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Chapter 2 - Arrogância em cima da ganância

Kaios mantinha o olhar fixo em Cath. O silêncio dominava a sala por alguns segundos.

Sua aparência não mostrava surpresa alguma com a informação recebida. Kaios não demonstrava choque emocional nem nada parecido

Ele permanecia em pé, segurando a garrafa de vodka. O cheiro do álcool se espalhava pela sala inteira. As lágrimas de Cath, marcadas pela perda, já não podiam ser contidas.

Ping!

As gotas caíam e manchavam o sofá branco onde ela estava sentada, celular nas mãos.

Com passos curtos, Kaios aproximou-se da irmã e falou com uma voz sarcástica, sem o mínimo de sentimento:

"E daí se ela se foi? Não importa o quanto você chore, os mortos não voltam só porque alguém decidiu chorar por eles!"

Disse Kaios, ainda com a garrafa em mãos, dando um grande gole na bebida. Ele virou-se de costas e seus olhos fitaram as escadas que levavam ao andar de cima, onde ficava seu quarto. Antes que pudesse dar um passo, Cath cravou os olhos nele, surpresa com sua atitude.

"Por que você sempre diz isso?"

Cath falou enquanto as lágrimas escorriam de seus olhos, com a voz rouca de tanto chorar.

"Quando o tio Ben morreu, quando o papai morreu, e até a Sara, a nossa própria irmã... você disse a mesma coisa. Não derramou uma lágrima sequer por eles!"

Ela abaixou a cabeça, soluçando de dor.

Ouvindo aquelas palavras, Kaios não olhou para trás. Colocou a garrafa no balcão do mini-bar. Suas sobrancelhas se franziram, os punhos apertados, mas não respondeu nada. Apenas subiu as escadas. Seus passos ecoavam alto a cada degrau, até que finalmente chegou ao quarto.

Sentou-se na cama e ligou a tela de 150 polegadas. Mas em todos os canais, os jornalistas repetiam a mesma coisa:

"Ele deveria ser extinto do planeta! Ninguém o ama, o mundo inteiro o odeia!"

Kaios desligou a TV sem hesitar e deitou-se na cama macia. As horas passaram. A noite surgiu e ele adormeceu.

No sono profundo, virava-se de um lado para o outro, como se sufocado em um pesadelo. O calor tomava seu corpo, a respiração era pesada. Dentro de sua mente, uma memória esquecida retornava.

Uma casa simples, sem luxo algum. As paredes verde-desbotadas. Gritos ecoavam pelos cômodos. No quarto pequeno, um espelho na parede refletia a cama gasta onde Kaios estava deitado, coberto por um lençol. Ele parecia quase o mesmo do presente, mas ainda criança.

De repente, uma voz ecoou do corredor:

"Tenha uma boa noite, filhão!"

Era a voz alegre de um homem. Kaios sabia quem era. Levantou a cabeça do travesseiro e respondeu, sem paciência, como se fosse obrigado:

"Valeu, pai... também tenha uma boa noite!"

Ele se deitou novamente. Então, um brilho vermelho, como brasas de fogo, iluminou todo o quarto.

De olhos fechados, Kaios não percebia nada, até que uma voz grossa sussurrou seu nome:

"Kaios... KAIOS..."

Assustado, ele abriu os olhos. O brilho desaparecera. Olhou pelos cantos do quarto, procurando quem o chamava.

"Papai, é você?"

Perguntou, erguendo a cabeça, com a certeza de que era seu pai. Mas naquele instante, pequenos pontos vermelhos brilharam na parede. Tremendo, Kaios encarou o espelho. O reflexo havia sumido. O vidro ardia em vermelho, como se fosse feito de lava.

Todos os músculos de Kaios se contraíram. Levantou-se, tomado pelo medo.

A voz grossa ecoou novamente, desta vez alta e poderosa:

"KAIOS! KAIOS!"

[✓✓✓✓✓✓✓✓✓✓✓]

De volta à realidade, Kaios despertou do sono ofegante, segurando o cabelo preto com a mão esquerda. Respirava fundo, tentando recuperar o fôlego. Jogou os lençóis sobre o travesseiro e ergueu os braços para cima.

TIC! TIC!

O despertador tocava alto como sempre. Antes que pudesse soar mais uma vez, Kaios bateu nele com tanta força que silenciou de imediato.

Levantou-se, foi até o banheiro. Depois do banho, exalava o cheiro de sabonete, com o cabelo impecavelmente arrumado. Vestiu-se, colocando um casaco preto por cima da camisa branca.

Então, abriu a mão direita. A moeda vermelha surgiu. Segurou-a entre os dedos e lançou-a ao ar. Seus olhos acompanhavam cada giro, como um caçador que observa sua presa. Antes de cair, Kaios a agarrou com precisão. Respirou fundo e olhou:

Coroa.

Seu rosto relaxou em leve alívio. A moeda desapareceu. Ele abriu a porta e desceu as escadas. O relógio de ouro em seu braço marcava [8:58].

Na sala silenciosa, entre os móveis caros, um papel estava sobre a mesa. Kaios se aproximou e leu:

"Eu acordei muito cedo e não queria incomodar você. Fui ao funeral da nossa prima. Se quiser participar, sabe onde me encontrar. [Cath]"

Depois de ler, Kaios recolocou a carta no lugar. Saiu pela porta principal. O aroma das flores recém-regadas pairava no ar.

Entrou em um carro preto de marca caríssima. Desceu a estrada em velocidade absurda, alcançando a cidade em menos de [15 minutos].

Sua chegada fez o público enlouquecer. Pessoas gritavam seu nome, diziam que o adoravam, esticavam as mãos para tocá-lo. Era como se o ódio do dia anterior tivesse desaparecido.

Kaios estacionou em frente a um prédio movimentado. Uma placa brilhava:

"Bar: esperamos por você, Kaios Dervios"

Ignorando os gritos do público, ele entrou. A música alta dominava o ambiente. O cheiro de álcool pairava no ar. Não havia multidão, mas todos cochichavam:

"É ele, o senhor Kaios... tão lindo!"

Kaios não disse nada. Caminhou até o terraço. O ar era fresco, a rua lá embaixo cheia de vida. Tirou um cigarro do bolso, colocou na boca e pegou o isqueiro. Antes de acender, uma voz masculina ecoou, cheia de empolgação:

"Aí, você também gira a moeda, né? Cara, isso é legal demais!"

Kaios virou-se para a direita. Um homem magro, com cabelos vermelhos pintados e roupas pretas, o encarava de perto.

"Quem é você?"

Perguntou Kaios, arrogante e desconfiado.

O homem sorriu de leve e respondeu animado:

"Ahh, meu nome é Neik. Sabe quando você joga a moeda e cai em coroa? Qual é a parada que você consegue fazer?"

Neik se aproximou ainda mais, ficando de costas para a beira do terraço. Subiu no parapeito e disse:

"Eu consigo fazer isso. Quer ver?"

Sem hesitar, Neik se jogou do prédio. Em queda livre, o vento rasgava seu rosto. Kaios observava de cima. Antes de atingir o chão, asas negras brotaram de suas costas. Ele bateu as asas e voou, afastando-se do terraço. Ergueu os braços e acenou para Kaios, como quem se despede.

O rosto de Kaios se fechou em frustração. Desceu para o salão do bar, atravessando a multidão que abria espaço para ele, mas ainda tentava tocá-lo. Ignorando todos, entrou no banheiro.

Na parede havia um grande espelho. Aproximando-se, gritou em voz firme e autoritária:

"Apareça!"

O espelho brilhou em vermelho, como fogo do inferno. O reflexo sumiu. Kaios, irritado, bradou:

"Por que ele não me adorou? Por que não implorou pra me tocar? Eu disse que era pra todo mundo, não importa quem, todos deveriam me ver como um deus! Você entendeu?!"

O silêncio dominou o local por alguns segundos.

Então, uma voz grave e calma ecoou do espelho:

"SEMPRE QUE VIER FALAR COMIGO, REDUZA ESSA ARROGÂNCIA E GANÂNCIA, KAIOS DERVIOS!"

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