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Chapter 34 - Meu Rei, Meu Deus

Ao chegar no pátio, Zhou estava cultivando, sempre lutando para romper o Estado Inferior, mas era algo impossível para ele no momento, encontrou um gargalo realmente problemático, mas faltava algo, alguma coisa do qual não conseguia descrever.

 

Isso porque havia uma série de fatores que lhe impedia de romper.

 

— O que você quer? — Perguntou Karion, ele não queria enrolação, foi direto ao ponto, sem qualquer respeito devido a posição de Zhou.

 

— Você é uma pessoa bem direta, hein? — Zhou forçou um sorriso, ele não estava querendo testar ninguém, muito pelo contrário.

 

O intuito da conversa não envolveria intrigas ou vingança, nem mesmo a respeito da humilhação de Aloise, ele também não pretendia ameaçá-lo por nada, afinal de contas, foi seu amigo quem o chamou para duelar, Zhou na verdade estava preocupado que Karion pensasse assim e também tentou ser direto.

 

— Você e sua irmã me deram calafrios assim que cheguei aqui... — Esse momento foi seguido por um silêncio, Zhou permaneceu imóvel, encarando o homem em sua frente, esperando por alguma reação.

 

Aquela presença assustadora ainda estava marcada em sua mente, ele pensou que sua vinda até o círculo das pequenas famílias não seria nada demais, apenas um mero passeio para ver crianças lutando por suas admissões e ambições futuras, lembrando de seu velho tempo.

 

Karion preferiu o silêncio, percebendo isso, Zhou observa os arredores e avista uma parede natural de pedras.

 

O Pátio do fundo da Mansão Allberion possuía algumas vegetações e nas extremidades havia uma enorme Laje de Pedra, caminhando até ela, Zhou a observou por uma fração de tempo e desferiu um leve golpe de mãos fechadas, porém seu punho não encostou, e a dita pedra se partiu em milhares de lajes pequenas, criando uma cratera enorme em seu meio.

 

— No início eu pensava que tudo era poder, depois descobri as técnicas, a encontrar as veias e pontos fracos... causar um enorme estrago desses com apenas um mero golpe era algo impossível para mim até um tempo atrás, ver pontos fracos, veias ou brechas é como ver as linhas que montam um quebra-cabeça, um mero movimento e tudo desmorona...

 

Afetar e ver pontos fracos era a arte de sua técnica principal, uma técnica que poucos conseguem utilizar, isso devido a uma certa limitação.

 

Enquanto estava perdido em sua Filosofia de ensinamentos, Karion o interrompeu de forma abrupta: — O que você quer me dizer com isso?

 

Era nítido em seu olhar, Karion estava totalmente desinteressado no tópico do assunto, mas prosseguiria, ele sabia que esse não era o real motivo de Zhou ter lhe chamado.

 

— Eu não vejo pontos fracos em você.

 

Treinado para ver e destruir pontos fracos, a aguçada visão de Zhou era diferente dos demais, alguns enxergavam linhas, outros enxergavam pontos, veias e aqueles como Zhou, que apesar de não ser forte aos olhos da seita, possuía uma visão cheia de cores, onde cada cor representava algo diferente e isso o tornava mais especial do que a maioria, pois de certa forma, Zhou também via a morte em alguns, uma espécie de ''Previsão''.

 

O Preto era a cor da Morte, o Branco a cor da Vida, normalmente visto em crianças, jovens, recém-nascidos e qualquer tipo de manifestação de energia viva e pura, o Verde representava a Saúde, o Marrom a Doença, o Amarelo significava coragem, o Laranja o Medo, o Cinza significava Preocupação, o Rosa significava o Amor, o Azul significava a Verdade, o Vermelho a Mentira, e o Lilás... representava a Fraqueza.

 

Pessoas com auras Brancas poderiam ter auras Marrons, significando estar doente, assim como também poderiam emitir aura Vermelha, demonstrando Mentiras. No geral, uma pessoa comum emitia vários tons de cores, e cada uma tinha um significado, e todas elas, seja boa ou má, tinham algo em comum, Fraqueza!

 

A manifestação dessa cor se assemelha a um borrão com linhas e pontos, representando a dita fraqueza, quanto maior era a intensidade da cor, mais alta era a fraqueza, quanto menor a intensidade cor, menor era a fraqueza. Havia uma diferença entre linhas e pontos de fraqueza, linhas representavam um alto teor de fraqueza, enquanto pontos representavam um ponto determinado de fraqueza.

 

— É? Quer descobrir do porquê? — Um sorriso se abriu em seu rosto, Karion estava disposto a contar a verdade? Ou era apenas um blefe?

 

Zhou de repente sentiu uma pontada em sua mente, ele havia acabado de passar por isso com o Chefe da Família Allberion, seria coincidência? — Eu adoraria se me contasse, apesar que acredito em méritos, não mereço saber... por enquanto, dito isso, também acredito que ninguém deva contar as suas conquistas, falhas e muito menos as nossas fraquezas.

 

Ao que parece não era isso o que realmente o interessava nessa conversa, os dois homens se encaravam com expressões sérias.

 

— Eu não vejo cores em você e nem em sua irmã...

 

Nesse momento Zhou observava atentamente a pessoa que estava à sua frente, apesar de ter ficado relutante em falar, ele o fez, pois precisava de respostas ou ao menos uma mera informação.

 

O que deixava Zhou pensativo era do porquê Karion possuir tanto poder, a humilhação que ele fez Aloise passar naquela luta, as palavras do chefe do Círculo Familiar, tudo isso ainda estava impregnado em sua mente, ele precisava fortemente de uma resposta, haviam questões preocupantes nesse meio termo.

 

Talvez Karion possuísse relações com uma raça maldita, a muito tempo esquecida. A raça dos Demônios Superiores até então selada pela Divindade Ancestral possuía métodos de acobertamento, o que possibilitou sobreviventes livres entre os Seres Humanos. Entre as raças livres, períodos de paz foi alcançado devido a benevolência da Divindade, no entanto, houve sobreviventes entre os Demônios e eles se multiplicaram rapidamente, a Divindade Ancestral já havia partido quando isso ocorreu, e as forças de elite do Grande Mundo não se atreviam a entrar no Domínio dos Demônios devido as poderosas formações e também as complexidades da entrada para o Reino, mas através de um método desconhecido, descobriu-se que os Demônios estavam cada dia mais rompendo os selos dos Demônios Superiores, era de conhecimento geral no mundo até a uns anos atrás, por mais que ainda restassem Demônios pela terra, os mais poderosos estavam selados, mas não por muito tempo, como todo selo, até mesmo o selo de uma Divindade teria seu limite e isso era uma grande preocupação para o mundo. Os Demônios não descansariam enquanto a vida existisse, era esse o propósito deles, nada mais do que extinguir toda a vida. Durante a Era da Grande Guerra, milhares de anos no passado, os Demônios com seus poderes avassaladores extinguiram dezenas de raças, e as duas raças predominantes no mundo atual, Humanos e Elfos também caminharam lado a lado para a extinção.

 

Não é para menos que as maiores forças do Grande Mundo pós-colapso tentam de todas as maneiras, aumentar seu poderio militar. Era uma luta contra o tempo, ou todos estariam fadados a extinção.

 

Pelo mundo afora, sempre haviam pessoas ou ao menos o que se pareciam ser pessoas, lutavam de todas as maneiras para libertar os Grandes Demônios, esses grupos eram chamados de Seitas Demoníacas, haviam certas variações, mas todos possuíam a mesma raiz, e essa era uma das grandes razões do mundo em montar e fortificar uma Aliança Global, criada para um único propósito, o extermínio dos Demônios e Seitas Demoníacas.

 

Se a sua habilidade não funcionava em Karion, então havia uma grande chance de ele ser um aliado de Seitas Demoníacas ou mesmo ser um Demônio, bem diferente do que Netay propôs de sua imagem, uma figura que ameaçava todo o Grande Mundo, que baboseira é essa? Somente a Divindade poderia fazer algo assim, também é dito que até mesmo os Estados Intermediários poderiam ameaçar toda a vida de um mundo, em todo caso, Zhou levou em conta a sua própria interpretação, dito isso, estava disposto até mesmo a entregar sua vida para revelar a posição da raça Demoníaca, gravando e enviando todas as informações necessárias através de seu dispositivo entregue pelo seu pai, apesar de tudo é claro, Zhou mantinha uma certa compostura de defesa para caso Karion o atacasse.

 

Os métodos da cultivação Demoníaca traziam enormes avanços de poder, porém a sanidade e a consciência eram consumidas aos poucos, acredita-se que a alma é totalmente manchada pela Energia Demoníaca, sendo tirada das engrenagens da reencarnação, ou o chamado Ciclo de Reencarnação (Conhecimentos e teorias deixados pelas existências acima do Estado Inferior antes do Colapso dos Portais).

 

— Você quer saber disso?...

 

Sorrindo de forma desleixada, era como se Karion estivesse zombando de Zhou, afinal ele queria apenas uma resposta sincera, no fundo, Zhou torcia para que ele estivesse errado a respeito disso, pois suas expressões, comportamentos e a energia que exalava de si não demonstrava se tratar de um adorador do Demônio, entretanto, ainda assim, havia uma curiosidade em relação ao seu poder, seria técnica? Seria algum Mestre Desprezado? Ou então ensinamentos de um Grande Mestre? Se esse era o caso, por receber auxílio de um Grande Mestre pessoalmente, Karion não era qualquer artista Marcial e tudo seria apenas um falso alerta.

 

Ainda havia uma outra questão, problemática e grande questão, a qual assolava Zhou, mesmo seu mestre sendo do Estado Inferior, ainda possuía cores, cores essas que nem mesmo Zhou sabia se existia ou qual o significado, até mesmo aqueles Monstros acima do Estado Inferior possuíam essas cores, já que o mesmo presenciou pessoalmente, quando um Mestre Ascendente desceu dos céus a 20 anos e reuniu um grupo de pessoas para leva-lo consigo. Esses dois irmãos de pequenas famílias nem mesmo possuíam um único traço de cor, ele estava enlouquecendo? Sua técnica estava em decadência? Ou esses dois realmente eram alguma coisa?

 

— Seu irmão mais novo... o garoto, ele possui cores... por que vocês dois não? Me responda! É inconveniente para você? — Zhou apertou firmemente o dispositivo em suas mãos.

 

— Você quer mesmo saber?

 

Ao ouvir essa voz medonha, Zhou enlouqueceu, aquela aparência, aquela figura que ele viu era mesmo esse homem. Depois a segunda figura também emergiu ao seu lado.

 

Seus olhos encheram-se de lágrimas, boquiaberto, sangue escorreu de sua boca, de seu nariz, ele também vomitou, se ajoelhou, ele também gritava por socorro, gemia de dor, mas ninguém o escutava, ele também viu todas as suas lembranças passar diante de seus olhos, todo medo, toda preocupação, todo amor, todo tipo de sentimento, e em momentos de desespero, aquilo em sua frente se abaixou e o disse:

 

— Não seja curioso, as vezes pode matar, não brinque com a sorte, pois com ela sempre vem o azar, isso já lhe ocorreu algumas vezes, não é?... que pena, o grau de sua curiosidade, sua sanidade, a própria limitação do seu pensamento não conseguiria enxergar sequer milímetros de mim, aliás... não veria. — Aquilo se ergueu, virou o rosto e observou o Horizonte, novamente encarou a pobre alma agonizante em sua frente e continuou: — Seu próprio conceito de visão, consciência, é apenas uma mera linha que o segura, enxergando somente o seu conceito de extensão.

 

Aquilo desapareceu logo após, Zhou estava jogado aos prantos no chão, estirado, agonizando, e uma voz emergiu em sua cabeça, dizendo:

 

— Se você realmente quer saber de tudo, ajude Zefren, ele entrará para a seita nesse torneio, acompanhe-o, e se for necessário, tire sua própria vida por ele e como um espirito prestes a reencarnar... descobrirá sobre toda a verdade que tanto anseia, dou-lhe minha palavra.

 

Os olhos de Zhou estavam arregalados nesse momento, não foi meramente palavras, foi como a própria Verdade pregando a Lei, em transe, ele se levantou, permanecendo imóvel por algum tempo, o lugar estava um silêncio absoluto, nada podia ser ouvido, nem mesmo o cantarolar dos insetos, logo então encarou o céu e vagarosamente disse:

 

— Sim... Meu Rei... Meu Deus.

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