Li Wei acordou em um suor frio, o lençol de seda enrolado em suas pernas.
A imagem estava vívida, quase palpável: um campo de batalha cósmico. Estrelas explodiam em um fundo de puro vácuo. No centro, havia um ser. Cabelos brancos como a geada do ápice da montanha, caindo em cascatas sobre armadura escurecida, com mechas pretas que pareciam absorver a luz.
Os olhos, no entanto, eram o que mais o aterrorizava: um vermelho profundo, o tom exato do sangue fresco, mas com a frieza de um sol moribundo.
Ele não era a vítima; ele era a fonte da destruição. E esse ser... era Li Wei.
O sonho durou apenas um instante, mas a sensação de poder absoluto e destruição cósmica permaneceu. Ele viu a si mesmo, daqui a talvez quinhentos anos, de pé sobre o que parecia ser o Mundo Imortal em ruínas.
"Quinhentos anos? Impossível. Meu caminho não será tão longo," Li Wei murmurou, a frieza voltando rapidamente ao seu semblante. O que quer que fosse, era um vislumbre do futuro que ele mal podia compreender, mas que, ironicamente, não despertou medo, apenas uma curiosidade fria.
Mais tarde naquela manhã, Li Wei dirigiu-se ao Pavilhão do Dao. Este era o arquivo de conhecimento da Seita da Névoa Escura, guardado por formações simples e por um Ancião decrépito.
Seu objetivo principal era encontrar textos que abordassem falhas raras de Núcleos Espirituais, buscando uma maneira de fortalecer seu Nível 3 sem se expor a um perigo letal em batalha.
No meio de pilhas de pergaminhos sobre técnicas de Espada e fórmulas de Pílulas de Purificação (que Li Wei já dominava), ele encontrou um compêndio empoeirado, quase esquecido: "Anomalias de Qi e a Forja do Corpo".
Folheando o texto, ele ignorou a maioria das advertências e maldições sobre "cultivo desequilibrado" e focou nos diagramas.
A fraqueza do meu Núcleo não é a qualidade, mas a estabilidade e a quantidade. Se eu não posso lutar abertamente, eu devo forçar o Qi a se expandir de forma não convencional.
Ele parou em uma seção proibida, marcada com um talismã de sangue quase apagado. A técnica era chamada "Cultivo do Refino Tóxico".
A filosofia era simples e brutal: usar a própria toxina (venenos de baixo grau ou medicamentos desequilibrados) para estressar os meridianos, forçando o corpo a se purificar e absorver mais Qi para se defender. Isso fortalecerá o Núcleo no processo, tornando-o mais resistente.
"Brilhante. Uma técnica de veneno e dor. Exatamente o que eu esperava," Li Wei sorriu de forma quase imperceptível. A dor seria intensa, e o risco de morte, alto, mas para um gênio que controlava a alquimia e a neurociência da Terra, era um risco gerenciável. Ele não precisaria mais esconder sua fraqueza. Ele a transformaria em uma arma.
Enquanto se dirigia à seção de histórias antigas, Li Wei ouviu sussurros. Eram dois discípulos de Nível 4, ambos recém-recrutados para a facção de seu pai, Li Kuang. Eles estavam tensos, olhando para os lados.
"Você tem certeza? Isso é... proibido. O Mestre da Seita nos punirá se for ouvido."
"Silêncio, seu tolo! É apenas uma história. Meu bisavô, que era um guarda do Palácio de Jade, me contou antes de morrer. Apenas um mito, mas é por isso que ninguém ousa tingir o cabelo de branco..."
Li Wei parou e se escondeu atrás de uma estante alta de rochas espirituais, ouvindo com a concentração de um caçador.
"...Foi há milhões de anos. O ser era conhecido apenas como o Demônio Celestial do Sangue Rubro."
O outro discípulo estremeceu. "O quê? Aquele que quase destruiu os Nove Reinos? O que tem ele?"
"Ele não era humano. Dizem que ele tinha a forma de um cultivador, mas com uma aura... diferente. O que o marcava, o que causava o terror de todos, eram seus cabelos de neve e seus olhos de sangue."
O primeiro discípulo continuou, sua voz baixa e cheia de medo: "As Seitas Imortais da 1ª Categoria fizeram um juramento, uma Lei de Aniquilação. Qualquer ser nascido com a combinação de cabelos brancos e olhos vermelhos é uma aberração, uma manifestação do Demônio. Eles devem ser caçados e executados imediatamente, sem perguntas. É o maior segredo do Mundo de Cultivo."
Li Wei sorriu em sua escuridão. O cabelo branco e os olhos vermelhos. A imagem de seu pesadelo.
"Então, é por isso que o Mestre da Seita de Jade proibiu até mesmo o tingimento branco. O medo é real. Eles acham que um demônio pode renascer," o segundo discípulo sussurrou, aterrorizado.
Li Wei saiu de seu esconderijo. Os dois discípulos congelaram ao verem o "gênio" ali.
"Jovem Mestre Li Wei! Pedimos perdão, não sabíamos que o senhor estava aqui. Não estávamos falando de nada importante, apenas rumores tolos."
Li Wei, sem expressão, olhou diretamente para eles. Seus olhos não demonstravam julgamento, apenas uma análise fria e vazia.
"Rumores tolos podem ser mortais. O medo é um solvente poderoso para a lealdade," Li Wei disse, sua voz monótona e autoritária.
Ele acenou com a cabeça para o pergaminho em suas mãos. "Concentrem-se no cultivo. Deixem as lendas para os Ancestrais. A mediocridade não se importa com lendas."
Ele saiu do Pavilhão do Dao. Os dois discípulos ficaram aliviados, mas Li Wei não os estava poupando por bondade. Ele não se importava que eles tivessem violado a regra do segredo.
Ele estava absorto em seus próprios pensamentos.
Demônio Celestial do Sangue Rubro. Cabelos brancos e olhos vermelhos. Uma aberração. Uma aniquilação.
Que patético.
O sorriso gelado de Li Wei se aprofundou. O Demônio Celestial era a destruição, mas ele, Li Wei, seria a Lei Absoluta que governaria sobre as cinzas.
O gênio da Terra se tornará mais cruel que qualquer lenda de demônio. E o mundo imortal, que tanto teme esses símbolos, os verá reencarnar na forma de seu próprio carrasco.
O "Cultivo do Refino Tóxico" exigiria venenos. E Li Wei sabia exatamente onde o Ancião Feng guardava seus suprimentos mais perigosos antes de seu "acidente". O caminho para o poder, mesmo com um Núcleo fraco, estava agora claro.