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Chapter 7 - capitulo 7

O inverno nas montanhas de Khaeryon chegou mais cedo naquele ano. A neve cobria os telhados do templo e deixava o ar espesso, carregado de silêncio. Era o tempo em que todos se recolhiam, mas para os irmãos, o aprendizado não parava.

Vhaen os levava para fora ainda de madrugada. Subiam as escadas geladas em silêncio, Rhaziel resmungando baixo, Therys sempre alguns passos atrás. No alto do platô, o mestre traçava símbolos no chão e dizia:

— Lutem.

Não explicava mais nada. Só isso.

Os dois se olhavam. Por vezes, hesitavam. Mas sabiam que Vhaen não aceitava dúvidas.

A luta começava.

Therys era defensivo. Usava barreiras de gelo, espelhos finos, cortinas congeladas que desviavam o calor. Cada movimento seu parecia calculado. Já Rhaziel era impulso. Atacava com jatos curtos de fogo, círculos flamejantes, faíscas em espiral. Quando errava, errava com força.

A cada duelo, a neve derretia e congelava de novo. O chão ficava coberto de marcas, como se fosse um livro antigo sendo escrito por dois autores que nunca concordavam.

Na quinta manhã, algo novo aconteceu.

Rhaziel conseguiu concentrar uma pequena esfera de fogo na palma. Girava, firme, como um coração ardente.

— Você viu isso? — perguntou, surpreso consigo mesmo.

Therys olhou, sério.

— Está estável.

Rhaziel sorriu.

— Eu nunca tinha conseguido manter por tanto tempo. Senti... paz.

Therys virou-se para o céu, pensativo.

— Eu também. Hoje, pela primeira vez, não precisei conter meu gelo. Ele veio... como se confiasse em mim.

Vhaen observava de longe, como sempre. Mas não interrompeu. Voltou para o templo sem dizer uma palavra. Quando entrou na biblioteca, pegou um dos pergaminhos mais antigos e anotou:

"O controle não vem da força, mas da aceitação. Fogo e gelo são filhos da mesma raiz: o medo."

Naquela noite, Rhaziel sentou-se na janela do quarto, os pés descalços sobre o parapeito gelado.

— Therys... você já pensou no que tem lá fora?

O irmão fechou o livro.

— Fora do templo?

— Sim. Outros magos. Outras pessoas. Talvez... batalhas de verdade.

Therys demorou para responder.

— Eu penso no que acontecerá quando formos chamados. Vhaen não nos treina por orgulho. Ele espera algo.

Rhaziel assentiu.

— E você? Está pronto?

Therys respirou fundo.

— Não. Mas estou perto.

Um trovão ecoou ao longe, mesmo sem nuvens. Um som seco, profundo, como o prenúncio de algo distante. Ambos se entreolharam.

No dia seguinte, acordaram com as cores de seus poderes ligeiramente diferentes.

O fogo de Rhaziel ganhara reflexos alaranjados, como o sol poente.

O gelo de Therys tinha toques de prata, como lâminas finas de lua.

Era o sinal: seus dons estavam evoluindo.

E com isso, o destino se aproximava.

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