Onde eu estou?!
Enquanto eu estava desacordado, eu fui subitamente transportado para um espaço infinito. Uma escuridão profunda e opressiva rodeava o local; sobre meus pés, uma água rasa cristalina, que se estendia infinitamente, criando um reflexo especular que parecia engolir minha alma. O silêncio era absoluto, apenas quebrado pelo som suave da água ondulando sobre meus pés. Não importa o quanto eu caminhasse, nunca sairia do lugar, como se eu estivesse preso em um ciclo infinito. No momento, eu pensei: 'Onde eu estou?' Mas não conseguia encontrar nenhuma resposta; fui consumido pela solidão do local, até que uma luz deslumbrante surgiu acima de minha cabeça, uma luz que abrangeu todo o meu campo de visão. A luz era tão intensa que me fez cerrar os olhos.
Algo aconteceu, minha visão de tudo ao redor se transformou em um incrível borrão de um vermelho bem luminoso enquanto sons atordoavam meus ouvidos. Quando eu tento falar algo, o único som que sai é um choro.
Depois de abrir meus olhos lentamente e dolorosamente, minhas retinas foram bombadeadas com diferentes figuras e cores, logo deparei-me com uma mulher que me fitava com lágrimas escorrendo por seu rosto encantador, iluminado apenas pela luz suave que emanava do sol. O som de sua respiração trêmula ecoava no silencioso do ambiente. Ao erguer meus olhos pela primeira vez, avistei um homem ao meu lado que se manifestava com uma grande alegria, mas algo de errado não estava certo.
— Bem-vindo ao mundo, Yuichiro! — disse a mulher, secando suas lágrimas.
Depois de ouvir essas belas palavras, senti-me em uma paz imensa. Levantei meus braços e mãos devagar e comecei a observá-los; meus pequenos dedos gordinhos, como os de um recém-nascido, e não pude deixar de sentir uma sensação de fascínio e curiosidade. E então, foi como se uma cortina de dúvidas se abrisse em minha cabeça e uma pergunta ecoasse em minha mente. Eu me perguntei, perplexo: "Eu reencarnei?!".
O homem, mais especificamente meu pai, começou a colocar seu dedo indicador em minha mão pequena, e imediatamente meu reflexo de preensão (um movimento instintivo e natural dos bebês, que os faz segurar objetos ou dedos quando algo é colocado em sua mão) foi ativado, fazendo com que minha mão se fechasse instintivamente como um caracol entrando na sua concha, segurando fortemente o seu dedo.
Enquanto isso, minha mãe passava seu dedo indicador levemente sobre o meu nariz, e a sua pele macia e reconfortante me fez espirrar apenas com aquele toque suave. Meus olhos se iluminaram com um sorriso involuntário e eu me agarrei ao seu dedo. Seu sorriso maroto e seus olhos azuis-celestes, brilhantes como o mar cristalino, me mostravam um conforto enorme e uma sensação de ser precioso, como se eu fosse algo extremamente importante. Então essa é a sensação de sentir o afeto e o amor de uma mãe quando se é recém-nascido?
Enfim..
Minha mãe me agarrou e me pôs em seus braços suaves, e começou a acariciar minha cabeça. Antes de eu me deixar levar pelas minhas emoções de bebê, comecei a observar ao meu redor. Tudo que eu via era que estávamos em um quarto amplo com uma cama de casal no centro e uma grande janela que deixava entrar a luz incrível do sol poente.
Quando ela me pôs na cama novamente, observei-os atentamente e vi que eles usavam roupas antigas, roupas medievais.
Minha mãe usava um vestido longo com uma cor marrom semelhante à cor de um tronco de árvore, e um corpete branco bem elegante com mangas curtas. Meu pai, por outro lado, usava uma camisa marrom-clara, calças de cor vermelha escura e também usava botas de couro bem trabalhadas, com o couro resistente e moldado. Ambas as roupas pareciam ser feitas de tecidos leves e brilhantes que chamavam bastante atenção, especialmente a cor branca, que era o que mais se destacava na roupa dela.
Depois de refletir um pouco sobre minha atual situação, eu comecei a pensar em como agir e o que fazer a partir de agora. Eu não tinha muitas opções nem oportunidades, pois sou apenas uma criança indefesa com um corpo frágil e insignificante.
'Mais que merda!' — eu pensei.
Uma coisa que eu havia notado foi que havia coletes de couro pendurados na parede e, logo abaixo deles, um local onde estavam armazenadas várias espadas de madeira, entre as quais havia uma feita inteiramente de metal.
Uma nova vida havia se iniciado, e eu teria que sentir na pele como é ser um bebê. Por incrível que pareça, eu ainda tenho memórias da minha vida passada, meus conhecimentos e também minha consciência. No entanto, no momento, terei que manter isso em segredo. Talvez não seja por medo de que não acreditem em mim, mas sim por causa da reação deles ao descobrir que estão criando um filho com a consciência de outra pessoa - um pensamento que me parece perturbador, especialmente considerando que sou um bebê com a mente de um adulto de 19 anos.
Meu nome atual é Yuichiro Mizuki, e aparentemente este sobrenome é proveniente da minha mãe, Emília Mizuki. O sobrenome Mizuki tem origem japonesa, e eu não sei se há uma ligação significativa ou se é apenas uma coincidência, considerando que eu não sou de ascendência japonesa. No entanto, eu era suficientemente culto para conhecer a origem dos nomes e sobrenomes. Na verdade, eu costumava ler muitas revistas japonesas. Embora eu não fosse um grande fã de animes, sabia que era algo muito apreciado pela maioria da galera.
— Diga "papa", meu filho Yui. Pode dizer? — disse meu pai com um sorriso no rosto enquanto me segurava bem alto.
Eu olho ao redor para ver se eu consigo enxergar algum sinal da minha rainha, e então ela aparece com uma risada adorável e começa a brincar: — Ele acabou de nascer, Andrey!.
Eu não sei o que se passava na cabeça do meu pai ao esperar que um bebê recém-nascido falasse, mas isso são apenas detalhes. No começo, eu achava que meu pai era um cara bem sério, mas na verdade ele é bem mais agitado do que aparentava ser. Eu tive uma visão errada dele. Às vezes, ele parece um pouco louco sorrindo para mim, o que chega a me dar arrepios só de imaginar.
Algumas vezes, quando minha mãe me sentava à mesa, eu começava a observá-lo enquanto comia. Ele parecia ser um guerreiro formidável, com várias cicatrizes nos braços, mas os olhos verdes escuros dele me chamavam a atenção de forma diferente.
Além disso, ele tinha uma barbicha bem cuidada, que parecia ser sua marca registrada. Era como se ele se preocupasse mais com a barba do que com sua própria aparência. Isso me parecia curioso, um homem tão dedicado à sua barba.
Todos os dias, meu pai treinava no quintal com uma espada de madeira. Ele era incrivelmente ágil em seus movimentos, o que me intrigava profundamente. Enquanto eu o observava, eu notava que suas mãos pareciam brilhar por um instante, mudando para uma cor vermelha, como se estivessem envoltas em uma aura vermelha. Logo em seguida, ele ficava ainda mais rápido e forte.
Houve uma vez em que ele acabou destruindo a árvore que minha mãe havia plantado pessoalmente no dia do meu nascimento, uma árvore que ela sempre cuidou com carinho e que era um símbolo de celebração para nossa família, o que lhe valeu uma bronca. Realmente, ele era muito forte, e nisso eu não me enganei.
Enquanto eu estava sentado na janela, observando-o treinar - era meu único passa-tempo -, ele acabou lançando um ataque bem forte no ar, que fez todas as plantas se moverem e folhas caírem das árvores. Uma delas veio até mim e parou na minha cara; eu me assustei e acabei caindo sem querer da janela, batendo minha cabeça fortemente no chão.
— Yuichiro! Você está bem?! — Ela correu até onde eu estava e me abraçou. Quando ela me olhou nos olhos, pareceu sentir alívio e então acariciou minha cabeça com carinho.
Eu estava fora de controle emocionalmente, minha expressão refletia desespero e pânico, provavelmente devido à queda intensa que sofri. Minha cabeça latejava intensamente e, quando tentei me mover, percebi que não tinha forças para me levantar novamente. No entanto, como minha mãe não parecia muito preocupada, deduzi que não devia ter sido nada grave.
Minha mãe me sentou à mesa e pousou sua mão sobre a minha cabeça, enquanto eu olhava para a janela de onde havia caído. Percebi que era uma altura considerável, especialmente para um bebê como eu. — Só por segurança... — disse ela — Que a luz da cura brilhe sobre seus ferimentos, trazendo paz e conforto que todos precisam. — Cura
De repente, uma luz verde surgiu diante de mim, não era como um curativo ou um beijo na testa, ao olhar para cima, vi que a mão da minha mãe estava emitindo um aroma doce e um fenômeno verde muito bonito.
A dor de cabeça começou a diminuir gradualmente e, embora eu não soubesse o que era aquilo nem o nome desse fenômeno, sabia que era algo completamente novo e fora do comum. Senti uma sensação de calma e tranquilidade que nunca havia experimentado antes, como se a dor e o medo estivessem sendo absorvidos pela luz verde. Minha mãe parecia estar canalizando uma energia especial.
Enquanto ela canalizava essa energia, me olhava com seus olhos serenos e luminosos, eu me perguntei 'o que eram aquelas palavras?'. Não sabia ao certo se era necessário fazer isso para o fenômeno emanar de suas mãos ou se ela estava apenas tentando me acalmar com sua voz suave e reconfortante.
— Pronto, pronto — disse ela com sua voz doce e com seu sorriso adorável no rosto.
— Sabia que eu e seu pai costumávamos ser grandes aventureiros? — completou ela com um tom de orgulho.
Logo após aquilo, meu pai entrou em casa, enxugando o rosto suado com uma toalha, e viu minha mãe me carregando nos braços. — Aconteceu alguma coisa? — perguntou ele com uma voz tranquila e um ar despreocupado, mas com uma leve sombra de preocupação no olhar.
Eu olhei para minha mãe, que estava com uma expressão severa no rosto, mas com um brilho caloroso nos olhos. Eu sabia que ela estava brava com meu pai, mas eu também sabia que ela o amava profundamente. A risada que eu dei foi mais um reflexo da minha felicidade do que qualquer outra coisa.
Eu estava começando a me sentir como se pertencesse a algo maior do que eu mesmo, algo que me fazia sentir em paz, sem preocupações e problemas complicados. E isso era uma sensação incrível.