lago de Lianhua permanecia cristalino mesmo após mil anos de silêncio. Nenhuma das pétalas que caíam das cerejeiras parecia envelhecer ali. Cada flor de lótus que brotava carregava uma cor diferente — e uma lembrança. Diziam que, se alguém ouvisse com atenção, o vento que sussurrava entre os galhos falava nomes esquecidos pelo tempo.
Yue Lin permaneceu imóvel, com a lança apoiada no chão e os olhos voltados para a linha onde o céu nublado encontrava o lago. Seu manto vermelho, tingido com o sangue da última guerra, continuava vivo como fogo. Ela era a última general da dinastia Qiyun — uma guerreira, uma lenda… e uma promessa.
Mil anos se passaram desde que ela perdeu Jun. Não em batalha, mas por um juramento que ultrapassava vidas. Jun não caiu pela espada inimiga, mas pela própria escolha — sacrificou-se para conter o selo do Dragão Celestial que, se libertado, destruiria os reinos. Com seu último suspiro, ele prometeu:
"Nos veremos sob a flor da guerra. Quando a cerejeira sangrar novamente, eu voltarei a ti."
Desde então, Yue retornava todos os anos àquele lago, onde o selo foi quebrado, esperando o reencontro. O mundo esqueceu seu nome, mas a terra lembrava — e a flor também.
Naquela manhã, as nuvens pesavam mais que o normal, e o vento trazia um frio familiar. Yue apertou os olhos. As águas começaram a vibrar, levemente. Uma flor de lótus dourada, que nunca surgira antes, abriu-se no centro do lago.
E então, ela ouviu. Um passo atrás de si.
— Você guardou o vinho, como eu pedi?
Ela se virou devagar. Seu coração parou por um instante. Lá estava ele — mais jovem do que ela lembrava, com olhos claros como a alvorada. A armadura se fora, substituída por um manto simples. Mas era ele. Jun.