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Chapter 6 - Capítulo 5 – O Peso do Nome

O vento soprava do leste, trazendo o cheiro de grama seca e fumaça distante. A estrada que seguia após a floresta era larga e irregular, marcada por sulcos antigos e rastros de carroças. O sol matutino dourava o horizonte, e, à frente, as sombras do grupo se alongavam sobre o solo.

Lucius caminhava em silêncio. O manto rasgado balançava a cada passo, e o bastão quebrado agora servia mais como apoio do que arma. Ao seu lado, Friaren observava as nuvens — o rosto tranquilo, como se meditasse sobre algo invisível.

Atrás deles, Lyara conduzia as gêmeas, enquanto Aurus trotava ao redor, farejando o ar.As meninas riam com a inocência que o mundo parecia ter esquecido.

"Ele é macio!" — Naya dizia, abraçando o pescoço de Aurus."É mais quente que um cobertor!" — completou Nira, com os olhos brilhando.

O lobo, acostumado ao silêncio do grupo, apenas bufou, resignado. Friaren riu levemente."Mesmo feras sombrias acabam se rendendo à ternura."

Lucius sorriu. "Talvez a ternura seja a forma mais pura de magia."

Lyara olhou para ele, surpresa pela frase."Você fala como um velho eremita, mas age como um garoto com o coração no lugar certo."

"E isso é ruim?" perguntou Lucius, arqueando uma sobrancelha.

"Não," respondeu ela, desviando o olhar. "Apenas... raro."

O silêncio voltou, cortado apenas pelo som ritmado dos passos.

Ao meio-dia, chegaram a uma colina de onde se via uma pequena aldeia ao longe — casas de pedra e madeira, cercadas por plantações modestas e cercas de madeira. Uma fumaça fina subia de algumas chaminés.

"Lá," disse Friaren, apontando. "A vila de Rhen."

Lucius assentiu. "Segundo as memórias do guerreiro, eles não são hostis. Trabalhadores, mas desconfiados."

Lyara observou em silêncio, seus olhos dourados fixos na aldeia. "Você fala como quem lê o passado."

"Em parte, eu li," respondeu Lucius. "As memórias que herdei me mostram ecos... mas o presente sempre muda o som."

Descendo o morro, foram recebidos com olhares curiosos e cautelosos. Aldeões pararam o que faziam, encarando aquele grupo inusitado — uma mulher de aparência estrangeira, duas crianças de cabelos dourados, uma menina de olhos prateados e um garoto com um olhar calmo demais para sua idade.

Um velho aproximou-se, apoiado num cajado de carvalho. Tinha o rosto marcado pelo tempo e o olhar firme.

"Estranhos," disse ele, "não costumamos receber muitos."

Lucius inclinou-se levemente. "Não viemos causar problemas. Buscamos abrigo por uns dias, talvez trabalho. Em troca, ajudaremos no que pudermos."

O velho avaliou o grupo. Os olhos dele pararam em Aurus, que estava parado, imóvel, como uma estátua viva."Esse animal... não é comum."

Lucius respondeu com tranquilidade: "Ele é parte da família."

O velho franziu o cenho, depois suspirou. "Família, hein... faz tempo que não ouço essa palavra dita com tanto peso."Ele apontou para o norte da vila. "Podem ficar na cabana vazia, perto do riacho. Pertencia a um caçador que se foi no inverno."

Lucius agradeceu com um gesto. "Prometo que deixaremos o lugar melhor do que o encontramos."

O velho sorriu de leve. "Promessas são vento. Vamos ver se o seu é firme."

A cabana era simples — teto de palha, chão de terra batida, uma pequena lareira e janelas estreitas.Lucius entrou primeiro, passando os olhos pelo lugar. Friaren limpava a poeira com gestos suaves, e Lyara ajudava as filhas a se acomodarem.

O som da água corrente do riacho lá fora trazia uma paz que contrastava com a lembrança recente do sangue e das correntes.

Lucius sentou-se junto à janela, observando o reflexo da luz no riacho. Por um momento, tudo pareceu quieto demais.

Friaren aproximou-se, sentando ao seu lado. "Está pensando de novo?"

"Sempre."

"Sobre o quê agora?"

"Sobre o nome."

"O nome?"

Lucius olhou para as próprias mãos. "O nome é o primeiro peso que o mundo nos dá. Carregamos ele, moldamos, o tornamos algo... ou deixamos que ele se torne vazio. Quero que o meu tenha significado."

Friaren o observou com curiosidade. "E o que ele vai significar?"

"Proteção," respondeu ele. "Mas não através de domínio. Proteção através de liberdade."

Ela sorriu. "Você quer criar algo maior que você, não é?"

Lucius virou o olhar para ela. "Não sozinho. Quero criar um lar para todos que não têm um. Um lugar onde o poder não defina o valor de uma alma."

Friaren ficou em silêncio por um momento, olhando para fora. O vento fazia as folhas dançarem."Então esse será o começo da sua guilda."

Lucius sorriu de canto. "Ainda é cedo para chamar de guilda. Mas talvez... o primeiro passo."

Do lado de fora, Lyara alimentava as gêmeas, enquanto Aurus deitava perto da porta, atento.A mulher observava os dois jovens dentro da cabana e sentia algo estranho:Pela primeira vez em muito tempo, via esperança em olhos humanos.

Ela olhou para o céu, onde o sol se escondia entre as nuvens."Talvez o destino tenha me guiado até aqui," murmurou.

À noite, o grupo reuniu-se em volta da lareira. O fogo crepitava, lançando sombras quentes nas paredes de madeira.Lucius falava pouco, mas cada palavra era como uma semente. Friaren escutava com atenção; as gêmeas, já sonolentas, brincavam com o pelo de Aurus.

Lyara observava em silêncio."Lucius," chamou ela, depois de um tempo. "Por que arriscar sua vida por estranhos?"

Ele ergueu os olhos, refletidos pelo fogo."Porque já fui um. E ninguém me salvou. Então decidi que, se tiver poder, usarei para impedir que outros sintam o mesmo vazio."

Ela o fitou longamente. "Você fala como alguém que já perdeu muito."

Lucius respirou fundo. "Perder é o primeiro passo para entender o que vale a pena guardar."

O fogo estalou. O silêncio que se seguiu não era pesado — era pleno.

Lá fora, o vento soprava suave, como se o mundo inteiro observasse aquele pequeno abrigo onde, entre cinzas e raízes, começava a germinar algo novo.

...

Os dias corriam tranquilos como o riacho que margeava a clareira.A guerra, por um instante, parecia uma lembrança distante, como um pesadelo dissipado ao amanhecer.

Lucius passava as manhãs em silêncio, treinando o corpo sob o sol nascente.Cada golpe, cada movimento, era calculado e contido — não havia pressa, apenas propósito.O Douqi fluía em ondas suaves, como o pulsar de um coração em harmonia com o mundo.

Ele respirava fundo, concentrando-se no centro do abdômen.O Douqi se condensava ali, denso, firme, como uma pequena chama dourada.Aos poucos, sentiu o limite de seu corpo ceder, a energia expandindo-se além das veias, dominando cada músculo com nova vitalidade.

Um calor percorreu-lhe o peito, e ele soube, instintivamente, o que havia acontecido.

Lucius havia atingido o nível 2 de Douqi.

O avanço não veio de fúria ou desespero, mas de disciplina e sintonia.Para ele, a força não era algo que se conquistava — era algo que se compreendia.

Mais tarde, sentado à beira do riacho, observava a correnteza.A água fluía sem cessar, mas o que realmente chamava sua atenção era o modo como ela obedecia ao curso do solo.Ali, sob o véu da natureza, ele sentiu algo diferente — uma presença constante e silenciosa que mantinha tudo em seu lugar.

"É o que impede o mundo de se desfazer..." murmurou.Ele fechou os olhos e sentiu o peso do próprio corpo, o peso do chão, o peso da montanha ao longe.

"Gravidade..."

Não era apenas um conceito — era uma força viva, sutil e inescapável.A mente de Lucius se expandiu, e com ela o poder mágico que dormia dentro de si despertou em resposta à percepção.

Estendeu a mão.Concentrou o poder elemental da Terra que sentia ao redor, tentando imitá-la.O ar ao seu redor pareceu ficar mais denso.Uma pequena pedra, pousada sobre sua palma, pesou mais do que antes — o suficiente para o surpreender.

Ele riu suavemente. "Interessante... então posso controlar o peso do mundo."

Por alguns minutos, continuou a experimentar, aumentando e reduzindo a intensidade do campo ao redor.Nada explosivo, nada espetacular. Apenas precisão — a marca de sua alma poderosa.Onde outros magos desperdiçariam poder, Lucius moldava o espaço com economia e elegância, como um escultor que conhece o valor de cada golpe.

Friaren, que o observava de longe, se aproximou."Você descobriu algo novo, não foi?"

Lucius assentiu."Sim. A gravidade. Uma manifestação do elemento Terra.Ela não destrói... apenas sustenta. É a força que mantém tudo unido."

Friaren sorriu de leve."Parece algo que combina com você. Silencioso, mas inevitável."

Lucius devolveu o sorriso."Talvez. E se ela puxa tudo para baixo... então a usarei para subir."

Ela o observou curiosa. "Subir?"

"Sim," disse ele, erguendo-se. "Vou usar a gravidade para treinar meu corpo.Se o mundo quer me empurrar ao chão, então o deixarei fazer isso — até que o chão também precise de força para me segurar."

Mais tarde, quando o crepúsculo tingia o céu de laranja, Lyara apareceu, carregando lenha.Ela o viu treinando sob o peso invisível da magia — o ar ao redor tremia, e cada movimento parecia custar o dobro do esforço.

"Você... está se punindo?" perguntou, arqueando uma sobrancelha.

Lucius olhou para ela, ofegante, mas tranquilo."Não. Estou aprendendo com o mundo. A força dele é imparcial.Se quero me tornar mais forte, preciso compreendê-la."

Lyara o observou por um tempo, silenciosa, antes de se sentar nas pedras próximas."Na minha tribo, dizíamos que a força vem da dor.Mas a dor que você busca... parece diferente."

Lucius a encarou."Dor é apenas o preço da mudança. O que importa é o que vem depois."

Ela sorriu, cansada, mas sincera."Você fala como um velho sábio, mas ainda é só um garoto."

Ele riu levemente. "Um garoto com muitos anos guardados na alma."

Naquela noite, enquanto todos dormiam, Lucius olhou para o céu estrelado.O vento sussurrava entre as árvores, e o som do riacho parecia o bater ritmado de um coração distante.

Ele ergueu a mão e murmurou:"Gravidade... força da Terra... do corpo... e da alma.Se é isso que mantém o mundo unido, então quero aprender a sustentar o meu próprio."

Uma brisa leve percorreu a clareira, como se o universo tivesse ouvido e aprovado.

...

O amanhecer chegou lento, envolto em uma neblina dourada que cobria o vale como um véu.A clareira, silenciosa, exalava o aroma de terra úmida e orvalho fresco.Lucius estava de pé, os olhos fechados, o corpo imóvel como uma rocha.

A energia mágica fluía dele em círculos invisíveis, sutil, mas constante.Em torno de seus pés, o chão parecia respirar, afundando e se erguendo em um ritmo quase imperceptível.

Era a gravidade respondendo à sua vontade.

"Cinco vezes o peso do corpo..." murmurou, suando. "O suficiente para sentir, mas não para quebrar."

O esforço era visível — os músculos tensionados, a respiração firme, a mente focada.O treino gravitacional havia começado.

Ele não lutava contra o peso — aceitava-o.Cada passo era um pacto silencioso com o mundo: resistir, mas nunca negar a força que o pressionava.

Friaren observava de longe, sentada sobre uma pedra.Nas mãos, um pequeno caderno onde ela registrava palavras, pensamentos e símbolos."Ele molda o próprio corpo como um artesão molda o barro," pensou. "E o mundo é o forno."

Aurus deitava-se próximo, a cabeça repousando sobre as patas, os olhos brilhando como brasas em meio à sombra.O lobo emitia um rosnado baixo, não de ameaça, mas de sintonia — como se o ritmo do coração de Lucius e o dele estivessem se ajustando.

Lyara se aproximou, segurando um balde de água."Você vai acabar se esmagando, garoto," disse com um meio sorriso, colocando o balde ao lado.

Lucius abriu um olho e respondeu, ofegante mas calmo:"Se eu aguentar o peso do mundo hoje, amanhã ele parecerá mais leve."

Ela o observou, cruzando os braços."Sua teimosia é quase poética."

Lucius riu, endireitando-se lentamente."O corpo precisa entender o que é cair, para saber o que é levantar."

Quando terminou o treino, o sol já se erguia sobre as copas das árvores.Lucius lavou o rosto no riacho, e ao se virar, encontrou Lyara o esperando com uma expressão séria.

"Quero aprender," disse ela.

"Aprender o quê?"

"O Douqi."

Lucius a encarou em silêncio por um momento.O olhar dela não tinha hesitação.Não era desejo por poder — era uma promessa.

"Por quê?" perguntou.

"Porque já perdi tudo uma vez," respondeu ela. "E se o destino quiser tirar o que me resta, que tenha de lutar por isso."

Lucius assentiu, com respeito."Então comece com a respiração.O Douqi nasce quando o corpo entende o próprio ritmo.Não tente comandá-lo — apenas escute."

Ele a guiou para o centro da clareira, onde o chão era firme."Feche os olhos. Sinta o sangue correndo. O calor do sol na pele.Agora imagine o ar que entra... e o que sai.Não force. Apenas... sinta."

Lyara seguiu as instruções, hesitante no início, depois mais confiante.A respiração tornou-se profunda, constante.Lucius caminhava ao redor dela, como um instrutor paciente.

"Agora, concentre o fluxo.Imagine a energia descendo do peito para o abdômen.Deixe-a girar como um pequeno redemoinho."

A aura dela começou a vibrar levemente, uma cor âmbar tênue envolvendo o corpo.Lucius sorriu."Você conseguiu sentir, não foi?"

Lyara abriu os olhos, surpresa. "É... quente. Vivo."

"Esse é o começo.O Douqi não é fogo, mas queima.Não é vento, mas se move.Não é luz, mas ilumina."

À tarde, enquanto ela praticava, Lucius descansava sob a sombra de uma árvore, Friaren ao lado.Ela folheava o caderno, escrevendo devagar.

"Você é um bom professor," disse.

Lucius ergueu uma sobrancelha. "Ou apenas paciente demais."

"Não," respondeu Friaren, sorrindo. "É diferente.Você ensina como quem lembra do que já foi esquecido.Como se cada lição fosse uma lembrança, não uma descoberta."

Lucius pensou um pouco antes de responder."Talvez seja isso mesmo.A alma... guarda o que a mente esquece.E quando o corpo aprende algo novo, é como se ela apenas... se lembrasse."

Friaren o olhou, o sorriso mais brando."É por isso que admiro você, Lucius.Não pela força, mas pela forma como você olha para o mundo — como se tudo fosse digno de ser compreendido."

Ele desviou o olhar, envergonhado. "Você fala como se eu fosse mais sábio do que sou."

"Você fala como alguém que esquece que ainda é uma criança," retrucou ela, divertida.

Lucius soltou uma risada leve."Talvez sejamos crianças... com o peso de adultos demais nas costas."

Ao entardecer, Lyara finalmente sentiu o primeiro fluxo verdadeiro de Douqi.Foi sutil — um tremor interno, uma fagulha quente percorrendo-lhe o peito.Ela abriu os olhos, surpresa, e olhou para Lucius, que apenas acenou com a cabeça.

"Você deu o primeiro passo."

Ela sorriu, cansada, mas orgulhosa.As gêmeas, brincando com Friaren, correram até a mãe e abraçaram suas pernas, sem entender o que havia acontecido, mas felizes por vê-la sorrir.

Lucius olhou aquela cena e sentiu algo profundo dentro de si — algo que ia além da força.Talvez, pensou ele, o poder não fosse um fim, mas uma forma de proteger aquilo que dá sentido à existência.

Mais tarde, enquanto todos dormiam, Aurus se levantou silenciosamente.Os olhos brilhavam em tom prateado, refletindo a lua.Ele olhou para Lucius, deitado sob a árvore, e uma aura negra e profunda percorreu seu corpo por um instante.

O lobo deu um passo à frente, farejando o ar, e algo dentro dele respondeu — uma antiga lembrança, um resquício das almas que Lucius havia compartilhado.Não era hostilidade, mas reconhecimento.

Aurus ergueu o olhar para o céu e uivou baixo, o som ecoando suave pela floresta.Era o chamado de algo maior — o prenúncio do seu despertar.

...

O sol já se punha, tingindo a planície de tons dourados e cinzentos.O grupo havia parado em uma pequena clareira, próxima de um riacho que serpenteava entre pedras cobertas de musgo.Lucius estava sentado, o corpo imóvel, sentindo o peso da gravidade que ele mesmo impunha sobre si — um treino de resistência e controle.Friaren o observava com atenção, os olhos brilhando curiosos.

Depois de alguns minutos, ela finalmente falou:"Lucius... você sempre treina o corpo. E o poder mágico?"

Lucius abriu um leve sorriso e respondeu sem abrir os olhos:"O corpo é o alicerce, Friaren.Mas o poder mágico... é o vento que move as asas.Sem força, o voo não se sustenta; sem direção, ele se perde."

Ele se levantou lentamente, desfazendo a magia gravitacional, e se aproximou dela."Agora é a sua vez. Mostre-me o que sente quando tenta tocar o poder mágico."

Friaren se ajoelhou à beira do riacho.O som da água era suave, constante, e cada respiração dela parecia se sincronizar com o fluxo do rio.Ela estendeu as mãos, e pequenos traços de luz azulada começaram a dançar em seus dedos — as partículas elementares do mundo, respondendo à sua presença.

Lucius observou em silêncio por um tempo, até que falou com voz calma:"Sente isso? Essa vibração entre os dedos?É o mundo te respondendo.Não é força. É sintonia."

Friaren fechou os olhos."Sinto como se cada gota d'água estivesse viva... e cada partícula de ar tivesse algo a dizer."

"Então ouça-as," disse Lucius. "Mas não tente controlá-las.Deixe que venham a você, e apenas guie o caminho."

Ela respirou fundo.E o ar ao redor mudou.

As folhas nas árvores começaram a girar lentamente, e pequenas faíscas douradas surgiram — não eram de luz comum, mas de energia viva, pulsante.A aura de Friaren tomou uma coloração branca e azulada, lembrando o brilho distante de um relâmpago no horizonte.Lucius ergueu uma sobrancelha, intrigado.

"Relâmpago..." murmurou. "Ela nasceu com ele."

Friaren abriu os olhos, surpresa.As faíscas desapareceram de imediato, e o fluxo de mana cessou como se tivesse sido engolido pelo ar."Foi... foi isso? Eu fiz errado?"

Lucius sorriu e balançou a cabeça."Não. Você apenas tentou controlar o que nasceu para ser livre.O relâmpago não é um servo — é uma emoção viva.Se você tentar segurá-lo, ele vai fugir.Mas se você o entender, ele dançará com você."

Friaren olhou para o céu, onde as primeiras estrelas surgiam."Então... eu preciso sentir o que ele sente?"

"Mais do que isso," respondeu Lucius. "Precisa lembrar o que é ser relâmpago.Breve. Intenso. Livre."

Ela ficou em silêncio por um tempo, depois voltou a fechar os olhos.O ar voltou a vibrar, desta vez de forma mais suave, como um murmúrio.Pequenas descargas elétricas serpenteavam por suas mãos — sem descontrole, mas com vida.

Lucius sentou-se ao lado dela, cruzando os braços."O poder mágico é como a alma.Ele não é moldado pela força, mas pela clareza.Quanto mais puro for o sentimento, mais estável será a magia."

Lyara, que observava a distância enquanto cuidava das gêmeas, se aproximou."Ela parece... outra pessoa quando faz isso.Como se o mundo inteiro respirasse com ela."

Lucius assentiu."É o toque de uma verdadeira maga.Ela não luta contra o mundo — conversa com ele."

Friaren abriu os olhos novamente, com um sorriso leve."Eu consegui.Pela primeira vez... não senti medo da energia.Ela só... me ouviu."

Lucius sorriu."Então você deu o primeiro passo.A partir de agora, cada feitiço será uma conversa, não uma ordem."

A noite caiu por completo, e o grupo se reuniu em volta de uma pequena fogueira.O som do rio era o único ruído além do crepitar do fogo.Friaren olhava as chamas e disse com voz suave:"Lucius, por que você me ensina?"

Ele demorou um pouco para responder, olhando as estrelas refletidas na água."Porque ensinar é a forma mais pura de aprender.E você... me faz lembrar do que é ver o mundo pela primeira vez."

Ela sorriu, tímida."Então eu também estou aprendendo... a ver."

Lucius olhou para ela, depois para Lyara e as gêmeas adormecidas.O fogo dançava, e o vento parecia murmurar ao redor do grupo.Por um instante, o silêncio não era vazio — era pleno.

E naquele momento, sob as estrelas, o cultivo de Friaren havia verdadeiramente começado.

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