EPISÓDIO 5 – E Se Eu Compartilhasse Quem Eu Sou?
Narrado por Ju-kyung
Faz dias que meus pensamentos andam inquietos. Mesmo nas horas mais silenciosas, minha mente grita. Não de medo, mas de vontade.
Vontade de fazer algo novo. Algo meu.
Desde que terminei o curso de maquiagem, tenho vivido entre espelhos, pincéis e tons de base. É como se minha linguagem fosse feita de texturas, cores e pele. Transformar rostos sempre foi mais do que estética — era um jeito de transformar sentimentos.
E se eu compartilhasse isso com o mundo?
Essa pergunta começou pequena. Sussurrada. Mas, agora, ela grita cada vez mais alto.
No café da manhã, Hee-kyung me olhou como quem lê pensamentos.
— Você tá com essa cara de quem tá escondendo um plano.
— Hm?
— Quando você faz essa ruguinha na testa, é porque tá tramando alguma coisa.
Suspirei. Ela me conhece demais.
— Estava pensando… em talvez… abrir um canal. De maquiagem.
Ela arqueou uma sobrancelha.
— "Talvez"?
— Tá, tá. Eu tô pensando com vontade. Mas ainda tô insegura. E se ninguém assistir? E se me criticarem? E se eu travar na frente da câmera?
— E se você voar?
Fiquei em silêncio. Porque, no fundo, era disso que eu tinha medo. Não de falhar, mas de dar certo — e não saber lidar.
Passei o resto do dia vendo vídeos antigos das primeiras youtubers que eu acompanhava no colégio. Aquelas que me ajudaram a segurar os pedaços de autoestima quando tudo parecia desmoronar. Algumas tremiam ao falar, erravam, se atrapalhavam… mas eram reais. Verdadeiras.
Pensei: se elas puderam, por que eu não?
Peguei meu celular e testei gravar algo. Só pra ver como seria. Ajustei a câmera, sentei diante da janela pra pegar a luz e respirei fundo.
— Oi, meu nome é… Ju-kyung. E… bom, eu amo maquiagem. Desde que aprendi a usar base pela primeira vez, vi no espelho algo que ninguém mais via: esperança.
Parei. Ri de nervoso. Apaguei. Gravei de novo. E de novo.
Não ficou perfeito. Mas pela primeira vez, me vi com olhos gentis.
Na noite seguinte, com o notebook no colo, abri uma conta de e-mail nova. Nome do canal? Ainda não tinha certeza. Algo como "Verdadeira Beleza" parecia óbvio demais. Mas talvez... certo.
Hee-kyung entrou no quarto e me flagrou sorrindo sozinha.
— Já tá rica, famosa e patrocinada?
— Ainda não. Mas já tô com frio na barriga — respondi, rindo.
Ela se sentou ao meu lado e olhou a tela.
— Você sabe que tem algo especial, né? Você não ensina só maquiagem. Você conta histórias com ela.
E naquele instante, percebi que era isso. Eu queria contar histórias. Não apenas passar um blush ou ensinar a técnica do delineado perfeito, mas mostrar que por trás de cada rosto há uma jornada.
A minha, por exemplo, ainda estava sendo escrita.
No fim de semana, decidi gravar um piloto. Só um vídeo. Nada de edições complexas, cenários elaborados ou filtros exagerados.
Só eu, meu espelho e meu kit de maquiagem.
Comecei com algo simples: como esconder olheiras depois de uma noite difícil — dessas que a gente chora mais do que dorme.
Falei sobre tons, texturas e técnicas, mas também sobre como maquiagem não apaga quem somos. Ela apenas ajuda a gente a se encontrar.
Terminei com a frase:
— Você não precisa se esconder pra ser bonita. Você só precisa se permitir ser você.
Salvei o vídeo. E, pela primeira vez, não apaguei.
Mostrei pra minha mãe naquela noite. Ela assistiu em silêncio. Por um segundo, achei que ela fosse criticar, sugerir que eu "pensasse em algo mais seguro". Mas quando o vídeo acabou, ela me abraçou.
— Eu não entendo muito desse mundo. Mas entendo de verdade. E você foi verdadeira. Isso é bonito.
E isso... era tudo o que eu precisava ouvir.
Ainda não postei o vídeo. Não sei se vou postar amanhã ou semana que vem. Mas sei que estou um passo mais perto.
Um passo mais perto de mim.
De quem eu fui. De quem estou me tornando.
Talvez abrir um canal não mude o mundo. Mas pode mudar o meu. Pode curar outras meninas que, como eu, um dia olharam no espelho e desejaram ser outra pessoa.
E se, no meio disso, eu puder ser um ponto de luz na escuridão de alguém… então já vale a pena.
Fim do Episódio 5