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Chapter 3 - Capítulo 2 — O Despertar dos Sete Elementos

O sol nascente tingia a floresta de dourado.Lucius acordou com o som das folhas dançando ao vento — um sussurro suave, mas constante.A noite havia sido fria, e Friaren dormia recostada no tronco de uma árvore, envolta em um manto rasgado.

Ele observou-a por um momento.Havia nela uma calma quase desconcertante, um tipo de aceitação silenciosa do mundo — algo que, de alguma forma, o fazia querer entender o que significava "viver" de verdade.

Lucius desviou o olhar para o céu.As nuvens se moviam lentamente, e ele sentia nelas uma vibração sutil.Era como se algo o chamasse — não com voz, mas com presença.

Desde a noite anterior, desde o instante em que absorvera a alma do mago sombrio, percebia o mundo de forma diferente.Os sons tinham camadas.O vento tinha ritmo.E o próprio ar parecia pulsar junto com sua respiração.

Friaren acordou sem dizer nada, como se apenas abrisse os olhos e voltasse à vigília eterna em que vivia."Você está inquieto", murmurou ela, com voz rouca."Estou... sentindo algo", respondeu Lucius."Algo?"Ele hesitou. "O mundo."

Ela o encarou brevemente e depois soltou um leve suspiro."Se for o mundo que eu conheço, não vale a pena sentir."

Lucius sorriu. "Talvez o mundo mude se alguém sentir o suficiente."

Ela arqueou uma sobrancelha. "Você fala como um velho.""Talvez eu só tenha ouvido muitos deles."

Friaren o observou mais alguns segundos, mas não respondeu. Havia aprendido, em poucos dias, que Lucius raramente dizia coisas sem peso — e que às vezes o silêncio era mais sábio que as perguntas.

Mais tarde, enquanto exploravam a floresta em busca de frutas, Lucius parou diante de um pequeno lago.A superfície era lisa como vidro, refletindo o céu nublado.Ele ajoelhou-se e mergulhou a mão na água fria.

Um arrepio percorreu seu corpo.Não de frio — mas de conexão.

Ele podia sentir os fluxos.A água reagiu a seu toque, formando ondas circulares que se expandiam até desaparecer.Era como se o lago tivesse consciência.

Lucius fechou os olhos e se concentrou.Aos poucos, percebeu algo mais: o ar se movendo, a terra vibrando, o calor invisível do fogo adormecido nas pedras, a luz sobre a superfície e as sombras que dançavam sob ela.

Mas havia uma sétima presença.Sutil. Rápida.Um brilho que corria pelas veias do mundo — o relâmpago.

Ele o sentia nas nuvens, nas árvores, até dentro do próprio sangue.Era o ritmo da vida em movimento, o poder que unia o instante e o eterno.

Quando abriu os olhos, uma faísca azulada percorreu seus dedos.Ela desapareceu rápido, mas foi real.Lucius sorriu."Então é isso. O relâmpago não espera. Ele é o próprio momento."

Friaren, que observava de longe, se aproximou."O que você está fazendo?""Descobrindo o que sou.""E o que é?" perguntou ela, sem ironia."Ainda não sei. Mas acho que o mundo está tentando me contar."

Nos dias seguintes, Lucius dedicou-se a entender essa nova sensação.Ele percebia os elementos não como forças separadas, mas como vozes dentro de um mesmo coro.O fogo ria.A água sussurrava.O vento chamava.A terra escutava.A luz o guiava.As trevas o testavam.E o relâmpago... o desafiava.

Ele começou a treinar.Sem mestres. Sem livros.Apenas com as lembranças que haviam se fundido em sua alma — lembranças de guerreiros e magos mortos, transformadas em reflexos instintivos.

Quando movia o corpo, sentia a postura de espadachins antigos.Quando respirava, lembrava os cânticos dos magos das academias.Tudo era natural, como se cada gesto já estivesse gravado em sua essência.

"As memórias não são apenas lembranças...""São caminhos deixados por aqueles que vieram antes."

Essas palavras ecoavam dentro dele cada vez que treinava.

Certa noite, durante uma tempestade, Lucius decidiu testar algo.Ele e Friaren haviam se abrigado em uma caverna rasa. O som dos trovões fazia o chão tremer.

Lucius caminhou até a entrada, deixando a chuva fria encharcar suas roupas.Ergueu a mão para o céu.Fechou os olhos e respirou fundo.

As nuvens rugiram.E então, ele sentiu.

Não a eletricidade, mas o poder antes do raio.O instante em que o ar se divide, em que o universo decide liberar energia.

"O relâmpago é a decisão do mundo."

Quando a primeira descarga caiu, o brilho envolveu tudo.Um relâmpago atingiu uma árvore a poucos metros.Lucius sentiu a energia atravessar o solo — e a conduziu com a alma.

O corpo não queimou.A alma não rompeu.Ele apenas... entendeu.

Por um segundo, foi parte do raio.E no instante seguinte, estava de joelhos, ofegante, o coração disparado.

Friaren correu até ele."Você ficou louco?!"Lucius riu, ainda tremendo."Talvez um pouco."

Ela o encarou, meio furiosa, meio confusa."O que foi isso?""Um teste.""De quê?""De fé."

Friaren cruzou os braços. "Você fala como um sacerdote.""Não." Lucius levantou o olhar. "Eu só tento conversar com o mundo."

Na manhã seguinte, o céu estava limpo.Lucius, sentado sobre uma pedra, meditou.Dentro de sua alma, visualizou sete núcleos girando em harmonia:

🔥 Fogo — o impulso.💧 Água — a calma.🌪️ Vento — a liberdade.🌍 Terra — a firmeza.☀️ Luz — a esperança.🌑 Trevas — o entendimento.⚡ Relâmpago — a vontade.

E no centro, unindo todos, estava sua alma — o espaço espiritual que absorvia e refinava tudo.

Lucius percebeu que a força da alma não era limitada por níveis.Poderia expandi-la infinitamente, mas decidiu impor a si mesmo uma regra:jamais absorver a totalidade de uma alma.

Ele aprenderia a guardar fragmentos, memórias purificadas, experiências valiosas — para um propósito futuro.Ele ainda não sabia qual, mas sentia que o destino o levaria a compartilhar aquilo com outros humanos.

"Os fortes devoram.""Os sábios preservam."

Ele escolheria ser o segundo.

Ao entardecer, Friaren se aproximou enquanto ele observava o pôr do sol."E então, gênio", disse ela, com um raro tom brincalhão, "o que descobriu hoje?"Lucius sorriu. "Que cada elemento tem uma lição.""E o relâmpago? O que ele te ensinou?"

Lucius olhou para o horizonte.O sol tocava a linha das árvores, e por um instante, o mundo parecia respirar junto com ele."Que a vida é um instante entre dois trovões", respondeu. "E que o poder de mudar está nesse instante."

Friaren ficou em silêncio, mas seus olhos — sempre frios — brilharam discretamente.Talvez, pela primeira vez, ela acreditasse que o mundo ainda podia ter algo de belo.

Lucius fechou os olhos.Dentro de sua alma, os sete elementos dançavam em equilíbrio.E naquele equilíbrio, o universo sussurrou:

"O poder não está em controlar os elementos...""Mas em compreender o que eles querem ensinar."

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