CAPÍTULO 0 — O TRONO VAZIO
O mundo estava em silêncio.
Não porque a guerra tivesse terminado—
mas porque já não havia ninguém capaz de lutar.
Sob um céu sem estrelas, um trono negro erguia-se no centro do que restava do continente. Ao seu redor, não havia soldados, nem sacerdotes, nem inimigos.
Apenas ruínas.
E um homem.
Ele estava sentado com a postura ereta, como sempre estivera. Mesmo agora, quando o fim já havia sido decidido, sua presença ainda carregava uma autoridade que fazia o ar tremer.
O Imperador Mais Poderoso da Humanidade.
Esse era o único nome que o mundo ainda lembrava.
O QI — a energia absoluta — fluía dentro de seu corpo como uma tempestade fora de controle. O que antes obedecia à sua vontade agora rasgava sua carne por dentro, destruindo lentamente tudo o que sustentava sua existência.
Cada batida do coração era dor.
Cada respiração, um esforço.
— …Então foi assim que terminou.
Sua voz ecoou fraca no salão vazio.
Ele havia alcançado tudo.
Reinos haviam se curvado.
Deuses haviam sangrado.
Bestas divinas, que existiam antes da história, haviam sido reduzidas a nada diante de sua vontade.
Não existia mais ninguém acima dele.
E justamente por isso…
não existia mais ninguém ao seu lado.
O Imperador fechou os olhos por um instante.
As lembranças surgiram—
não como vitórias, mas como ecos vazios.
Campos de batalha cobertos de cinzas.
Divindades implorando antes de morrer.
Aliados que um dia juraram lealdade… e desapareceram quando perceberam que não havia mais lugar ao lado de alguém absoluto.
O poder não precisava de companhia.
Mas o homem… precisava.
O QI se agitou violentamente, como se reagisse àquele pensamento.
Uma dor lancinante atravessou seu peito.
Ele cuspiu sangue no chão de mármore rachado.
— Incurável… — murmurou, com um sorriso amargo.
Ele tentou de tudo.
Técnicas proibidas.
Autoridade imperial.
Milagres roubados dos deuses.
Nada funcionou.
O corpo humano tinha um limite.
E ele o havia destruído.
O Imperador apoiou o braço no trono, sentindo os dedos tremerem pela primeira vez em sua vida. Não por medo.
Mas por exaustão.
— No fim… — disse em voz baixa — nem mesmo o poder absoluto é suficiente.
O salão permaneceu em silêncio.
Não havia testemunhas.
Nenhum bardo cantaria aquela cena.
Nenhuma lenda falaria do que veio depois.
O maior governante da humanidade morreria ali…
sem aplausos.
sem glória.
sozinho.
O QI começou a escapar de seu corpo em fragmentos instáveis, rachando o espaço ao redor. O mundo reagia à morte de algo que havia ultrapassado suas próprias leis.
A consciência começou a se apagar.
Mas, antes disso, um último pensamento surgiu—
não de arrependimento…
mas de clareza.
Se eu tivesse vivido diferente…
Se tivesse controlado em vez de dominar…
Ele riu.
Um riso fraco.
Curto.
— Que ironia… — sussurrou. — Governar tudo… e não conseguir salvar a si mesmo.
A visão escureceu.
O trono permaneceu.
Vazio.
E assim terminou a era do poder absoluto.
Sem herdeiros.
Sem sucessores.
Sem ninguém para lembrar do homem por trás do título.
A existência do Imperador se apagou.
Escuridão.
Silêncio absoluto.
Então…
Um som.
Fraco.
Irregular.
Um choro.
