A brisa do sol entrava pela janela de uma mansão luxuosa no alto de uma montanha. Ao lado, piscinas espelhavam o céu; os jardins estavam perfeitamente organizados. A mansão, decorada de branco por fora e por dentro, refletia a luz daquela manhã tranquila. Os pequenos raios de sol que atravessavam a janela do quarto iluminavam uma tela de 150 polegadas. Dentro do quarto, perto da tela, um homem estava deitado na cama. O silêncio era, por vezes, tão profundo que só era quebrado pela respiração ritmada do homem. Ele dormia em uma cama extremamente confortável. Seu corpo não era nem magro nem musculoso, mas sua pele era suave como a de um bebê. O cabelo preto roçava nos lençóis.
Pois o nome do homem era Kaios Dervios.
TIC! TIC!
Um despertador, ao lado de sua cabeceira, tocou com um alarme tão estridente que era impossível de ignorar. Kaios não pôde evitar — jogou os lençóis para cima do travesseiro. Estava sem camisa, usando apenas calças pretas. Espreguiçou-se com um bocejo absurdamente sonolento, e sua aparência mostrava que o sono ainda não tinha desaparecido por completo. Com esforço, Kaios se levantou e seguiu para a porta à sua direita. Essa porta levava ao banheiro.
Kaios se aproximou de uma banheira cheia de água. Colocou os braços na borda e franziu o rosto, cerrando os dentes.
"Está fria demais."
Não parecia zombar da água, mas sim se surpreender com o frio que parecia ter saído direto do Ártico. Mesmo assim, sem hesitar, lavou o rosto. Sua pele tremia. A água estava tão gélida que o despertou completamente. Agora, com o rosto lavado e abalado pelo frio, ele olhou para a porta de saída e segurou seu cabelo sedoso.
"Eu devia ter aquecido antes de tocar."
Ao voltar para o quarto, seu cabelo estava impecável. Seu rosto bonito, agora com o cabelo arrumado, o tornava ainda mais encantador. Pegou uma camisola branca e vestiu, colocando por cima um casaco preto.
"Uff."
Respirou fundo e, abrindo as palmas das mãos, naquele instante, uma moeda surgiu sobre seus braços. Ela pulsava com um brilho vermelho intenso, como se fosse feita de lava infernal. A moeda tinha dois lados distintos:
Cara de um lado_
E do outro_
Coroa_
Kaios segurou a moeda entre os dedos e a lançou para o alto. Seus olhos acompanharam o giro da moeda com atenção. A cada volta, suas sobrancelhas tremiam. Quando a moeda estava prestes a tocar o chão, Kaios a agarrou com a mão direita. Seu coração batia forte. Ele cravou o olhar sobre a moeda em sua mão: era coroa. Seus olhos brilharam, e um leve sorriso de satisfação surgiu.
Naquele instante, Kaios abriu a porta à sua esquerda e saiu do quarto. A moeda já não estava em sua mão — havia sumido. Ele desceu as escadas que levavam à sala do andar inferior. Os passos pesados ecoavam pela mansão. Ao chegar ao último degrau, estava na sala, onde havia acessórios caríssimos e um mini bar, próximo à escada que subia novamente.
À esquerda da sala, estava a porta que dava acesso ao exterior da mansão. Mas antes que Kaios pudesse alcançá-la, uma voz feminina ecoou pelos arredores da casa, carregada de exaustão.
"Cê tá saindo de novo? A gente prometeu que hoje ia pra casa da nossa prima!"
Parado diante da porta, Kaios congelou. Sabia que aquela era a voz de sua irmã, Cath. Olhou para trás para ver se ela estava ali, mas não. A voz vinha do quarto dela. Kaios suspirou, aliviado.
"Sinto muito, mas isso vai ter que esperar até amanhã!"
Disse com um tom depressivo, como se se sentisse obrigado a fazer algo que nem queria.
Ele saiu pela porta principal. Do lado de fora, o aroma de um jardim recém-regado pairava no ar. As piscinas refletiam a luz do sol. Vários carros estavam estacionados na garagem. Lá embaixo, da montanha, via-se apenas a estrada e a floresta.
Kaios caminhou até um dos carros, um modelo laranja de uma marca absurdamente cara. Entrou, ligou o motor e saiu pelos portões. As rodas giravam sobre a estrada que serpenteava montanha abaixo. Em segundos, ele já cruzava a rodovia em direção à cidade.
Logo sua velocidade aumentou.
VROOMM!
Outros carros também percorriam a estrada. Com os vidros abaixados, seus ocupantes colocavam as cabeças para fora e gritavam desesperados:
"Eu te amo, Kaios! Por favor, deixa a gente tocar na sua pele! A gente implora! Te adoramos!"
Até mesmo os que caminhavam a pé na estrada gritavam a mesma coisa. Kaios, indiferente, apenas acenava com a mão esquerda, e isso bastava para deixá-los ainda mais histéricos, como se vissem um deus.
Seu carro avançava em alta velocidade. O vento forte fazia seu cabelo preto levitar, criando um efeito dramático. Ele seguiu pela estrada até alcançar a cidade: prédios altos, ruas movimentadas... Mas a cidade inteira parava para admirá-lo. Crianças, adultos, idosos — todos encaravam Kaios com fascínio.
"Quando eu crescer, quero ser como o Kaios!"
Dizia uma criança de cinco anos, no colo da mãe, perto de um prédio próximo a uma boate. Era a mesma boate onde Kaios estacionou seu carro laranja. Vários homens musculosos, vestidos de preto, se aproximaram. Pareciam já estar esperando por ele. Uma placa acima da entrada dizia:
"Seja bem-vindo, Kaios Dervios. Nós te adoramos!"
As pessoas se aproximavam, tentando tocar na pele macia de Kaios, mas eram impedidas pelos seguranças de braços enormes. Eles abriram a porta da boate para que ele entrasse. Assim que Kaios passou, a porta se fechou.
Lá dentro, luzes negras cruzavam o ambiente. O som alto da música fazia todos dançarem. O cheiro de suor, cigarro e álcool era intenso. Todos dançavam — até que notaram Kaios Dervios.
Pararam. Ficaram apenas observando o homem com o rosto de um príncipe encantado.
"Que lindo... Eu quero dançar com ele. Preciso pedir com jeitinho!"
Homens e mulheres sussurravam a mesma coisa.
Kaios foi até o palco. As pessoas abriram caminho. Ao chegar, pegou o microfone da mão do DJ e, com uma voz firme e sedutora, declarou:
"Tem bebida pra todo mundo. Tudo por minha conta."
O público explodiu de alegria, gritando seu nome. Kaios desceu do palco e foi até um sofá próximo. Mulheres, vestidas com roupas mínimas e sensuais, largaram seus parceiros para se aproximar dele. Passavam as mãos pelo pescoço de Kaios com gestos de puro desejo.
Os namorados observavam de longe, rindo e bebendo.
Entre eles estava Lin, um homem careca vestido de branco. Ele via sua namorada acariciar Kaios e murmurava:
"Isso é demais. Finalmente minha namorada teve a chance de tocar na pele do senhor Kaios. Estou tão orgulhoso de você, amor!"
Dizia feliz, com uma empolgação doentia.
Enquanto Kaios era rodeado de mulheres, o tempo passou despercebido. Quando olhou seu relógio de ouro puro, marcava 0:21.
Levantou-se e saiu, contornando as mulheres. Os seguranças o acompanharam. Lá fora, a cidade estava em silêncio. Só se ouvia o som abafado da música da boate. Kaios bocejou. Sem se despedir dos seguranças, entrou em seu carro laranja e ligou o motor.
Acelerou.
As rodas giraram como se estivessem famintas pela estrada. Ele seguiu rumo à mansão na montanha.
Ao chegar, desceu do carro e, sem se preocupar em estacionar, entrou em casa. Subiu lentamente as escadas, para não acordar Cath.
Foi até seu quarto, deitou-se na cama — e adormeceu no mesmo instante.
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Na manhã seguinte, os raios do sol atingiam a tela perto da cama de Kaios.
TIC TIC
O som do despertador foi extremamente alto, como de costume, impossível de ignorar. Kaios despertou, ergueu os braços para cima e se espreguiçou. Seu cabelo preto e macio tocava seu rosto. Levantando da cama, Kaios dirigiu-se ao banheiro e, estando novamente perto da banheira com água, murmurou:
"Ahh, de novo eu tenho de lavar o rosto com a água mais fria do planeta. Que merda!"
Dizia ele, depressivo. Mas, mesmo sem querer lavar o rosto, ele precisava, para não ficar com cara de sono. Então, em um ato rápido, Kaios lavou o rosto e escovou os dentes brancos.
Ao sair do banheiro, ele ergueu a palma da mão direita.
A mesma moeda de sempre, com brilho vermelho, apareceu sobre seu braço. Apertando-a com dois dedos, Kaios jogou a moeda para cima. Seus olhos não desgrudavam dela enquanto girava no ar. Antes que pudesse atingir o chão, ele a agarrou com precisão, com a mão esquerda.
Seu pulso e sua respiração estavam acelerados. Respirando fundo, ele abriu a palma da mão e olhou para a moeda.
Mas já não representava coroa.
A moeda representava cara.
"Mas que porra!"
Sua voz parecia carregar decepção. Ele falava com os dentes cerrados. A moeda desapareceu novamente. Kaios segurou o bolso do casaco e lembrou de algo — uma lembrança da noite passada. Tinha esquecido a carteira na boate.
"Sério isso? Não basta só a merda da moeda, eu tive que esquecer também a minha carteira!? Ótimo para um começo de dia!"
Resmungou ele, depressivo e sarcástico. Abriu a porta, saiu do quarto e desceu as escadas. O som dos seus passos nos degraus era tão alto que parecia pisar com força de propósito, tamanha a angústia que carregava.
Ao alcançar o último degrau, Kaios chegou à sala, onde ficava a porta principal. Dentro do ambiente estava sua irmã, Cath. Cabelos pretos, pijama rosa, pele macia igual à do irmão, rosto bonito como o dele. Ela viu Kaios abrir a porta para sair.
"Cê tá de brincadeira comigo? Cê prometeu que hoje a gente ia pra casa da nossa prima!"
Ela dizia com a voz meio arrogante, de tão exausta que estava. Kaios não respondeu. Simplesmente saiu, passando pelo carro laranja que nem havia estacionado na garagem. Entrou em outro carro, de cor vermelha. Ligou o motor e saiu pelos portões da mansão, indo em direção à cidade, em alta velocidade.
VROOOMM!
Um carro que também trafegava pela estrada passou tão perto que quase colidiu com o de Kaios. O motorista abaixou o vidro da janela e gritou, com uma voz alta e cheia de ódio, como se odiasse Kaios desde sempre:
"Você merece morrer! Ninguém ama você, seu idiota patético! Um dia eu vou te matar!"
As palavras eram tão intensas que não pareciam brincadeira.
Kaios ignorou, como se não tivesse ouvido nada. Apenas dirigia, com a intenção de pegar sua carteira. As pessoas nas calçadas o encaravam com olhares ameaçadores. Algumas atiravam pedras no carro. Outras simplesmente repetiam que o odiavam.
Sua chegada à cidade provocou sussurros por toda parte.
"Jamais ele será bem-vindo aqui. Ele deveria é estar morto!"
As pessoas não paravam de falar. Havia carros tentando bater no carro de Kaios. Tudo movido por um ódio tão irracional que nem sabiam explicar o porquê. Só sabiam que o odiavam.
Kaios estacionou seu carro perto da boate. Mas, dessa vez, nenhum segurança veio recebê-lo. Até os guardas que estavam por perto o encaravam com desdém. Kaios entrou no local. Não havia música, nem multidão. Apenas uma balconista e quatro homens bebendo vinho tinto. Entre eles estava Lin, careca, vestido com calça azul e camiseta branca.
Na parede da boate, o relógio marcava 13:35.
Kaios dirigiu-se ao sofá onde estivera sentado na noite anterior. Quando os quatro homens viram sua chegada, levantaram-se e vieram em sua direção.
"Oh! Seu idiota, cê tá procurando isso? Pois então vai se ferrar!"
A voz ecoou — era uma voz de puro ódio. Lin falava, mostrando a carteira que Kaios procurava. Os outros três riam dele. Lin balançava a carteira com a mão esquerda.
Antes que Kaios pudesse dizer algo como "Cê pode passar ela pra mim?", Lin puxou uma arma da cintura, com a mesma mão. Em um movimento brusco, ele não hesitou. Apontou a arma e, no segundo seguinte...
PA!
Lin puxou o gatilho. O disparo foi estrondoso. O cheiro de pólvora tomou conta do ambiente. A bala atravessou a cabeça de Kaios — bem no centro da testa. O sangue escorria. A bala perfurou também o relógio na parede, que agora marcava 13:36.
O corpo de Kaios começou a cair. Mas, antes de tocar o chão... ele se ergueu novamente. Vivo.
"Você vai me passar a minha carteira?"
Disse Kaios, já sem paciência.
Lin e os outros encaravam ele, em choque. Tinham certeza de que a bala havia atravessado sua cabeça. Tinham visto o sangue. Tinham acertado.
Mas agora... não viam nem uma gota. O buraco em sua testa havia sumido. Era como se ele nunca tivesse sido atingido.
Lin tremia. Suas mãos já não tinham forças para segurar a arma. Deixou cair a carteira e o revólver. Os outros tremiam também. Sem hesitar, fugiram para fora da boate.
Kaios os observou sem se importar. A mulher atrás do balcão respirava ofegante, apavorada. Kaios apenas pegou a carteira no chão, se levantou e saiu da boate. As pessoas na rua o olhavam com o mesmo desprezo de sempre. O mesmo ódio.
Entrou no carro. Ligou o motor.
Acelerou rumo à estrada.
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Ao chegar à sua mansão, Kaios desceu do carro e entrou na casa. Na sala, no sofá próximo à porta, estava Cath, deitada, com os pés apoiados na mesa. Sua expressão era profundamente triste. Pequenas marcas de lágrimas eram visíveis em seus olhos. Ela segurava o celular nas mãos.
Kaios passou por ela sem dar qualquer saudação. Apenas dirigiu-se ao mini bar perto das escadas.
Pegou uma garrafa cara de vodka, abriu, deu um gole enorme. Só então desviou o olhar para a irmã. Não queria perguntar, mas vendo-a daquele jeito... não pôde ignorar.
"Cê vai contar pra mim o que houve? Ou só vai ficar chorando?"
Cath não olhava para Kaios. Continuava encarando o celular. Com voz trêmula e um peso de perda, disse:
"A nossa prima... ela _"
Ela hesitou por um momento. E então continuou:
"Ela acabou de morrer às [13:36]."