— Haha, se fosse fácil, não valeria a pena... — Kenji respondeu, com um brilho feroz nos olhos.
— Ei, velho Toshiro, aprendi que nada que vale a pena neste mundo vem fácil. Então, se for pra ficar forte, não me importo de me ferir no caminho. Afinal, tenho pessoas que contam comigo.
Toshiro cruzou os braços, com uma expressão séria.
— Nesse caso, vamos começar... seu treinamento. Afinal, você só tem três meses, não é mesmo, garoto?
— Três meses para quê? — Kenji perguntou, com cara de quem não entendeu nada.
— E parece que você perde a memória quando luta, não é? — Toshiro respondeu, balançando a cabeça. — Sente aí que eu vou te contar tudo que aconteceu.
Depois de contar toda a história do que ocorreu, junto com Yuna, Kenji ficou pensativo, refletindo sobre tudo que ouvira.
— Só tenho uma pergunta, senhor Toshiro.
— Desembucha aí, moleque. O que tá passando nessa cabeça vazia? — Toshiro respondeu, já impaciente.
Kenji se aproximou e chamou Toshiro para cochichar em seu ouvido.
— Ela disse que é uma competição em equipe de três pessoas, não é? Então, deixa eu te contar um segredo...
Assim que Toshiro chegou perto, Kenji gritou no ouvido dele:
— SE É UMA COMPETIÇÃO DE TRÊS, COMO VOU LUTAR SOZINHO, SEU VELHO GAGÁ?!
— SEU ANIMAL COM CARA DE GENTE! EU DISSE QUE VOCÊ VAI PODER LUTAR COM ATÉ DUAS PESSOAS TE AJUDANDO, FAZENDO UMA EQUIPE DE TRÊS! VOCÊ, ALÉM DE BURRO, É LERDO? — Toshiro gritou de volta, irritado com a burrice de Kenji. — Sinceramente, acho que seria mais fácil treinar um cachorro do que você.
— Agora sim você explicou direito, velho... — murmurou Kenji, cabisbaixo.
— Bom, você tem alguma ideia de alguém pra lutar comigo no torneio?
— Na verdade... não conheço ninguém. Acho que você vai ter que se virar sozinho — Toshiro cruzou os braços.
Kenji sentiu o peito apertar. Seus olhos ficaram marejados, mas ele tentou disfarçar o desapontamento.
— E se eu encontrar alguém para me ajudar no torneio, você aceitaria que essa pessoa participasse do treinamento?
— Se você encontrar alguém idiota e suicida o suficiente pra te ajudar, não vai ter problema nenhum — Toshiro manteve os braços cruzados.
Kenji olhou para Yuna, esperançoso.
— Aliás, Yuna, você não vai me ajudar nos desafios de batalha contra os demônios?
Yuna gaguejou, visivelmente desconfortável.
— E-eu? Eu nem sei atirar direito naquele troço que meu pai achou nas ruínas, quem dirá participar dessas batalhas de brutamontes de vocês!
— Então só me resta tentar falar com Ryota. — Kenji estava desapontado.
Ele tentou contato com Ryota, mas não obteve resposta. A preocupação começou a crescer.
O que Kenji não sabia era que, naquele momento, Ryota estava tendo uma discussão séria com seu pai em casa.
O pai de Ryota estava prestes a ser enviado para longe, a serviço dos demônios. Eles o queriam no norte, por ser talentoso na forja de armas, e por precisarem de sua habilidade para uma possível batalha.
— Pai, já estou sem mãe por causa desses malditos — disse Ryota, firme. — Não suportaria ficar sem você também.
— Idiota... — respondeu o pai, olhando com pesar. — Eu sei disso. É justamente por você que estou indo. Acha mesmo que eu gostaria de te deixar aqui? Eu amava sua mãe, assim como amo você. E é por isso que trabalho para eles: para que não te tirem de mim, como tiraram sua mãe.
— Mas, pai, eu posso ajudar — Ryota insistiu. — Eu me tornei forte justamente para isso.
— Sinto muito, meu filho, mas você ainda não é forte o suficiente — disse o pai, com tristeza.
— Mas, pai!
— Sem “mas”! Não quero ouvir nada disso! — cortou o pai, virando as costas para encerrar a discussão.
Indignado, Ryota saiu de casa para esfriar a cabeça.
Ele foi até os campos das fazendas próximas, onde a grama verde e o céu aberto sempre lhe traziam paz.
Enquanto admirava a paisagem, sua mente se acalmava... até que algo chamou sua atenção.
Um demônio vinha em alta velocidade em direção à fazenda que ele observava.
O coração de Ryota se encheu de raiva.
— Por quê? Por que vocês insistem em tirar tudo que é importante para mim? Tiraram minha mãe... Tentaram tirar meu amigo... E agora querem tirar meu pai também?
Ele fechou os punhos, os olhos ardendo em fúria.
— Eu não vou permitir isso.
Sua tristeza deu lugar à determinação.
— Vou me vingar de todos vocês. Demônio ou deus, quem quer que tenha feito mal a este mundo, vai pagar.
Com o coração tomado pelo ódio, Ryota desceu o campo em direção à fazenda, certo de que aquele dia seria o início de uma batalha decisiva.