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Chapter 24 - Um monstro chamado Gula

As folhas tremiam nas árvores próximas, e o ar parecia vibrar com a presença do minotauro original. A pressão mágica permanecia constante, densa como névoa escura, e os dois guerreiros a sentiam como se estivessem respirando ferro derretido.

Sem aviso, o minotauro se moveu.

Kenji tentou reagir, mas uma patada veloz do monstro atingiu sua lateral com força. Não foi o bastante para lançá-lo longe, mas o empurrou com brutalidade contra uma parede de pedras de um antigo galpão desabado, que cedeu com o impacto. A madeira rangeu, e ele caiu entre destroços.

— Kenji! — gritou Ryota, seu olhar cortando o campo.

Mas não teve tempo de correr até o amigo. O minotauro já estava diante dele.

Ryota ergueu uma muralha de gelo rapidamente, tentando limitar a visão e os movimentos da criatura. O minotauro, sem perder o ritmo, usou os chifres para atravessar a barreira. Gelo se estilhaçou como vidro. Ryota recuou com passos cuidadosos, analisando cada movimento da criatura.

— Você é mais resistente do que imaginei... — murmurou o mago de gelo, tentando controlar a respiração.

O minotauro sorriu, abrindo a boca para revelar presas cobertas por carne seca e escurecida.

— E você... fala demais.

Em um piscar de olhos, Ryota teve que girar o corpo para desviar de uma investida brutal. A garra do monstro passou raspando pela lateral de seu ombro, rasgando parte de sua blusa fina e deixando um corte superficial. Ryota contra-atacou com uma lança de gelo curta, que atravessou o braço do monstro.

— Tch...! — Ryota estreitou os olhos. — Você sangra. Isso já é alguma coisa...

Mas o minotauro não demonstrou dor. Apenas observou a lança cravada em seu braço com um olhar quase divertido.

— Sangue não me enfraquece... só me irrita.

Ele puxou a lança com a outra mão e a quebrou com os dedos como se fosse um graveto.

Nesse momento, Kenji se ergueu de trás dos escombros, o corpo coberto de poeira e com pequenos arranhões, mas ainda firme.

— Ryota! — chamou ele, e jogou uma pedra grande, tentando distrair o inimigo.

O minotauro olhou de relance, e isso deu a Ryota a brecha para congelar o solo debaixo das patas do monstro, fazendo-o escorregar brevemente.

Kenji correu até seu parceiro.

— Você está bem?

— Mais ou menos — Ryota limpou o sangue do lábio com o dorso da mão. — Ele é forte, mas não invencível. Só precisamos de uma abertura...

— Só uma — respondeu Kenji, rangendo os dentes.

O monstro se estabilizou, olhos ainda brilhando.

— Vocês acreditam mesmo que vão sair vivos?

Ele estalou os dedos, e a aura negra ao redor de seu corpo se expandiu levemente, tremendo a grama sob seus pés. Mas não lançou outro ataque de grande escala. Apenas avançou devagar, um predador testando suas presas.

Ryota e Kenji se separaram, flanqueando-o dos dois lados. Kenji sacou a lâmina curta que carregava nas costas, e Ryota preparou mais duas estacas finas de gelo entre os dedos.

— Vamos por partes — murmurou Ryota.

— Eu tiro o braço esquerdo. Você pega o direito?

— Fechado.

O minotauro rosnou, irritado com a confiança. Investiu contra Ryota, mas Kenji surgiu pelo flanco, atacando com a lâmina. O corte acertou o ombro da criatura, superficialmente. Mas era o suficiente para distraí-lo.

Ryota saltou, fincando uma estaca de gelo na lateral do pescoço do monstro.

Um rugido ecoou, e com um movimento giratório do braço, o minotauro varreu os dois com a força do corpo.

Ambos foram lançados para o chão da fazenda, batendo contra as cercas quebradas que restavam. Tossiram, gemeram, mas se levantaram com dificuldade.

— Ainda não... — murmurou Kenji, apoiando-se no joelho.

— Ainda não — repetiu Ryota, com o peito arfando.

Os dois estavam cobertos de arranhões, os músculos doloridos, mas vivos.

E o minotauro, agora com o ombro sangrando e o pescoço marcado pelo gelo, os observava com uma expressão diferente. Menos desdém. Mais... atenção.

— Vocês têm mais coragem do que carne. Isso... é intrigante.

Ele caminhou lentamente, enquanto as nuvens acima trovejavam ao longe.

— Mostrem tudo que têm. Quero sentir o gosto do desespero antes de esmagar suas almas.

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