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Chapter 4 - Capítulo 4 – Rosas Entre Espadas

Capítulo 4 – Rosas Entre Espadas

O portão da Mansão Antonelli se fechou devagar, acompanhado do eco das rodas da carruagem deslizando sobre as pedras da estrada. Eleonor olhou pela janela enquanto o horizonte engolia sua casa natal. Ao seu lado, o silêncio da despedida pesava mais que mil palavras.

No último instante, ela vira Maria chorar discretamente, o lenço branco pressionado aos lábios trêmulos. A babá, aquela que lhe dava chá com mel, que trançava seu cabelo, que cantava baixinho à noite. Elena e Eduardo estavam de pé, firmes, mas seus olhos diziam tudo: medo, amor, orgulho. Eleonor segurou-se o quanto pôde, mas quando a carruagem virou a esquina, as lágrimas escaparam.

"Eles são minha família agora."

Por mais estranho que fosse, em tão pouco tempo, havia criado laços. Lembrava-se da dor da perda em sua vida passada, da solidão que a devorava em silêncio. Agora, sentia medo de perder algo bom... de novo.

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A Escola Grande Reis era mais que um colégio. Era uma fortaleza.

Torres de pedra branca e portões altos protegiam pátios internos onde jovens nobres treinavam, estudavam e competiam. Bandeiras de impérios vizinhos tremulavam ao vento, cada uma representando um clã, uma casa, uma esperança.

No primeiro dia, Eleonor se sentiu sufocada.

Alunos corriam de um lado para outro. Uniformes impecáveis, vozes autoritárias, gestos disciplinados. Todos pareciam saber exatamente quem eram. E ela? Era uma alma antiga, enfiada no corpo de uma menina deslocada no tempo.

Mas logo, tudo começou a mudar.

As aulas não eram fáceis, mas para alguém com uma mente forjada em estratégia, veneno e manipulação, o conteúdo parecia... leve. História dos impérios, etiqueta, táticas de guerra, esgrima, idiomas. Ela absorvia tudo. Sua memória fotográfica fazia o impossível parecer natural. Cada palavra lida era gravada. Cada aula, um mapa mental.

Logo, ela deixou de ser a "menina nova" para se tornar a promessa mais brilhante da escola.

E com o sucesso... vieram os olhares. Os aplausos. E a inveja.

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Entre todas as figuras que surgiram, Victoria Wilson foi a mais inesperada.

Filha do poderoso Marquês de Britânia, noiva do príncipe Charles da Espanha, Victoria era a personificação da realeza. Altiva, elegante, inteligente. E profundamente competitiva.

No início, implicava com Eleonor a cada oportunidade.

— "Você senta na primeira fila como se fosse especial."

— "Não pense que pode simplesmente aparecer e roubar a atenção."

Mas não foi o sarcasmo que marcou o fim da hostilidade. Foi um duelo de palavras.

Durante uma aula de Filosofia Política, a professora questionou o direito do trono por hereditariedade. Victoria defendeu a tradição com eloquência. Eleonor contra-argumentou com precisão, citando leis antigas, falhas em sucessões imperiais e casos históricos de tirania.

A sala silenciou.

Victoria encarou Eleonor por longos segundos.

— Você venceu. — disse, por fim. — É a mais inteligente aqui.

A partir desse dia, nasceram não rivais... mas aliadas.

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As duas começaram a estudar juntas, mesmo que suas personalidades conflitassem.

Em uma tarde de primavera, as duas estavam na biblioteca, cercadas por livros de história. Victoria batia a cabeça contra os dedos, frustrada.

— Victoria, você tem que parar de ser tão perfeccionista! É errando que aprendemos! — disse Eleonor, sorrindo ao ver a amiga quase arrancar as folhas do caderno.

— Pra você é fácil! Você sabe todas as respostas! Isso é injusto! — gritou ela, largando a pena.

Eleonor disfarçou o incômodo. Ninguém sabia do segredo de sua mente. Ela via cada página lida como uma imagem clara. Não esquecia nada. Mas escondia esse dom para não ser tratada como aberração.

Na prova de história, Eleonor tirou nota máxima. Victoria ficou logo atrás com 80% de acerto.

— Como você consegue ser boa em tudo, Ada? — resmungou Victoria, chamando-a ainda pelo nome que todos conheciam. — Antes eu sempre fui a melhor. Agora... fico em segundo lugar!

Eleonor riu.

— Não fique irritada! Pense bem, em beleza você me vence!

Victoria revirou os olhos.

— Pelo menos em alguma coisa...

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Os rumores começaram a correr pelos corredores de pedra: as meninas prodígios. As duas flores da Grande Reis. Inteligentes, belas, fortes.

Na arena de esgrima, elas venciam os torneios com graça e precisão. Em debates, silenciavam professores. Nos testes táticos, criavam estratégias que até os instrutores elogiavam.

Garotos as admiravam. Muitos tentavam cortejá-las com flores escondidas nos livros, bilhetes secretos nas janelas. Mas romance era estritamente proibido dentro da Grande Reis. Quebrar a regra resultava em expulsão. Ainda assim, sorrisos tímidos e olhares cruzados não podiam ser controlados.

Victoria parecia se divertir com isso.

— Você viu como o cadete Julian olhou pra você ontem? — sussurrou, enquanto atravessavam o jardim central.

— Ele tropeçou em um vaso, Victoria. Acho que foi isso.

— Claro... tropeçou no seu charme.

Eleonor apenas balançou a cabeça, mas havia um leve rubor em seu rosto.

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Mesmo com os dias passando entre risos e vitórias, Eleonor não esquecia quem era. Nem de onde veio.

À noite, às vezes, sonhava com o cheiro de pólvora. Com gritos abafados. Com mãos cobertas de sangue.

E acordava ofegante, o coração batendo como um tambor de guerra.

"Você está vivendo outra vida agora", dizia a si mesma.

Mas havia algo dentro dela... que jamais dormia.

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