Fang Yan assentiu à ordem do Mestre Liang Hong com um brilho nos olhos. O perigo do livro não o assustava; pelo contrário, o segredo e a proibição só aumentavam seu valor. Com o volume lendário sob o braço, ele se retirou para os aposentos modestos que lhe foram designados, um quarto pequeno e limpo, uma melhoria drástica em relação à cela de ratos.
Sentado em sua nova cama, ele abriu o Registro da Técnica do Espírito Fantasma.
Inicialmente, a leitura era confusa. O livro não era um manual linear, mas uma coleção de diagramas arcaicos e ilustrações complexas. A maneira como o Qi e a energia espiritual deveriam ser manipulados parecia antinatural e torcida, um caminho que ia contra todos os princípios marciais ortodoxos que ele havia deduzido instintivamente.
Sua atenção foi subitamente capturada por uma ilustração em particular. Não era um diagrama de cultivo, mas um desenho de uma mulher. Ela era de uma beleza estonteante e etérea, algo que Fang Yan, vindo da fazenda e preso agora na sordidez da Seita, jamais havia imaginado. O realismo do desenho era assustador, quase como se a figura pudesse sair da página.
Ele estava fascinado, e o simples ato de contemplar a imagem desencadeou algo profundo e imprevisto.
O mundo ao redor de Fang Yan, seu quarto, a cama, a luz do sol que entrava pela janela... tudo se desfez.
De repente, ele não estava mais no quarto.
Ele se encontrou em um espaço branco, infinito e vazio. Não havia teto, chão, nem paredes, apenas a brancura pura que se estendia em todas as direções.
Ilusão?
Pós-vida por um veneno talvez por causa do rato?
Selamento e eu fui selado dentro do livro sem perceber?
Sua mente, afiada e prática, começou a gerar hipóteses, descartando-as com a mesma velocidade fria. No entanto, ele não demonstrou pânico. O caos era apenas uma mudança de cenário, e ele se adaptava a ele.
Ele continuou a "andar" nesse vazio. Foi então que as sensações físicas estranhas começaram.
Ele sentiu seus longos cabelos pretos, amarrados em sua trança habitual, ficarem ainda mais compridos, arrastando-se pelo nada. Em seguida, os fios caíram e ficaram brancos por um breve segundo, para então voltarem ao seu comprimento e cor originais, repetindo um ciclo estranho de crescimento e queda.
Ao mesmo tempo, ele sentiu uma leveza.
Não era a leveza da fraqueza, mas uma sensação agradável de desprendimento, como se o peso da Terra houvesse sido sutilmente diminuído. Ele sentia um fluxo suave, uma nova energia que mal ousava chamar de Qi ou força interna.
Enquanto caminhava, a realidade do espaço branco começou a se distorcer em um ponto à frente.
Lá estava: uma porta.
Era uma estrutura simples, feita de madeira escura e desgastada, um ponto de contraste grosseiro contra a vastidão branca. Ele a observou com interesse, a forma era comum, mas sua presença ali era totalmente ilógica.
Ele se virou e olhou para trás da porta. Era idêntica. Não havia lado de entrada ou lado de saída.
Interessante... uma porta em um espaço em branco.
Com a curiosidade fria de um cientista prestes a dissecar um organismo estranho, Fang Yan estendeu a mão. Sem hesitação ou medo do desconhecido, ele agarrou o batente.
Ele abriu a porta para entrar.
