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Chapter 77 - Que Inveja

Kitahara encontrou uma lanchonete de lámen ali perto e levou Komiyama e Tamamo Cross para comer.

Diferente da personalidade naturalmente extrovertida, alegre e meio excêntrica de Komiyama, Kitahara se via como alguém meticuloso em suas ações — até rígido e antiquado — e não gostava de ser casual demais.

Especialmente depois de ter passado um tempo com Tamamo Cross em Tóquio, ele havia criado certo carinho por aquela garotinha trêmula. Ver aquela pequena que sempre era tão cheia de energia agora tão abatida… fez com que ele quisesse resolver o problema psicológico dela o mais rápido possível.

— Não precisa se apressar, Senpai — disse Komiyama, com seus olhos sorridentes formando duas luas crescentes enquanto acenava com a mão depois de ouvir a ideia de Kitahara.

— O Tio Gujiu disse especificamente que tratamento psicológico normalmente requer um curso relativamente longo. A situação da Tamamo não é particularmente grave nem complicada, mas… estimativa conservadora: cerca de um mês. Então, se apressar não vai ajudar.

Kitahara franziu a testa.

— Tem uma coisa que você entendeu errado — disse ele, olhando diretamente nos olhos dela. — Não estou satisfeito com a sua postura.

— Você entende o que é TEPT, não entende? Para o paciente, é uma experiência extremamente dolorosa. Você…

Ele de repente decidiu não continuar.

O rosto de Komiyama parecia estar sempre sorrindo — talvez ela simplesmente sorrisse muito por ser alguém alegre. De qualquer forma, sorrindo ou não, seus olhos sempre se curvavam daquele jeito agradável.

Mas, naquele momento, uma tristeza silenciosa se quebrou dentro daqueles olhos em formato de lua.

— Eu… é claro que sei que ela está muito triste — ela disse baixinho, num tom calmo, como se estivesse completamente neutro.

— Assim como a Tamamo, eu também cresci bem graças aos cuidados do Velho.

— Eu sou filha do Velho. E também sou irmã mais velha da Tamamo.

— Tirando a mãe da Tamamo e o Velho, eu sou a pessoa que mais entende a Tamamo nesse mundo.

— Que ela está triste… é ÓBVIO que eu sei.

— Não preciso que ninguém me diga isso.

De repente, ela realmente sorriu.

— Tá tudo bem, Senpai. Não se culpe. Eu sei que você quis dizer isso porque se importa.

— Se você não ligasse pra Tamamo, não teria tentado me dar bronca.

Kitahara ficou um pouco envergonhado. Ele realmente estava se sentindo culpado. Se tivesse tido tempo para se acalmar, teria percebido isso sozinho — mas ter seus pensamentos expostos tão diretamente ainda o deixava constrangido.

— Haha… viu só? Eu disse, não disse? Esse Tio aqui parece todo desleixado e antiquado, mas na real é uma boa pessoa. Igual o Velho. Igual você…

Com a voz ainda fraca, Tamamo Cross esboçou um sorriso leve.

E então… explodiu.

— Ah ah ah ah… isso é tão irritante, como pode existir esse negócio de T-T-T sei lá o quê…

— Ah ah ah… como é que eu fico PERDENDO corrida atrás de corrida por pura zica? Se fosse só uma corrida, tudo bem — mas são CINCO CORRIDAS! CINCO DERROTAS SEGUIDAS!

— Qualquer um ficaria mal, né…

— Eu tinha planejado ficar com o Tio e com a Oguri mais um tempo, encontrar um momento certo para conversar, e aí talvez esse tal de T sei lá o quê se resolveria…

— Eu claramente… claramente prometi que ajudaria o Velho a cuidar dos meus irmãos e irmãs mais novos, e aí eu venho e perco feio desse jeito… que moral eu tenho pra falar em cuidar de alguém…

— É tão… invejável, a Oguri… eu invejo tanto ela por ainda nunca ter perdido…

Sem perceber, ela parou de olhar para Kitahara e Komiyama.

Ergueu a cabeça e começou a encarar o teto.

A boca escancarada num sorriso meio bobo, revelando duas presinhas fofas.

Os olhos bem abertos, as pupilas azul-safira fixas no teto, sem nem piscar.

Era como se — se ela abaixasse a cabeça, fechasse a boca ou piscasse — algo fosse cair.

— …O plano de tratamento do doutor Gujiu. Não me diga que você não trouxe.

Por algum motivo inexplicável, Kitahara entendeu instantaneamente como deveria lidar com Komiyama.

Quando você lida com alguém naturalmente íntima… você simplesmente não precisa ter cerimônia.

— Como se eu fosse esquecer algo assim! Senpai, do que você tá desconfiando?

Komiyama tirou a mochila escolar que carregava, remexeu lá dentro e retirou um maço de documentos.

— Aqui.

Enquanto Kitahara começava a folhear os papéis, ela pensou por um momento e comentou:

— Não sei se o Senpai está familiarizado com o termo, então vou adiantar: o plano do Dr. Gujiu se chama dessensibi…

— Terapia de dessensibilização. Como eu imaginei.

Só de olhar a capa, Kitahara entendeu pelo título que ele e Ren Kukubo pensavam da mesma forma.

— A psicologia moderna, de forma geral, tem três principais escolas — disse ele naturalmente. — Cognitivo-Comportamental, Psicanalítica e Humanista.

— As duas últimas não servem para Tamamo.

— Psicanálise exige explorar o subconsciente, construir uma relação de longo prazo com o paciente, geralmente envolvendo um tratamento de pelo menos um ou dois anos. Se usássemos esse método, ela não poderia participar de nenhuma competição.

— A abordagem Humanista não é nem questão só de tempo.

— Essa linha é mais parecida com educação do que tratamento; envolve ajudar o paciente a explorar sua visão de vida, valores e mundo. Além de demorar demais, o problema da Tamamo não é sobre os "três pilares" dela.

— Cognitivo-Comportamental é a que traz resultado mais rápido e tem a maior base teórica.

— Ela se fundamenta em "comportamentos" concretos, não em "subconsciente" ou "valores fundamentais".

— Mais importante ainda: essa escola foi combinada com "neurociência", dando origem à "Neurociência Cognitivo-Comportamental", que tem base fisiológica mais sólida e é mais fácil de aplicar.

— Considerando que a Tamamo precisa competir, tanto em teoria quanto na prática, a Cognitivo-Comportamental é a mais adequada.

— E "terapia de dessensibilização" é uma das mais clássicas dessa linha. O Dr. Gujiu fez a escolha certa.

Depois de comentar casualmente as bases que aprendera nas eletivas da faculdade e no trabalho, Kitahara folheou rapidamente o plano e foi assentindo.

— Entendi. Compreendi tudo.

— De acordo com o plano do Dr. Gujiu, é preciso arranjar duas ou mais Uma Musume para a Tamamo, que tenham força comparável, ou até superior à dela. Caso contrário, não dá pra forçar o potencial dela.

— Ou melhor: não dá pra pressioná-la o bastante para que ela seja obrigada a ignorar sua "sombra psicológica".

— Gold City, Sakura Star O, Sakura Chiyo O, Mejiro Ardan, Yaeno Muteki, Seiun Sky, Dido Shooter… o Dr. Gujiu realmente pensou bastante. A escolha das meninas foi bem certeira.

— Pena que muitas delas vêm de famílias tradicionais, como os Sakura e os Mejiro… ou estão ocupadas com corridas. É difícil encaixar os horários pra uma "terapia de dessensibilização".

— Entendi. Então vocês querem usar a Oguri Cap e a Super Creek do meu lado. Elas podem ser oponentes adequadas para a Tamamo — e temos tempo suficiente para cooperar antes da próxima corrida.

— Além disso, Kyoko também está comigo, então não há preocupação com acompanhamento médico profissional.

— Compreendido. Vou assumir isso… Hm? Por que vocês duas estão me olhando assim?

Fechando os documentos, Kitahara levantou a cabeça e percebeu que Komiyama e Tamamo estavam o encarando com expressões estranhas.

Um momento depois, Tamamo deu de ombros — mostrando pela primeira vez, desde que saíra do carro, um rosto que não era de tristeza.

— Hahaha, e aí? Eu não disse que meu Senpai não precisa ser testado? Mas ela não quis acreditar.

Com ar de quem assiste uma comédia, ela deu tapinhas nas costas de Komiyama, que começava a mostrar um sorriso constrangido, e então olhou para Kitahara.

Deu de ombros de novo e, sem piedade, expôs a amiga:

— Quando ela veio, ficou dizendo que o Dr. Gujiu te elogiava tanto que ela nem acreditava, e decidiu que não ia revelar o plano de tratamento pra te testar, mas…

— Bem, deu no que deu.

Apontando para Komiyama, que agora estava com a cabeça quase afundando no peito, Tamamo deu de ombros pela terceira vez e abriu um sorriso radiante.

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