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Chapter 18 - A SOMBRA

O Inspetor já aguardava na pensão quando Verônica chegou. Ela o cumprimentou com seu sorriso mais inocente e alegre.

— Tenho uma surpresa para a senhora, Mrs. O'Shea — anunciou Verônica, dirigindo-se ao piano.

Cora, ciente do peso daquele momento, lançou ao Inspetor um olhar quase suplicante. Logo os primeiros acordes da "Serenata Espanhola" de Isaac Albéniz começaram a preencher o ambiente, trazendo um toque de melancolia.

— Obrigada, querida. Tocou maravilhosamente — disse Cora, visivelmente emocionada, beijando a testa de Verônica com carinho. Ela sabia que veria algo doloroso em breve e temia pelo que estava por vir.

O Inspetor, tentando manter a compostura, exibiu um lenço dobrado, onde besouros foram cuidadosamente guardados, e dirigiu-se a Verônica.

— Senhorita Verônica, esses besouros foram encontrados embaixo de seu colchão — afirmou ele, direto.

— O quê? Isso é uma mentira! — exclamou Verônica, visivelmente abalada, o rosto pálido contrastando com seu suéter escuro. — Chamem a criada! - insistiu. A copeira entrou e confirmou, alegando que dizia a verdade com a mão sobre o coração.

Em meio ao desespero, Verônica exclamou:

— Se isso é verdade, então alguém colocou esses bichos horríveis lá para me culpar pela morte de Clarence!

Cora tentava acalmá-la.

— Acalme-se, querida. Tenha calma — disse, acariciando seu braço.

— E como você explica isso então? — questionou Pimentel.

Verônica controlou as lágrimas e, com uma calma afetada, respondeu:

— Senhor Inspetor, juro que não tenho nada a ver com esse caso. Que minha mãe seja testemunha do que digo.

Seu olhar fixo no Inspetor exalava a firmeza dos que se sabem inocentes. E era essa sinceridade que abalava Pimentel. Convencido da integridade de Verônica, ele percebeu que o mistério estava naquela casa e que algum outro residente guardava a resposta. Graz, Elza, Gedeon... alguém.

Sozinha em seu quarto, Verônica deixou as lágrimas correrem, sentindo-se pequena diante dos problemas e de tanta maldade. Em seu coração, seu único desejo era simples: aprender música, ter uma vida honesta e, talvez, encontrar alguém a quem pudesse se dedicar. Imaginara que esse alguém era Alberto, mas a realidade for a cruel. Ele brincará com seus sentimentos e a deixará humilhada. Numa tentativa de seguir em frente, aceitará cortejar Mr. Gedeon, um homem bem-sucedido e charmoso. Mas em seu íntimo, ansiava por mais: queria delicadeza, sinceridade e um amor verdadeiro.

Sozinha, murmurou para si:

— Ah, mamãe... se ao menos você estivesse aqui...

Sem amigos em quem confiar e com Gedeon ausente e covarde demais para defendê-la, Verônica se sentiu isolada. Recostada na cama, tentou se acalmar em oração, buscando conforto até adormecer.

O Inspetor Pimentel, mais tarde, comentou com o colega:

— O problema é que temos suspeitos demais.

— E os besouros no quarto de Verônica? — perguntou Alberto.

— Não acredito que seja ela. Conheço os culpados pela expressão, e a reação de Verônica foi sincera demais. Ela teria que ser uma grande atriz para olhar-me daquele jeito.

Silva, o subinspetor, protestou:

— Não sei... Existem criminosas com rostos angelicais. Lembra da Dolores "Olho de Gato"? Parecia uma santa, e matou quatro homens!

Mas Alberto continuou confiante na inocência de Verônica. Ele ansiava por encontrá-la e provar que confiava nela, mas, ferido pelo distanciamento dela, decidiu esperar.

Dias depois, durante uma palestra de medicina na cidade, Alberto encontrou Verônica na plateia. Ao vê-la tão abatida, sentiu um peso no coração. Terminada a conferência, ele a viu sozinha num táxi que havia quebrado na rua. Sem hesitar, ele se ofereceu para acompanhá-la a pé até a pensão.

Enquanto andavam, ele começou a explicar o mal-entendido com Rachel e sua participação nas investigações. Verônica ouvia em silêncio, o olhar menos duro. A magia da noite, iluminada pela lua, tornava o clima mais terno.

Quando chegaram a uma curva, algo perturbador surgiu na rua deserta: uma sombra grotesca, com forma humana e chifres, projetada na parede pela luz da lua.

— O que é aquilo? — murmurou Verônica, temendo o pior.

— Fique calma, meu amor. Não é nada — disse Alberto, tentando soar tranquilo.

De repente, o silêncio foi rompido por um tiro, reverberando na noite.

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