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Chapter 39 - Capítulo 39 – Golpe de Trovão

Chen Shi ficou vermelho de vergonha, gaguejando, prestes a responder, quando o Príncipe Xiao pigarreou e o alertou:

"Antes de responder, pense bem onde está. Esta é a Cidade Sem Engano — cuidado para não perder a língua."

O coração de Chen Shi gelou. Ele lançou um olhar cauteloso à mulher de vermelho e imediatamente a classificou como do tipo perigoso.

'Se eu tivesse tentado bancar o reservado e dissesse que não quero, com certeza minha língua já teria ido embora. Aqui não se pode falar o contrário do que se sente!' pensou.

O Príncipe Xiao disse:

"Jin Hongying, por que implicar com um júnior?"

A mulher de vermelho lançou-lhe um olhar de desprezo, apoiando os cotovelos sobre a mesa de chá — o busto também pressionando a superfície — e sorriu de forma encantadora:

"Príncipe Xiao, você tem coragem, hein? Roubar algo do meu Batalhão Shenji… ousadia não lhe falta. Entregue o que pegou e posso deixar o passado no passado."

Chen Shi piscou, confuso.

"Batalhão Shenji?"

Já ouvira esse nome. Certa vez, um homem da vila de Yandang havia passado nos exames imperiais e, por seu talento, fora recrutado para o lendário Batalhão Shenji — tornando-se um de seus soldados.

Depois disso, as casamenteiras quase arrebentaram a porta da casa dele.

Dizia-se que o Batalhão Shenji servia diretamente ao imperador, com soldos altos e grande prestígio. Entrar para suas fileiras era algo que só acontecia quando o túmulo dos antepassados começava a soltar fumaça de sorte.

O Príncipe Xiao ignorou completamente a beleza da mulher e respondeu friamente:

"Roubei mesmo. E daí? Quer que eu devolva agora?"

Jin Hongying molhou o dedo no chá e desenhou círculos na mesa, sorrindo com doçura:

"Não foi exatamente para discutir como devolver que marcamos este encontro? Do contrário, por que nos reunir? Príncipe Xiao, ofereço-lhe duas opções:

Primeira — devolva o item de bom grado, e o Batalhão Shenji o perdoará.

Segunda — nós o matamos e o recuperamos do seu cadáver."

Ela levantou o olhar e sorriu:

"Ouvi dizer que o ferimento da última vez ainda não sarou completamente. Desta vez, talvez não se resuma a um simples ferimento. Posso até ajudá-lo a fazer a travessia, velho senhor."

"Príncipe Xiao… ferido?"

Chen Shi se sobressaltou, lembrando-se da primeira vez que o encontrara.

Naquela ocasião, o príncipe, assim como ele, estava repousando dentro de um caixão na mansão nas montanhas.

Mas… aquele lugar não era uma área sombria usada para criar cadáveres?

'O Príncipe Xiao não é um corpo morto… então por que estava lá se recuperando?'

E o que mais o intrigava:

'Eu também não sou um cadáver. Então por que o vovô me mandou para aquele lugar?'

O Príncipe Xiao respondeu com serenidade:

"Já estou curado."

Jin Hongying ficou tensa, recostou-se levemente — o peito tremendo sob a roupa vermelha — e sorriu:

"Então não há mais o que negociar?"

O príncipe assentiu calmamente.

Com um sorriso provocante, ela disse:

"Dizem que o Príncipe Xiao é de talento incomparável e aparência magnífica. Infelizmente, nasci tarde demais para vê-lo em seus dias de glória. Mas talvez, esta noite, eu finalmente possa testemunhar isso.

Se sobreviver até o amanhecer, considerarei o roubo do meu tesouro perdoado."

Levantou-se, lançou um olhar a Chen Shi e brincou:

"Garotinho, não o siga. Vai acabar morto."

E partiu, balançando os quadris a cada passo.

Chen Shi desviou o olhar, mas o Príncipe Xiao perguntou:

"Bonita, não é?"

Chen Shi quase respondeu, mas rapidamente fechou a boca, pensando:

'O Príncipe Xiao também é perigoso… quase me fez perder a língua!'

O príncipe tomou um gole de chá, observando Jin Hongying desaparecer da cidade. Após alguns minutos, levantou-se e disse:

"Fique aqui. Eu volto logo. Se eu não retornar, saia de Wu Wang antes do amanhecer. Não demore."

Chen Shi perguntou depressa:

"E se eu não conseguir sair?"

"Então desaparecerá junto com a cidade."

A voz do príncipe ecoou enquanto ele descia as escadas:

"Aqueles que já desapareceram com Wu Wang jamais voltaram. Ninguém sabe se estão mortos… ou vivos."

Chen Shi estremeceu.

O Príncipe Xiao não pegou a carruagem — saiu a pé e logo sumiu sob o luar.

Chen Shi continuou sentado, bebendo chá e mordiscando frutas secas e carne, esperando em silêncio.

Depois de um tempo, piscou e soltou uma risada.

"Do que ri?" — perguntou uma voz ao lado.

"Riu do absurdo da minha noite," respondeu. "Primeiro, busquei vingança e matei alguém na estrada. Depois, fui acometido por uma doença estranha e perseguido por espíritos. Aí encontrei o Príncipe Xiao… e acabei nesta cidade bizarra, conhecendo gente do Batalhão Shenji. Agora estou aqui, numa cidade de fantasmas, tomando chá e esperando o príncipe voltar de uma batalha contra eles. Isso é tão absurdo que só me resta rir…"

Mas, de repente, parou.

'O Príncipe Xiao não está aqui… então quem está falando comigo?'

Virou-se depressa. O garçom de quatro braços havia sumido. No lugar dele, uma criatura com cabeça de sapo gigantesca — quatro ou cinco vezes maior que a de um homem — estava parada ali. A pele era coberta de listras verdes e brancas, e entre os lábios segurava um cachimbo com três incensos curtos acesos.

Tinha pernas finas e compridas que sustentavam o corpo roliço e trazia nas mãos um bule de chá descomunal.

Provavelmente era o "mestre do chá" do estabelecimento.

"Tá olhando o quê?" perguntou a mesma voz.

Chen Shi percebeu, horrorizado, que quem falava não era o sapo… e sim o bule de chá!

A tampa abria e fechava como uma boca, e logo abaixo dela haviam dois olhos arregalados.

"Não diga nada," sussurrou o sapo-mestre. "Ele adora fazer perguntas. Se responder, estará perdido. Hoje mesmo já fez vários clientes perderem a língua."

Chen Shi ficou em alerta e calou-se imediatamente.

O bule fez mais algumas perguntas, mas ao ver que não recebia resposta, perdeu o interesse e foi servido em outra mesa.

Logo, perguntou a outro cliente:

"Você tem algo no coração?"

"Não, eu… ahhh!"

Um grito cortou o ar. Chen Shi viu a língua do homem ser arrancada por uma força invisível.

"Você estava espiando o decote daquela mulher de vermelho, não é?" o bule perguntou a outro.

"Eu não… ahhh!"

Mais um jorro de sangue — outra língua voando. Chen Shi estremeceu e adicionou o bule à lista de coisas perigosas.

'Então é isso… esta Cidade Sem Engano deve ser um domínio de fantasmas e deuses!'

A compreensão o atingiu. Domínios assim podiam assumir diversas formas: fábricas que transformavam pessoas em porcelana, tumbas que convertiam feras em deuses, lugares onde o tempo se distorcia… ou como aqui — um espaço onde mentir era proibido.

Quem mentisse sofreria calamidade — a punição da língua arrancada.

Por isso o nome: Cidade Sem Engano.

'"Sem engano" significa "verdade". Esta é uma cidade da verdade absoluta, onde a falsidade não pode existir.'

Ao entender, Chen Shi sentiu o medo dissipar.

Era um homem das montanhas — sabia que respeitar regras era o segredo para sobreviver.

Seja diante de espíritos ou monstros, enquanto seguisse as regras, nada aconteceria.

De repente, trovões ribombaram do lado de fora da cidade. Chen Shi olhou para o céu — relâmpagos se erguiam do solo, cruzando o ar como arcos vermelhos e atingindo uma montanha iluminada pelo luar!

Explosões de fogo transformaram a noite em dia.

Chen Shi se levantou e olhou para fora. Relâmpagos continuavam a subir em leque, atingindo o pico incessantemente — em poucos instantes, centenas de raios haviam caído sobre a montanha.

Aproveitando a luz, ele conseguiu distinguir uma silhueta no alto do pico — uma figura pequena, imóvel, erguida contra o céu.

Uma lâmina de luz fria girava em torno dela, veloz como o vento — tão rápida que o olhar mal conseguia acompanhar.

"O que é aquilo?" murmurou.

Mesmo de longe, era impossível ver claramente — aquela luz cortava os relâmpagos antes que tocassem a montanha.

Cada raio perfurado explodia em clarões e trovões ensurdecedores.

Na verdade, os relâmpagos nunca atingiam o pico — era apenas uma ilusão óptica.

Chen Shi assistia, o coração disparado, enquanto os ataques se tornavam mais intensos. A luz fria parecia fraquejar, e os raios começaram a cair diretamente sobre o cume, detonando explosões que faziam o chão tremer.

Logo, o pico brilhava como metal em brasa.

Dentro da Cidade Sem Engano, humanos e demônios assistiam aterrorizados.

Se aqueles relâmpagos caíssem ali, toda a cidade seria reduzida a cinzas em um instante.

Alguns espectadores esticaram o pescoço para enxergar melhor — outros chegaram a arrancar a própria cabeça do corpo e levantá-la nas mãos para ver de mais alto.

Chen Shi até viu um cujo pescoço se alongou como um bambu fino, elevando a cabeça a dois metros do chão para observar.

"Quer pegar uma tesoura e cortar esse pescoço?" perguntou o bule de chá a outro cliente.

"Não quero…"

Puft!

Chen Shi se enrijeceu e decidiu firmemente: não importa quem pergunte, eu não abro a boca.

A tempestade de raios durou mais de uma hora. Sob o bombardeio, a montanha diminuía visivelmente — as pedras explodindo e derretendo.

De repente, alguém gritou:

"Está quase amanhecendo! Corram! Se não saírem agora, será tarde demais!"

Imediatamente, a cidade entrou em alvoroço. Pessoas, fantasmas e monstros se empurravam em direção aos portões.

Chen Shi desceu às pressas. O garçom de quatro braços apareceu do nada:

"Senhor, sua carruagem está pronta."

Ele o seguiu até o pátio dos fundos — a carruagem do Príncipe Xiao ainda estava lá. Desta vez, o cocheiro e os quatro cavalos não haviam se transformado em pedra.

Chen Shi subiu. O cocheiro estalou o chicote, e os cavalos dispararam rumo ao portão!

Quanto mais corriam, mais rápido iam — pessoas, fantasmas e monstros se amontoavam à frente, prestes a serem atropelados. Mas, de repente, nuvens se formaram sob os cascos dos animais, e a carruagem passou voando por cima de todos, indo direto em direção à saída.

Chen Shi ficou pasmo. Os cavalos atravessaram o portão e pousaram do lado de fora, trotando velozes na noite antes do amanhecer.

"O caminho… está levando direto para aquela montanha!"

O coração de Chen Shi gelou. O cocheiro chicoteava os cavalos com força; o ar estava impregnado de cheiro de pólvora.

Mais adiante, após uns dois quilômetros, começaram a aparecer corpos espalhados e uma enorme construção metálica.

Era um canhão gigantesco — o cano tinha mais de três metros e pesava algumas toneladas.

"O lendário Canhão Vermelho do Batalhão Shenji!" — os olhos de Chen Shi se arregalaram.

Já ouvira falar dessas armas. Diziam que eram tão poderosas quanto o próprio trovão dos céus — um único disparo era como uma calamidade divina.

Mas o cano diante dele estava cortado ao meio — o corte liso e afiado, os talismãs gravados no metal interno também seccionados.

Dentro do cano, via-se um brilho vermelho — provavelmente devido ao uso de sangue de cão preto e cinábrio. Não fazia ideia de como o Batalhão Shenji conseguira gravar runas dentro da arma.

Ao lado havia uma carroça cheia de projéteis — esferas de ferro negro, maiores que a cabeça de uma criança, com talismãs traçados em cinábrio e sangue de cão para amplificar o poder.

"Talismãs do Grande Trovão Quíntuplo!"

Bastou uma olhada para Chen Shi reconhecê-los — e seu coração gelou.

Aqueles eram dos mais poderosos selos de raio existentes. Combinados à pólvora negra, multiplicavam sua força várias vezes.

Então ele finalmente entendeu — o "golpe de trovão" da noite anterior não era magia alguma… era o bombardeio do Batalhão Shenji!

O espetáculo que presenciara fora o disparo simultâneo de dezenas, talvez centenas, de Canhões Vermelhos, todos concentrando fogo sobre o Príncipe Xiao — sob a bênção dos Talismãs do Grande Trovão.

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