LightReader

Chapter 4 - Capítulo 4

Embora a vida fosse mais difícil, nada era mais importante para Lu Bu do que ter ambos os pais nesta vida.

Em sua vida anterior, ele perdeu o pai pouco depois de nascer, e sua mãe faleceu quando ele tinha treze anos. Perder os pais tão cedo fez com que Lu Bu desejasse profundamente esse tipo de afeto parental. Nesta vida, poder ter pai e mãe, mesmo que a vida não fosse fácil, deixava Lu Bu muito feliz.

Um grupo de crianças da mesma idade na aldeia o rejeitava de forma sutil, porque seus pais sempre o comparavam com Lu Bu. Com o tempo, a insatisfação que não podiam descarregar nos próprios pais naturalmente recaía sobre Lu Bu.

Mas será que Lu Bu se importaria com a exclusão e o isolamento de um bando de garotinhos? Obviamente não. Ele até achava um pouco engraçado o comportamento infantil daqueles "cotocos".

O pai desta vida falava pouco, a não ser quando estava trabalhando ou dormindo. Só durante as refeições a família se reunia. Lu Bu mal sentia a presença do pai. No entanto, aquele pedaço de carne a mais em sua tigela fazia Lu Bu sentir uma pontada inexplicável no coração. Não era nada de especial — na vida anterior ele nunca tinha passado falta de carne, mesmo na infância — mas justamente aquele pequeno pedaço o fazia querer chorar.

Mais um ano se passou, e quando Lu Bu tinha quatro anos, sua mãe engravidou novamente. Lu Bu, que nunca tivera irmãos, achou aquilo muito novo. Que tipo de sensação seria ter um irmão ou irmã de sangue?

Após nove meses de gravidez, Lu Bu já tinha cinco anos quando ela deu à luz. Entre os gemidos dolorosos da mãe, a família Lu ganhou uma nova vida: uma menina. Lu Bu achou maravilhoso. Ao ver o rostinho enrugado da irmãzinha, lembrou-se de sua filha de sua vida anterior, Lu Lingqi, e não sabia como mãe e filha viveram depois que ele partiu. Já se passara cinco anos, e ele achava que tinha esquecido, mas, ao pensar nisso, sentia uma dor inexplicável no peito. Num lar alheio, uma viúva e uma órfã talvez não tivessem uma vida boa.

— Vamos vender a Yao'er.O pequeno Lu Bu, que estava tão animado por ter uma irmã, não conseguia dormir naquela noite. Quando quis ir vê-la, ouviu a conversa entre os pais e ficou paralisado, como se tivesse sido atingido por um raio.

Yao'er era, naturalmente, sua irmãzinha.

— Chefe da casa, não há outro jeito, afinal, é sua própria carne e sangue… — a voz da mãe estava embargada, cheia de relutância.

— Não tem como. Mal conseguimos sustentar nossa família com o Abu. Além disso, criar uma menina para outra família não vale a pena — disse o pai, balançando a cabeça, sem coragem de olhar para a filha recém-nascida.

Foi a primeira vez que Lu Bu sentiu a impotência de uma família pobre. Mas ele não conseguiria simplesmente assistir à irmã sendo entregue a outros. Ficou diante do pai:

— Pai, não podemos entregá-la! Eu posso comer menos!

— Não. Se você não comer o suficiente e morrer de fome, nossa casa estará arruinada — respondeu o pai, firme.

— Então eu vou trabalhar! Eu também posso trabalhar! — disse Lu Bu, decidido, bloqueando a saída do pai. Mas nesta vida ele não era o famoso general voador do passado; era apenas uma criança comum, sem forças para se opor a um adulto.

— Você não consegue!

— Eu consigo! — os olhos de Lu Bu se encheram de lágrimas, ficando vermelhos. — Pai, eu vou conseguir! Não leve a irmãzinha embora!

Olhando para o filho, o pai sentiu que não estava diante de uma criança. Aqueles olhos avermelhados eram como os de uma fera prestes a devorar alguém, intimidando quem os encarava.

No fim, o pai se sentou, atordoado, e Lu Bu aproveitou para pegar a irmãzinha nos braços, acalmando-a enquanto ela chorava.

A partir daquele dia, Lu Bu cumpriu sua palavra e passou a ir trabalhar no campo com o pai todos os dias. O pai achava que o filho desistiria ao enfrentar as dificuldades, mas Lu Bu não demonstrou nenhum sinal de recuo. Ele não entendia muito de trabalho no campo, mas carregava estrume, adubava e carpia todos os dias, durante um ano inteiro, sem reclamar. No começo, ainda atrapalhava; no segundo ano, já conseguia aliviar bastante o peso do pai.

A família tinha dois acres de terras próprias e, além disso, trabalhava como meeira nas terras do líder da aldeia, o que rendia alguma coisa. Mesmo assim, depois de pagar os impostos, era impossível sustentar quatro pessoas. Como meeiros, conseguiam mais alguns sacos de grãos, e com as galinhas criadas pela mãe em casa, mal conseguiam sobreviver.

Quando Lu Bu tinha oito anos, o pai já lhe havia confiado completamente os dois acres de terras, concentrando-se apenas no trabalho de meeiro, o que aumentava a renda. Muitos na aldeia invejavam o pai de Lu por ter um filho tão sensato e capaz.

Nos últimos dois anos, Lu Bu também aprendeu muito sobre o cultivo: já sabia prever o clima mais ou menos e até avaliar pela terra a quantidade certa de adubo. Os dois acres da família floresciam sob seus cuidados.

Mas, mesmo assim, os grãos colhidos e os obtidos como meeiros mal davam para sustentar a família, conforme Lu Bu e a irmã cresciam. Lu Bu passou a entender profundamente como era dura a vida de um simples camponês. Todo dia, a família dava tudo de si só para sobreviver, e mesmo assim era tão difícil avançar… tão difícil!

— Pai, a gente não paga imposto aqui em casa? — perguntou Lu Bu, já com dez anos, enquanto, no inverno — a época mais calma do ano —, saía para caçar nas montanhas e ajudar a sustentar a família. Sua pontaria e talento com o arco permaneciam da vida anterior, e ele ia aperfeiçoando a visão e a experiência. Pai e filho estavam sentados na porta de casa quando Lu Bu franziu a testa. Eles trabalhavam como cães todos os dias apenas para encher a barriga.

— A família do líder tem muitas terras férteis, mas paga o mesmo imposto que nós — suspirou o pai, sentado no batente.

Essas palavras deixaram Lu Bu atônito por muito tempo…

More Chapters