossa filha pode se tornar?

Eduardo, sentado na poltrona com o cálice de vinho esquecido na mão, não respondeu de imediato. Observava a esposa com uma expressão indecifrável. Ela, tão frágil por fora, guardava em si um furacão. Um passado que nunca lhe dera liberdade de escolha. Um futuro que ela agora lutava para construir para a filha.

— É bom que Eleonor aprenda a se defender nesse mundo, continuou Elena, o olhar agora voltado para o retrato da família na estante. — Não quero que ela seja igual a mim. Sempre sorrindo, sempre obediente... Sempre esperando que os outros decidam por mim.

O silêncio caiu pesado entre eles. Eduardo respirou fundo.

— Eu entendo seu ponto de vista. De verdade, Elena. Mas... o imperador não quer uma princesa que se intrometa nos assuntos reais. Você sabe como ele vê as mulheres na corte.

Ela se virou rapidamente, os olhos faiscando.

— Só porque ela vai estudar na Escola Grande Reis não significa que vai se tornar intrometida! — sua voz ecoou pelas paredes forradas de livros. — Ela precisa de educação, precisa de preparo, precisa de força. A Escola pode oferecer isso.

— E perigos. — Eduardo rebateu com pesar. — Intrigas. Espiões. Venenos nas taças. Aulas de estratégia podem muito bem virar jogos de poder real.

— Então é melhor que ela aprenda a jogar do que a ser derrubada como uma peça descartável.

A tensão no ar poderia ser cortada com uma faca. Mas havia amor ali — amor real. E também, medo. Medo de perder a filha para o destino. Medo de que a chama que começava a arder em Eleonor se tornasse fogo demais para conter.

Depois de longos minutos, Eduardo se levantou, repousou o cálice na lareira e olhou para a esposa.

— Está bem. — Sua voz era baixa, mas definitiva. — Eu vou falar com o imperador.

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No dia seguinte, Eleonor acordou cedo. Não por causa dos raios de sol que atravessavam as cortinas, mas por um pressentimento que pesava em seu peito. Algo estava diferente.

Maria a ajudou a se vestir. A jovem garota manteve o silêncio enquanto sentia os dedos delicados trançando seu cabelo. No espelho, via uma menina de vestido creme com bordados dourados. Mas dentro dela, algo mais vibrava — a intuição afiada de uma mulher que já havia vivido, matado, morrido.

Ao descer as escadas, encontrou os pais à mesa do café. Havia certa solenidade no ar. O Marquês a fitou com gentileza, mas havia gravidade em seu olhar.

— Eleonor, precisamos conversar, disse ele, puxando a cadeira para ela.

— O que foi, pai?

— Tua mãe e eu tomamos uma decisão. Você irá estudar na Escola Grande Reis.

Ela congelou por um instante.

Grande Reis?

Lembrava daquele nome. Na sua vida passada, fora uma escola lendária — uma mistura de academia, arena e campo de batalha para filhos da nobreza e herdeiros do império. Era onde se formavam diplomatas, guerreiros, estrategistas. E assassinos.

Seus dedos cerraram o garfo com força.

— Vocês têm certeza? — perguntou ela, com um tom mais maduro do que sua idade sugeria.

Elena sorriu com ternura.

— Sim, minha flor. Será difícil. Mas achamos que é o certo.

Eduardo completou:

— Falei com o imperador ontem. Expliquei nossos motivos. Recebi... uma aprovação relutante. Ele não confia em garotas "curiosas demais", mas permitiu com uma condição: que você se mantenha longe das alas de comando político.

Eleonor assentiu lentamente, mas por dentro algo borbulhava. Ela já havia nascido duas vezes. Já morrera por desafiar um sistema. Agora, ganhava uma chance — não apenas de sobreviver, mas de se moldar de novo.

No fundo, sentiu... esperança.

E medo.

Mas também determinação.

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Na tarde daquele mesmo dia, enquanto arrumava os pertences em um baú que Maria etiquetava com fitas douradas, Elena entrou no quarto da filha. Sentou-se ao lado dela, em silêncio, por alguns instantes.

— Você tem algo de mim, disse. — Mas também tem algo que nunca tive: coragem.

Eleonor a olhou com doçura.

— Você é mais corajosa do que pensa, mãe. Só esconde isso bem.

A mãe sorriu, surpresa.

— Você fala como alguém que já viveu uma vida inteira.

— Talvez tenha.

— O que disse?

— Nada. — Eleonor sorriu de leve.

As malas foram fechadas. A carruagem estaria pronta ao amanhecer.

Enquanto a noite caía mais uma vez sobre a mansão Antonelli, Eleonor fitava o céu da varanda, os olhos refletindo o brilho distante das estrelas.

"Uma escola de reis..." — pensou. "Um campo de guerra. Um lugar onde fraqueza é punida com esquecimento. Mas agora, sou outra. E vou florescer com espinhos, se for preciso."

Ela não seria domada. Nem apagada.

Ela era a Indomável.

E sua jornada... estava apenas começando.

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