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Chapter 1 - O filho esquecido e o sussurro da ruína

A lua pairava alta sobre a Mansão Bai, pintando as telhas vermelhas com um brilho prateado e frio. No templo ancestral, lanternas tremulavam ao sabor do vento, como se criaturas invisíveis respirassem dentro da escuridão.

No topo de um corredor elevado, parado como uma sombra sem dono, estava Bai Wuqing.

A família acreditava que ele era fraco.

Os criados o ignoravam.

Seus irmãos o desprezavam.

Mas ninguém percebia a verdade:

Bai Wuqing estava acordado.

Acordado demais.

Observando tudo.

Absorvendo tudo.

A Reunião da Família — Onde a Honra Morreu

O salão principal fervilhava de vozes afiadas.

— "A mina de jade pertence ao ramo principal!" — gritou o irmão mais velho, Bai Liang, sempre tão orgulhoso quanto um pavão envenenado.

— "Pertence à vontade da família, não à sua ambição!" — rebateu o tio Bai Hanjun, sorrindo como se degustasse uma intriga.

— "Vocês vão destruir o clã!" — o patriarca golpeou a mesa com a mão trêmula.

Discussões explodiam, insultos voavam como lâminas.

A ganância era tão velha quanto aquela casa — e tão profunda quanto as veias de jade que todos disputavam.

Acima de tudo isso, encostado em uma coluna, Bai Wuqing observava.

Ninguém o chamava.

Ninguém pedia sua opinião.

Ninguém lembrava que ele existia.

E isso o permitia enxergar as falhas com absoluta nitidez:

O medo secreto do patriarca.

A arrogância desesperada de Bai Liang.

As dívidas escondidas do tio com mercadores de sangue.

As esposas sussurrando venenos sociais nos cantos do salão.

Eles se devorariam mais cedo ou mais tarde.

Wuqing apenas precisava esperar.

O Quarto Esquecido — O Nascer de Uma Sombra

Quando a discussão finalmente terminou, ele voltou ao seu quarto — o menor da mansão, quase uma dispensa, entregue a ele por falta de opção… e de consideração.

Acendeu uma vela.

A chama vacilante encontrou um espelho rachado.

Seu próprio reflexo o encarou: pálido, magro, quase frágil.

Um jovem sem brilho nos olhos.

Um jovem que o mundo esqueceu.

Ele passou a mão no vidro quebrado.

— "É assim que vocês querem me ver."

— sua voz saiu baixa, quase um sopro.

Mas dentro de si, algo queimava.

Um calor sombrio, compacto, que crescia em silêncio.

Um calor alimentado por anos de humilhação.

Flashback — O Dia do Teste

Aos 14 anos, durante o teste público de afinidade com Qi, o patriarca anunciara diante de toda a família:

— "Bai Wuqing… sem potencial. Sem caminho."

As risadas abafadas.

Os olhares de dó.

O desprezo direto.

Ninguém o consolou.

Ninguém disse nada.

Era como se sua alma tivesse sido enterrada ali.

Mas naquele quarto escuro, quatro anos depois, ele percebeu algo:

Aquilo não o destruiu.

Aquilo o forjou.

A Frase Na Mesa

Pegou um pedaço de carvão gasto e escreveu na mesa:

"O desprezo deles é minha arma."

Enquanto os outros acumulavam poder, aliados, tesouros…

Wuqing acumulava algo muito mais mortal:

Informação.

Ressentimento.

Paciência.

Tudo que um predador precisa antes de atacar.

O Telhado — Onde a Sombra Ganhou Nome

Naquela mesma noite, ele subiu ao telhado da mansão.

A lua cheia parecia observá-lo com olhos antigos.

Lá de cima, viu a grandiosidade dos Bai: salões iluminados, pátios de treinamento, templos ancestrais…

Tudo aquilo, um dia, seria ruína.

Não por destino.

Não por azar.

Mas por ele.

Ele retirou do bolso um pequeno frasco de barro.

Um objeto roubado anos atrás das câmaras proibidas da família — onde guardavam venenos e maldições seladas.

Girou o frasco entre os dedos, ouvindo o líquido negro se mexer como se tivesse vida própria.

Um presente do passado.

Uma promessa de futuro.

— "Vocês tinham tudo…"

— murmurou.

— "…e escolheram cuspir em mim."

Ele destampou o frasco e deixou uma única gota cair no telhado.

A madeira chiou.

A gota fumegou.

A lua pareceu se apagar por um instante.

E Bai Wuqing sorriu pela primeira vez em muitos anos.

Um sorriso que não pertencia a um jovem fraco.

Nem a um homem bondoso.

Era o sorriso de quem acaba de assumir seu verdadeiro nome.

O Juramento

Ele ergueu o frasco à luz lunar.

— "A partir de hoje… vocês não verão minha fraqueza."

Deixou o vento passar por entre os dedos.

— "Verão apenas minha sombra."

E naquela noite, silenciosa e fria,

sem testemunhas,

sem cânticos,

sem profecias…

nasceu o Herdeiro da Praga Sombria.

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