Miyamura Kyoko e Komiyama tinham formações acadêmicas excelentes e bastante experiência; todo o conhecimento e habilidades delas estavam ligados às Uma Musume.
Após ouvirem Kitahara, as duas falaram ao mesmo tempo:
— Isso é simples, eu tenho uma ideia.— Se for só Oguri Cap e Super Creek, será que não…
Depois de falarem juntas, trocaram olhares e Komiyama reagiu primeiro.
— Kyoko, pode começar. Eu não tô com pressa — disse com um sorriso nos olhos.
— Certo, então não vou me fazer de rogada.
Apesar de ser meio atrapalhada no dia a dia, quando o assunto era medicina, Miyamura Kyoko era impecável, falando com enorme precisão:
— Sobre o treino de peso da Oguri Cap, na minha opinião, é melhor não interromper.
— Eu analiso os dados de treinamento que o Kitahara compila todos os dias, e está claro que depois de todo esse tempo, Oguri Cap chegou num platô.
— Durante um bom tempo, os 40 quilos serão um limite difícil pra ela ultrapassar; pra avançar mais, ela precisa se adaptar completamente a esse peso.
— Ela não pode parar agora. Se parar, talvez nem consiga voltar a esse ponto tão cedo e terá que gastar mais tempo se readaptando.
Kitahara pensou um instante e então soltou um termo:
— É porque o "limiar psicológico" mudou?
Miyamura Kyoko o encarou com expressão admirada.
— Exatamente, o "limiar psicológico". O limiar psicológico da Oguri Cap mudou, mas o fisiológico ainda não.
Com semblante mais sério, explicou:
— O limiar psicológico é um termo da psicologia que descreve o ponto crítico da percepção, cognição e reação — ou seja, a quantidade mínima de estímulo necessária para reagirmos em determinadas condições.
— Oguri Cap já carrega 40 quilos há um tempo, então o limiar psicológico dela pra esse peso já aumentou.
— Se interrompermos agora, para atingir o mesmo nível de percepção e reação, teremos que aumentar ainda mais o peso.
— Só que o corpo dela ainda não se adaptou totalmente aos 40 quilos; se tivesse, o desempenho dela já estaria ainda melhor.
— Então é óbvio: se interrompermos agora, ela vai ter que carregar ainda mais peso depois e gastar ainda mais tempo para alcançar o efeito atual.
Nesse momento, Komiyama entrou na conversa de repente:
— Ah, entendi. Kyoko, você quer que a Tamamo também faça treino de peso, né?
Miyamura Kyoko e Kitahara se surpreenderam; a primeira logo sorriu e assentiu.
— Sim, era exatamente isso que eu estava pensando.
— Já que a situação da Oguri Cap não pode mudar, então alterar as condições da Tamamo é aceitável.
— É um básico de controle de variáveis em experimentos científicos; na verdade, mesmo que eu não falasse, vocês dois acabariam chegando nessa conclusão.
Kitahara sorriu:
— Mas falando agora, você já poupou tempo, né?
Então, olhando para Komiyama com ar de consulta, continuou:
— O método de treino de peso que usamos pra Oguri Cap envolve um "equipamento de carga".
— É tipo um colete tático, com vários encaixes onde adicionamos os pesos conforme necessário.
— Todo o conjunto já tem linha de produção pronta, então se a Tamamo for treinar assim também, podemos providenciar um personalizado rapidinho.
— Claro que, considerando as diferenças físicas entre Tamamo e Oguri Cap, os cálculos dos pesos e do suporte precisam ser precisos. Mas como já temos experiência com a Oguri Cap e os algoritmos prontos, a decisão fica com você, minha querida kouhai.
— Pode ficar tranquilo, senpai. Eu topo — e já aceitei em nome da Tamamo também — disse Komiyama sem hesitar, antes de abrir um sorrisão admirado. — Sério, vocês dois são incríveis, Kitahara-senpai e Kyoko! Voltaram pra Kasamatsu faz o quê, uma semaninha? Duas no máximo? E já criaram um método tão eficiente! Sensacional!
— Parece que a recomendação do tio Gujiu foi perfeita. Vocês são mesmo a melhor escolha pra ajudar a Tamamo!
— A condição dela… acho que vai dar pra resolver logo! Que alívio!
Vendo a alegria de Komiyama, Kitahara e Miyamura Kyoko trocaram um olhar cúmplice e sorriram.
— Já que você concorda, vou contatar a fabricante pra acelerar a produção do equipamento. Me manda os dados físicos da Tamamo depois.
Depois que Komiyama assentiu, Kitahara perguntou:
— Você parecia ter outra ideia agora há pouco?
— A minha ideia… é meio longa de explicar.
Komiyama pensou um pouco antes de continuar:
— Eu queria que Oguri Cap e Super Creek corressem lado a lado com a Tamamo.
— Na teoria, seria o jeito mais rápido dela se recuperar. Com o nível das duas, acho que Tamamo se adaptaria logo ao clima intenso de corrida.
— Mas aí eu fiquei pensando se Oguri Cap e Super Creek sozinhas… não seriam pouco.
— Pouco? — disseram Kitahara e Kyoko juntos, confusos.
Kitahara então percebeu.
…Se fosse pra adicionar mais uma Uma Musume…
Komiyama continuou:
— Olhem só.
Ela pegou a garrafa vazia de leite, o copo de água do Kitahara e o copo de suco de legumes da Kyoko, e os organizou em forma de "L" na mesa.
— Esta é Tamamo, esta é Oguri Cap e esta é Super Creek.
Apontou respectivamente para a garrafa, o copo de água e o de suco.
— Com duas adversárias, do jeito que Tamamo é forte, ela ainda teria várias formas de escapar.
Empurrou a "Tamamo" pra frente e pra trás, simulando rotas de fuga.
— Seja avançando pelo espaço entre as duas ou recuando e contornando, ela conseguiria manter velocidade e ainda vencer a corrida simulada.
— Tamamo tem esse nível, não estou exagerando.
— Então, se for assim, o efeito do tratamento cai muito. Queremos que ela sinta a pressão real de uma corrida — mas com só duas rivais, fica fácil demais.
A expressão dela foi ficando mais séria.
— Eu realmente não estou exagerando. Tamamo é forte nesse nível.
— Mas numa corrida real, não são só duas adversárias.
— Se ela ficar no meio do pelotão, vai ser cercada. E com os sintomas de PTSD, ela vai entrar em pânico e travar.
— Infelizmente, ela não é boa em liderar desde o começo, então não dá pra contar com ela ficando na ponta o tempo todo.
— Vir atrás funciona, mas todo mundo sabe que correr de trás tem muitas variáveis, não dá pra apostar sempre nisso.
Ela então fechou a mão e a colocou na base do "L".
— Por isso, se possível, seria melhor encontrar mais uma adversária. Alguém no mesmo nível de Tamamo, Oguri Cap e Super Creek.
— Assim, Tamamo ficaria cercada.
— Assim, ela sentiria a pressão real de corrida nos treinos e se acostumaria mais fácil e rápido.
— Só que…
Ela suspirou e balançou a cabeça, parando de falar.
Miyamura Kyoko completou com expressão séria:
— Só que uma Uma Musume assim provavelmente é difícil de achar.
— O plano do professor mencionou várias competidoras ativas da Central, todas extremamente fortes e teoricamente capazes de pressionar a Tamamo.
— Mas ou estão ocupadas com corridas, ou treinando intensivamente. Inconveniente, pra não dizer deselegante, chamar elas pra isso.
Suspirou.
— Ahh, Komiyama, você tem razão. Forte e com tempo livre… vai ser difícil achar alguém assim…
— Hã… na verdade foi você quem disse isso, Kyoko…
Coçando a bochecha, Komiyama corrigiu a escorregada da amiga com um sorriso tímido, mas logo se virou para Kitahara, animada:
— Mas tudo bem, dá pra deixar só Oguri Cap e Super Cree— hã?
Ela congelou.
…Senpai, que cara é essa…?
Kitahara finalmente saiu do devaneio.
— Ah… pensei aqui e realmente não parece existir uma Uma Musume apropriada…
Ele encarou os rostos espantados das duas e então sorriu de canto.
— Vocês já ouviram falar de uma certa Uma Musume?
— Sete vitórias em sete corridas… Inari One, de Oi.